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No Rio, produtora diz que foi estuprada por PM em Copacabana

Produtora cultural afirmou á polícia que agente foi a sua casa e cometeu o crime - Getty Images/iStockphoto
Produtora cultural afirmou á polícia que agente foi a sua casa e cometeu o crime Imagem: Getty Images/iStockphoto

De Universa

30/08/2020 12h01

A polícia militar do Rio de Janeiro apura denúncia de estupro que teria sido cometido por um agente do 19º BPM (Copacabana) contra uma produtora musical em Copacabana, na Zona Sul, na última segunda-feira (24). O caso foi relatado pelo jornal "O Globo", e está sendo acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo a publicação, a vítima se envolveu em uma discussão com uma vizinha, no último dia 17, e as duas foram conduzidas para a delegacia.

"Ainda na viatura ainda, ele falou: 'Esse pessoal de Mesquita veio fazer confusão em Copacabana?' e eu perguntei se ele me conhecia, ao que ele respondeu que conhecia todo mundo. Estranhei, mas a partir daí, ele conseguiu acesso a minha documentação e aos meus dados", relatou a produtora.

Uma semana depois, o policial voltou ao apartamento da vítima dizendo que precisava falar com ela. Logo que o PM entrou no local, ela descreve, começou a fazer perguntas e pedir informações de seus vizinhos. Em seguida, ela conta que ele começou a tirar a roupa dela, lamber seu pescoço, tocar seu seio com força e lhe penetrar com a mão:

"Acho que ele queria extorquir alguém, pois ele pedia contatos de vizinhos que ele supunha que tivessem dinheiro. A minha amiga que me acompanhou na viatura, uma semana antes, é filha de ex-bicheiro, e ele pedia o contato dela. Ela, na verdade, não tem dinheiro. O pai faleceu há anos, e ela vende quentinha. Mas a medida que eu falava que não tinha informações sobre meus vizinhos, ele tirava minha roupa e usava da força dele. A minha voz foi sumindo. Mas certa hora eu consegui falar que tinha um namorado policial, o que é mentira, e que o meu prédio gravava imagens. Foi quando ele parou e saiu da minha casa."

Vítima entrou em contato com PM após crime

Vídeos de câmera de segurança do prédio mostram quando o PM chegou e saiu do prédio, sempre de cabeça baixa. No momento em que o policial deixa o edifício, o porteiro teria chamado por ele, mas o agente não parou para dar atenção. A jovem conta então ter ligado para a amiga que a acompanhou no dia da ocorrência anterior.

As duas começaram a procurar no celular números de ligações que não tinham sido atendidas durante a semana, por serem desconhecidos, até que em uma delas, ao checar a foto no aplicativo de mensagens, aparecia o rosto do policial, acusado de tê-la abusado. Ela diz ter entrado em contato com ele, propondo manter em segredo o ocorrido, para evitar confusões, desde que o ato não se repetisse.

"Fiz isso para me proteger, enquanto a minha amiga me arrumava pra gente ir à delegacia", diz, criticando o atendimento que recebeu na 12ª DP (Copacabana). "O tempo todo eles fizeram pegadinhas para me testar e ver se eu estava mentindo. Toda vez que eu reconhecia ele, trocavam de foto. Aquilo para mim foi muito humilhante. Eles me perguntaram muito sobre minha vida financeira e como eu conseguia pagar meu aluguel em Copacabana. Tive que dar meu número de registro no Ecad, provar que tenho CNPJ, mostrar a carteirinha do sindicato, para ser ouvida. Como mulher, você tem que provar que não é prostituta. E se for, não presta e tem que ser estuprada?".

Ela conta ainda ter pedido a reimpressão de seu depoimento três vezes, após constatar informações registradas de forma incorreta ou incompleta pelos policiais, todos homens, que lhe atenderam.

"Me perguntaram se eu tinha vínculo empregatício e eu falei que trabalhava por obra cultural, mas resumiram escrevendo: 'não trabalha'. Então eu tive que falar: 'vou te explicar de novo. Existe um sindicato que me regula, e eu trabalho por obra, como muita gente'. Aí ele me perguntou como eu trabalhava em plena pandemia, e eu expliquei que as lives e outras atividades da produção musical estavam acontecendo", lembra.

A produtora foi conduzida ao Instituto Médico Legal (IML), que atestou "vestígios de ato libidinoso da conjunção carnal", por "ação violenta contundente". Mas a descrição de que estaria com os pelos da genitália "raspados" a incomodou.

"Eu fui então até a rede em que faço minha depilação, que procurou meu contrato anual para provar que eu não estava depilada para a ocasião. Eu não tenho pelos pois faço depilação a laser. É um absurdo, mas eu estou tendo que provar tudo, e não ele. Hoje, eu que vivo na condição de presa, na casa de amigos, com medo. Não ele."

Em nota, PM diz não compactuar com desvios

Universa procurou a assessoria de imprensa da polícia militar, que em nota informou ter aberto um inquérito para apurar as circunstâncias do fato, e que "o referido policial presta serviços administrativos no batalhão enquanto responde ao IPM. Ressaltamos que a Corporação, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros.", finaliza o texto.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputada Renata Souza (PSOL), informou a Universa que a produtora está em local seguro.