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RJ: PM suspeito de estupro em Copacabana está solto; vítima deixa a cidade

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio

31/08/2020 11h19Atualizada em 31/08/2020 20h21

O PM suspeito de estuprar uma produtora cultural dentro da casa dela - um apartamento em Copacabana, na zona sul do Rio -, teve a prisão preventiva solicitada pela corporação junto à Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, o agente continua solto, tendo sido afastado apenas do trabalho das ruas.

A PM informou na tarde de hoje que o policial havia sido preso administrativamente, mas Universa apurou que a detenção durou apenas três dias. Em nota enviada à reportagem, a PM informou que foi aberto um inquérito policial militar (IPM) "e que não compactua e pune com o máximo rigor desvios de condutas cometidos por seus membros quando constatados os fatos".

O caso ocorreu no dia último dia 24, o que obrigou a vítima a sair do Rio após denunciar o caso à PM e à Polícia Civil.

A vítima, que não terá o nome revelado, disse que o policial chegou à sua casa usando como pretexto uma ocorrência anterior que ocorreu no prédio - uma briga de vizinhos. Segundo ela, ele se identificou na portaria do prédio e subiu até o apartamento da vítima. Lá, ele teria perguntado sobre vizinhos e depois imobilizado a mulher, passado a mão no corpo dela e introduzido os dedos nas partes íntimas dela.

De acordo com ela, o ato só foi interrompido após o telefone dele tocar e a vítima dizer que era namorada de um PM e que o prédio contava com sistema de câmeras.

Após denunciá-lo, a vítima saiu de casa às pressas com medo de represálias.

"Gosto da impunidade", diz mulher

PM sai do prédio onde mora produtora cultural no Rio; ela o acusa de tê-la estuprado - Reprodução - Reprodução
PM sai do prédio onde mora produtora cultural no Rio; ela o acusa de tê-la estuprado
Imagem: Reprodução

"Ele certamente agiu com certeza de impunidade e achou que eu não fosse uma pessoa esclarecida. Ele utilizou a instituição para me violentar, veio na minha casa como servidor público, se utilizou de uma ocorrência anterior para isso, se ausentou do trabalho dele de servir a sociedade para vir aqui", disse a mulher a Universa.

"Eu não quero criminalizar a instituição, quero responsabilizar o meu agressor e para isso a PM precisa admitir o que houve. Há o meu exame médico feito no IML que apontam a violência, há imagens do circuito interno do prédio que mostram ele chegando tranquilo e indo embora de cabeça baixa. O porteiro chega a chamá-lo e ele não responde, só vai embora. Há um livro de visitas na portaria que menciona o nome dele e a hora que ele esteve aqui. Eu não posso ficar presa e ele em liberdade", concluiu a vítima.

Imagens do circuito interno de TV mostram o PM no prédio. Ele se identifica ao porteiro, sobe pelo elevador enquanto um segundo PM permanece na portaria do edifício.

Medidas de proteção

A advogada da vítima, Bárbara Muniz, cogita pedir medidas de proteção à cliente para garantir a segurança dela.

"Ela [a vítima] está com muito medo e vamos tentar uma medida protetiva, mesmo fora do âmbito da Lei Maria da Penha, por conta da vulnerabilidade social dela e por conta do crime ter sido cometido por um agente de segurança", informou a advogada à reportagem.

A mulher ainda passou por constrangimentos na hora de denunciar o crime ao Batalhão da PM.

"Eles [os PMs que colheram o depoimento] me perguntaram como eu tinha dinheiro para morar na Avenida Atlântica [orla de Copacabana], perguntaram como eu pegava as minhas contas, o motivo pelo qual deixei o PM entrar, tentavam fazer pegadinhas na hora do reconhecimento do policial por foto. Quem tem que ser questionado é ele, não sou eu."

O que diz a PM e a Polícia Civil

Procurada, a PM informou que a vítima foi prontamente atendida e que "o acusado foi preso administrativamente e foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM), já tendo sido solicitada, inclusive, a prisão preventiva do policial junto à Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro (AJMERJ)".

"Ressaltamos que a corporação, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros quando constatados os fatos.

Após ser questionada pela reportagem sobre a prisão do policial, a corporação refez o comunicado enviado à imprensa e informou que "após o período inicial em reclusão, e diante do pedido já encaminhado à esfera judicial, o policial segue respondendo em liberdade e afastado do serviço nas ruas".

Já a Polícia Civil comunicou que não ocorreram dificuldades no atendimento da vítima "que foi prestado de forma adequada diante da seriedade que as acusações da vítima exigem".