Topo

Jovem vira modelo após 12 anos escondendo vitiligo: Uso manchas a meu favor

A modelo Larissa Sampaio Lima - SouzaArt/Divulgação
A modelo Larissa Sampaio Lima Imagem: SouzaArt/Divulgação

Simone Machado

Colaboração para Universa

01/09/2020 04h00

Usar apenas calças compridas e blusas de mangas longas e cobrir o rosto com camadas reforçadas de base, corretivo e pó eram algumas das maneiras encontradas por Larissa Sampaio Lima, 18, para se proteger do preconceito.

Portadora de vitiligo - doença caracterizada pela perda da coloração da pele-, Larissa passou 12 anos tentando camuflar suas manchas. Mas, há pouco mais de um ano, a jovem moradora de Brasília deixou todos esses disfarces de lado, assumiu sua beleza natural, virou modelo e vem ajudando outras pessoas a enfrentarem a doença.

Larissa relata que sua primeira mancha, sinal da doença, apareceu aos cinco anos de idade e foi notada depois que ela feriu o joelho. "Depois da cicatrização, a pigmentação da minha pele não voltou, ficou branca", diz. "De início, isso não me chocou porque era uma manchinha pequena e dava para esconder. Mas, quando foram surgindo mais manchas no meu corpo, o vitiligo começou a me afetar."

Ganhava apelidos como dálmata e café com leite

Foi na época escolar, dos 10 aos 14 anos, que a modelo relata mais ter sofrido bullying. Os olhares curiosos e cheios de preconceito aconteciam na rua, no ônibus e dentro da sala de aula.

"Eu percebia que as pessoas olhavam meio torto. E, na escola, tive diversos apelidos como dálmata e café com leite. Chegava em casa chorando. Algumas mães não deixavam seus filhos brincarem comigo por medo de que a minha doença fosse contagiosa [o vitiligo não é contagioso]", diz Larissa.

O caminho até a autoaceitação foi longo. Na adolescência, Larissa passou a esconder as manchas com grossas camadas de maquiagem. Para isso, madrugava todas as manhãs.

"Eu acordava às 5 horas para dar tempo de me arrumar e esconder as manchas. Se eu me levantasse atrasada, me maquiava dentro do ônibus. Isso tudo para parecer apresentável para as pessoas e elas não ficarem me olhando. Os olhares das pessoas machucam. Você sabe quando estão te olhando e julgando", diz a jovem.

Ainda segundo Larissa, todo o preconceito ajudou a agravar a doença. "O vitiligo é agravado pelo emocional. Por isso, eu não posso ficar triste, ansiosa ou nervosa. Isso faz com que ele aumente e piore", explica. Traumas emocionais podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam a doença, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia.

"Me assumi. São as manchas que me tornam única"

A história da jovem que por 12 anos tentou esconder sua doença e teve vergonha de suas manchas começou a mudar em 2018 ao ser descoberta por uma agência de modelos.

"O dono da agência viu uma foto minha na rede social, disse que eu era bonita e me desafiou a parar de usar maquiagem", conta. "Ele disse que eu tinha uma beleza diferente e que deveria usar isso a meu favor. Foi aí que eu passei a me assumir e fiz as pazes com o espelho."

O rosto, que era coberto por camadas de maquiagem, agora sai limpo. E as roupas longas deram lugar a fotos de biquíni. Além de fazer campanhas fotográficas, Larissa também desfila em eventos de moda.

"Aprendi a me amar do jeito que eu sou e a usar as minhas manchas a meu favor. São elas que me tornam única", diz.

Devido à pandemia do coronavírus, os desfiles de que Larissa costumava participar estão suspensos. Mas, segundo a jovem, os planos da carreira de modelo vão continuar em breve.

Amar a sua diferença

Larissa usa suas redes sociais para falar da doença autoimune que por tanto tempo a fez sofrer. Em vídeos e textos, ela interage com as pessoas e busca encorajá-las a enfrentar os preconceitos.

"Meu maior sonho é ajudar pessoas com vitiligo a se aceitarem porque eu sei o quanto isso é difícil e o quanto a gente sofre. Acredito que a oportunidade de ser modelo foi um chamado para que eu possa levar essa autoaceitação para outras pessoas", diz.

"Sempre falo sobre ter amor próprio e, o principal, que cada um deve amar a sua diferença porque ela a torna única e faz parte da nossa identidade."

Larissa recebe dezenas de mensagens todas as semanas. A maioria é de mulheres que também têm a doença e encontram dificuldades para se olharem no espelho.

"Eu faço questão de ler todas, falar com essas pessoas e tentar passar algo bom. Algumas pessoas dizem que passaram a enfrentar a doença de maneira diferente depois que começaram a me acompanhar. É esse o meu objetivo. Ajudar as pessoas a enfrentarem suas doenças, seja ela o vitiligo ou alguma outra."