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Mães passam a ter nomes impressos em identidade de filhos, no Afeganistão

Privadas de muitos direitos civis no Afeganistão, só agora as mulheres vão poder ter seu nome impresso nos documentos dos filhos - Paula Bronstein/Pulitzer Center For Crisis Reporting
Privadas de muitos direitos civis no Afeganistão, só agora as mulheres vão poder ter seu nome impresso nos documentos dos filhos Imagem: Paula Bronstein/Pulitzer Center For Crisis Reporting

De Universa, em São Paulo

03/09/2020 15h55

Cidadãos do Afeganistão vão ter o nome da mãe — e não apenas o do pai — impresso em seus documentos de identidade. De acordo com reportagem do New York Times, esse é um passo para normalizar a presença pública de mulheres no país, tema que ainda é considerado tabu na sociedade afegã.

A nova regra foi divulgada pelo governo do país na terça-feira (1º), após anos de campanha de ativistas para acabar com a "vergonha" associada a nomes femininos em público.

A vitória, mesmo que simbólica, é vista como um pequeno impulso para o fortalecimento dos direitos das mulheres. O papel da mulher na sociedade afegã está em jogo, neste momento, em meio a negociações do governo com o Taleban pela divisão de poder.

Na década de 1990, quando esteva no poder, o governo islâmico do Taleban confinou amplamente as mulheres em suas casas e privou-as de direitos básicos como educação e emprego remunerado.

Atualmente, milhões de meninas podem frequentar escolas e universidades em todo o país, e as mulheres ocupam cargos públicos importantes. Mas ativistas dizem que a misoginia justificada pela religiosidade ainda é profunda, com a intimidação do Taleban contra as mulheres como símbolo de um problema mais amplo.

O tabu afegão sobre mulheres em público é tão profundo que jovens estudantes costumam entrar em brigas se alguém mencionar o nome de sua mãe ou irmã, um ato visto como uma desonra.

Em um país de guerras e viúvas, as mulheres — que são quase metade da população — lutam para se afirmar como guardiãs legais de seus filhos ou realizar transações comerciais em seu próprio nome, sem a presença de um homem.

Mesmo os túmulos da maioria das mulheres nunca incluem seus nomes, apenas os de parentes do sexo masculino.