Nome de esmalte recebe críticas nas redes: "Me beije, sou brasileira"
O nome dado a um esmalte se tornou nos últimos dias motivo de revolta de algumas brasileiras e reacendeu um debate sobre a visão estereotipada de estrangeiros sobre a sexualidade das mulheres nascidas por aqui. O alvo é uma das cores da coleção de esmaltes da marca americana OPI, que foi batizada de "Kiss Me I'm Brazilian" —ou "Beije-me, sou brasileira".
Apesar de o produto ter sido lançado em 2014, a marca chegou ao Brasil recentemente, e, na última semana, motivou a criação de uma petição — que já conta com mais de 10 mil assinaturas, pedindo para que a marca mude o nome do produto. O esmalte pode ser encontrado em lojas online no Brasil. Em nota, na quinta-feira (10), a empresa disse que retirou a cor do mercado global após as reclamações dos consumidores.
"Kiss Me I'm Brazilian": nome do esmalte
A coleção à qual o esmalte pertence é voltada a temas brasileiros e faz uso de trocadilhos sobre questões culturais brasileiras, como a Bossa Nova, e características que remetem ao imagem do brasileiro no exterior. "Um rosa dinâmico que transmite todo o calor e a receptividade do Brasil", diz a marca ao descrever o "Kiss Me I'm Brazilian".
Na coleção, há outras cores, como "Next Stop...The Bikini Zone" (traduzido, "Próxima parada... região do biquíni) e "Red Hot Rio" (Vermelho quente, em referência ao Rio de Janeiro).
No Instagram da OPI Brasil e no site oficial da marca, acumulam-se reclamações de brasileiras a respeito da perspectiva estereotipada que sugere a ideia de comportamento permissivo.
"É extremamente ofensivo", disse uma seguidora. "Uma vergonha, respeite nossas mulheres. Não ajude a propagar essa imagem", recomendou outra. "Fazer propaganda discriminatória e tendenciosa, colocando em esmaltes nomes de que brasileiras "são mulheres fáceis, 'usáveis' ou 'alcançáveis a qualquer um' é demasiadamente inaceitável", escreveu outra consumidora brasileira.
A autora da petição, a brasileira Carolina Pires, escreveu em inglês no documento sobre como o nome vai contra a luta das mulheres por respeito.
É inaceitável que em 2020 uma marca mundialmente conhecida como a OPI endosse o estereótipo errado da mulher brasileira. Essa é uma ideia contra a qual nós, brasileiras, lutamos há tanto tempo, não podemos deixar vocês contribuírem com o lado errado.
Objetificação e a visão no exterior
A objetificação da mulher brasileira é até hoje motivo de denúncia por aquelas que têm experiências no exterior. Muitos estrangeiros veem a brasileira como "fácil", "objeto sexual", baseados, entre outros fatores, na construção hipersexualizada dos corpos femininos na sociedade brasileira.
Recentemente, um grupo de brasileiras criou um perfil no Instagram e no Facebook, o "Brasileiras não se calam", para reunir depoimentos de quem foi vítima e lutar contra o assédio em outros países.
Os esmaltes da marca californiana custam em média R$ 39,50, mas o produto não consta do portfólio da loja indicada pelo perfil oficial da OPI no Instagram.
Marca se pronuncia
Em nota, a OPI lamentou que o "Kiss me I'm Brazilian" tenha causado constrangimento e explicou que o nome foi dado após pesquisa do time global, em Los Angeles, sobre os costumes brasileiros e que eles resolveram celebrar o hábito de nos cumprimentarmos com um beijo no rosto. "Um dos destaques foi o hábito de cumprimentar as pessoas com um beijo em cada bochecha, diferente do tradicional aperto de mão usado mundialmente. Por isso esse nome celebra a saudação brasileira."
A assessoria de imprensa da marca diz ainda que os nomes dos esmaltes são uma das assinaturas da OPI e que todas as tonalidades muitas vezes incluem jogo de palavras com o objetivo de levar alegria e diversão para as consumidoras.
No comunicado, diz que o DNA da marca é "lúdico e alegre, com a filosofia de nutrir e capacitar as mulheres" e que a empresa tem "um longo histórico de apoio a organizações que defendem a saúde da mulher, educação e anti-bullying, como Jewish Women International, City of Hope, Oceana, American Red Cross, Starlight, Project Hope, Pamper Me Rosa, Fundação Nacional do Rim, DKMS."
A assessoria comentou que "o objetivo da marca sempre foi, e continua sendo, celebrar as mulheres". "Em todo o mundo, a marca capacita mulheres, especialmente donas de pequenas empresas, a desenvolver seus negócios, sustentar suas famílias e viver a vida que desejam — 80% dos salões de manicure são propriedade de mulheres".
Em outro comunicado, disse que "escutou os consumidores e tomou a medida de retirar o esmalte Kiss me I'm Brazilian do seu portfólio global. A marca lamenta muito que o nome desse esmalte tenha sido considerado insensível e ofensivo, porque essa nunca foi a intenção".
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