RJ: Produtora cultural diz ter perdido trabalhos após acusar PM de estupro
A produtora cultural que denunciou ter sido estuprada por um policial militar dentro da sua própria casa, em Copacabana, na zona sul do Rio, foi afastada de trabalhos e estima ter deixado de ganhar R$ 8 mil desde que relatou o caso. Ao menos oito contratos da vítima foram afetados. A produtora, que terá o nome preservado, contou que as empresas e artistas para quem ela trabalhava deixaram de contratá-la por uma questão de segurança.
"Eu trabalho por prestação de serviço, nesta época de pandemia estava fazendo montagem de som, ajeitando fiação, e juntando tudo isso deixei de receber R$ 8 mil. Vários artistas contratam ex-PMs para fazer a segurança deles e de eventos, e por isso acharam que a minha presença poderia representar algum risco e resolveram não me chamar mais para os trabalhos", contou a produtora, em entrevista para Universa.
A produtora, que após denunciar o caso precisou sair do Rio por medo de represálias, contou que o aluguel do apartamento onde morava na Avenida Atlântica, rua da praia, está atrasado, assim como outras contas da casa.
"Não tenho dinheiro nem condições emocionais de ficar ali. Eu preciso pagar a rescisão do aluguel e também não tenho como. O contrato é de 30 meses."
Na tentativa de dar conta das despesas, a produtora fez uma "vaquinha" online. A vítima busca também um novo emprego fora da área de eventos.
Procurada por Universa, a Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores Compositores e Escritores de Música) que representa vários artistas e entidade na qual a produtora possui vínculo, não se manifestou sobre o caso.
Relembre a denúncia
A mulher relatou à Polícia Civil e ao Batalhão da PM de Copacabana que um policial militar fardado foi até seu apartamento no último dia 24, em horário de serviço, e a agarrou à força, passou a mão em seu corpo e introduziu o dedo em suas partes íntimas.
O policial utilizou como pretexto uma ocorrência registrada na semana anterior no edifício para subir até o apartamento da produtora. O PM esteve no prédio sete dias antes, após a polícia ser acionada para uma briga de vizinhos.
Imagens do circuito interno do prédio mostram o policial no local sendo anunciado pelo porteiro e entrando na casa da produtora. Um segundo PM que o acompanhava ficou aguardando na portaria.
Em depoimento, o policial acusado de estupro alegou ter ido ao local em busca de "quentinhas" e que não permaneceu mais de 3 minutos no imóvel. No entanto, o PM que o acompanhava e permaneceu na portaria, confirmou que aguardou o colega por 15 minutos no local e que depois desse tempo ainda utilizou o banheiro do condomínio que fica no subsolo do prédio.
O porteiro do prédio também confirmou em depoimento que o policial ficou pelo menos 30 minutos no imóvel.
O ato de estupro só foi interrompido após o policial militar receber uma ligação de um superior questionando o local onde ele estava.
Prisão Preventiva
O PM foi preso preventivamente no início de setembro, mais de uma semana após cometer o crime. Na decisão que decreta a prisão do militar, a juíza Ana Paula Barros, diz ser "evidente a necessidade de custódia cautelar do réu por conveniência da instrução criminal (...) e que uma vez em liberdade, pode o acusado dificultar a repetição das provas, intimidando a vítima, podendo incurtir-lhe medo, obstruir a obtenção de provas que possam elucidar os fatos."
A juíza disse ainda que o policial representa "riscos à ordem pública". O PM é investigado também por deserção - quando ocorre abandono de posto de trabalho e pode ser expulso da corporação.
Antes de ter a prisão preventiva decretada, o policial havia sido detido administrativamente por três dias e, depois de solto, foi afastado das ruas. A Polícia Militar informou que um Inquérito policial Militar foi aberto para apurar o caso.
A primeira audiência sobre o caso está marcada para o mês que vem.
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