Após bilhete contra casal gay, condôminos penduram bandeira LGBT na janela
Moradores de um condomínio em Joinville (SC) manifestaram apoio a um casal gay que recebeu um bilhete anônimo em tom recriminatório por andar de mãos dadas. Na mensagem, foi escrito que ali era um "local de família" e exigia "respeito". Além disso, o vizinho incomodado escreveu "essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento".
O bilhete foi deixado na porta do apartamento em 11 de setembro, mas o caso veio à tona dias depois. Ao saber da situação, o casal Fábio Rodrigues, 39 anos, e Geovana Colzani, 29 anos, decidiu pendurar uma bandeira LGBT na frente da cortina em sinal de apoio.
"Nós ficamos sabendo do que aconteceu quando o Charles, que é o síndico, enviou um áudio pela lista de transmissão de Whatsapp que todos os moradores recebem. Como muitos, ficamos surpresos e indignados! Então, a Geovana resolveu colocar sua bandeira LGBTQ+ pendurada por cima da cortina, em uma das janelas, com intenção de demonstrar ao Felipe, a quem escreveu o bilhete homofóbico e a outros moradores e moradoras que, assim como há preconceito, há também solidariedade e apoio no condomínio", explicou Rodrigues, que mora há pelo sete anos no local e nunca tinha se deparado com uma situação dessas.
Além deles, o maquiador recebeu mensagens de apoio de outros moradores e até de desconhecidos. "Eu fiquei absurdamente impressionado. Eu esperava receber apoio do pessoal LGBT e só. Mas recebi mensagens de muitas mães, pais. Senhorinhas de idade me mandando mensagem. Fiquei muito feliz", contou Alves para Universa.
Entretanto, as redes sociais também deram espaço a ataques homofóbicos. "Ah, tá. Dois bigodudos de mãos dadas dentro de um condomínio é para acabar, né? Aí tem crianças, seus mal acabados. Vão dar respeito a essas crianças. (...) Vão andar de mãos dadas no inferno", disse um internauta. "Eu sou a única que vou apoiar o morador. Me julguem. Tenho uma filha de 5 anos, e coisas assim causam confusão na mente da criança. Pronto falei", disse uma mulher.
O coordenador técnico do grupo Somos (Comunicação, Saúde e Sexualidade), Gabriel Galli, entende que é "argumento comum de preconceituosos" colocar dificuldades para explicar a uma criança o amor entre duas pessoas do mesmo sexo.
"Mas a realidade que vivemos não é esta. As crianças não veem maldade no amor, como os adultos muitas vezes fazem. O que me preocupa de fato é ver as crianças expostas à violência e ao ódio a todo o momento e ninguém fazer nada. Me preocupa que as crianças vivam em um país que é o que mais mata LGBTI+ no mundo, que é racista e machista e que esses pais e mães achem que isso deve continuar assim."
"Me preocupa ver o presidente do nosso país estimulando o preconceito e as pessoas achando isso normal, ver nossa ministra de direitos humanos querendo que uma menina de 10 anos que foi estuprada seja obrigada a ter o filho do seu estuprador, com direito a claque em frente ao hospital. Quem não luta contra essas coisas que está colocando nossas crianças em perigo", complementa Galli.
Entenda o caso
No bilhete, deixado por debaixo da porta, foi escrita a seguinte mensagem: "Olá vizinho. O Condomínio Piratuba é um local de família. Respeitamos todas as pessoas e não nos importamos com o que cada um faz dentro de sua casa.
Mas essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento. Respeito por favor", escreveu o vizinho, que não se identificou.
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