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'Estou sendo chamada de estupradora, de pedófila', diz ministra Damares

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, em cerimônia no Palácio do Planalto - Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, em cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

22/09/2020 13h55

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou hoje que está sendo chamada de "estupradora" e de "pedófila" devido à suspeita de interferência para impedir o aborto legal da menina de dez anos estuprada pelo tio no Espírito Santo. A declaração foi dada em entrevista para a rádio Gaúcha um dia após reportagem da Folha de S.Paulo revelar que ela agiu nos bastidores para impedir que a criança fosse submetida ao procedimento.

"Sempre que puder salvar as duas vidas, nós vamos lutar para salvar as duas vidas. É a minha posição. Vamos ler o que está por trás de tudo isso, vamos esperar os resultados das investigações. Vamos esperar. Inclusive eu estou sendo acusada de estupradora, de pedófila, que eu defendo pedófilo", disse Damares, sem revelar quem a estaria chamando de estupradora e pedófila.

Segundo a reportagem da Folha, Damares coordenou uma operação para transferir a criança de São Mateus (ES), onde ela vivia, para um hospital em Jacareí (SP), onde aguardaria a evolução da gestação e teria o bebê, apesar do risco. Para concretizar o plano, técnicos do Ministério e aliados políticos foram encaminhados à cidade para retardar a interrupção da gestação. Em uma série de reuniões, os responsáveis por conduzir o procedimento foram pressionados a retardá-lo — Damares chegou a participar de um desses encontros por videochamada.

Na entrevista, Damares voltou a negar interferência. "Eu não me envolvi nessa história como está todo mundo falando. A senhora conversou com o médico? Não. A senhora falou com o fulano? Não. Tudo que eu sei é pelo que eu estou lendo. Porque esse caso está sendo investigado, eu estou sendo investigada, minha equipe está sendo investigada e eu também pedi investigação. Tipo: quem pagou aquele avião para a menina ir para Pernambuco? Quem esteve na casa da menina? Foi só aquele grupo que não queria que a mãe abortasse ou teve outros grupos antes?", disse Damares.

Inicialmente, a menina faria o procedimento em um hospital de Vitória (ES), mas a instituição se negou a fazer o aborto, mesmo com autorização judicial. Por isso, ela acabou sendo transferida para um hospital em Recife. O local foi palco de protestos de grupos contrários e favoráveis ao aborto após a extremista de direita Sara Giromini —conhecida como Sara Winter— expor que a menina estava lá. O tio dela, suspeito do crime, acabou sendo preso em Minas Gerais.

Damares diz que Sara Winter não vazou nome

Ao ser questionada sobre o vazamento do nome da menina, inicialmente Damares defendeu a ativista extremista Sara Winter, mas depois recriminou a divulgação nas redes sociais feita pela ex-funcionária do seu ministério.

"Sara Winter trabalhou três meses aqui no Ministério e saiu em outubro de 2019. Pelo que Sara Winter falou, em sua defesa, o nome dessa menina estava rolando em diversos grupos - e ela tem como provar que recebeu o nome dessa menina muito cedo. Sara Winter gravou um vídeo, mas não foi Sara Winter que vazou. Esse nome já estava durante a semana vazado e é isso que eu quero descobrir. Sara Winter não podia ter gravado o vídeo dizendo o nome da menina, mas quem vazou esse nome? Eu quero saber quem vazou esse nome", disse Damares.

A ministra criticou a matéria da Folha, mas confirmou a presença de membros de sua equipe em reuniões na cidade da menina. "Meus dois técnicos tiveram três reuniões na cidade acompanhados do deputado Lorenzo Pazolini (PRP) e agentes públicos locais. Meus técnicos não estiveram sozinhos uma única vez. Chegaram na cidade, tiveram três reuniões com o deputado e voltaram. Aí fica todo mundo dizendo que eu fui lá para evitar um aborto".