Roupartilhar: leilão beneficente faz sucesso na quarentena e vira empresa
No começo da quarentena, preocupada com a chegada da Covid-19 ao Brasil, Natalia Hohagen, 24, queria ajudar as pessoas mais vulneráveis a superar a crise provocada pela pandemia, mas sem sair do isolamento. Ela aproveitou as férias coletivas do trabalho que tinha até então e mergulhou de cabeça em um projeto de moda que não só auxiliou muitas instituições como mudou o rumo de sua vida profissional.
"O Roupartilhar foi uma ideia que surgiu no começo da quarentena, em uma conversa informal com uma amiga, a Maria Chagas. Nós trabalhamos com moda e temos muitas amigas no meio. Surgiu então a ideia de criar um grupo no WhatsApp com amigas do mercado. Soltamos a ideia de desapegarmos de algumas peças do nosso acervo, promover um leilão online com as doações e destinar o valor para instituições nesse momento desafiador", conta Natalia.
Do emprego fixo para o próprio negócio
O primeiro estágio de Natalia foi como buyer (profissional que seleciona e faz a curadoria de peças de uma loja multimarcas) no OqVestir. Depois, ela trabalhou na NK Store e na renomada Valentino. "Quando me formei, recebi um convite para voltar para a NK como buyer, uma vaga que sempre quis. O meu trabalho sempre foi uma parte muito importante da minha vida. Como boa capricorniana, e eu nunca tive o sonho de empreender", conta.
Da ideia inicial entre amigas, foram realizados 4 leilões em três meses com mais de 90 colaboradores e mais de R$ 120 mil doados para 8 instituições parceiras. "Foi tudo muito rápido, mas ficamos tão felizes com a adesão e interesse de pessoas à nossa volta, que decidimos profissionalizar e tornar esse projeto de quarentena um business", explica Natalia.
Foi quando pediu demissão de um trabalho fixo que amava para empreender que Natalia percebeu a seriedade do negócio: "Eu amava o meu trabalho fixo, mas o leilão foi uma oportunidade que me fez crescer e me desenvolver muito. Não tinha como não optar por esse caminho. Não foi a escolha mais fácil do mundo, pensei e repensei muito ao tomar essa decisão, mas o melhor caminho é sempre o mais desafiador, e esse frio na barriga me motiva e muito".
O Roupartilhar não para de crescer. Em junho, rolou o primeiro leilão exclusivo com a NK Store, com cerca de 60 peças que foram leiloadas com lance inicial de até 90% off do valor de venda em loja. Foram mais de 220 lances e cerca de R$ 25 mil doados para a Santa Casa de São Paulo.
Em julho, foi lançada a plataforma própria do projeto onde são hospedados alguns leilões exclusivos com marcas grandes, como a Farm. Natalia frisa que está muito animada em expandir esse formato para novos modelos de negócio, mas sempre com esse viés beneficente por trás.
Além disso, ao construir sua empresa própria, uma de suas maiores preocupações é garantir que a cadeia como um todo seja justa e sustentável: "Muitas vezes esquecemos que, como consumidores, temos grande relevância sobre o comportamento das marcas. Hoje em dia não é mais um diferencial ser sustentável e inclusivo, é uma obrigação", diz ela.
"Acredito que procurar por marcas que tenham valores alinhados com os meus é primordial. Consumir - sempre com consciência - e apoiar pequenos designers que se preocupam com a cadeia produtiva, tanto sobre impactos ambientais como sociais. Consumir peças de segunda mão. E sempre priorizar a qualidade sobre a quantidade", elenca Natalia.
Como as peças são escolhidas?
Navegando pelo Instagram do Roupartilhar dá para perceber que a imagem de moda é muito importante no projeto. Natalia conta que a curadoria dos produtos que vão para o leilão é de peças nas quais ela acredita, que ela mesma usaria (algumas peças foram arrematadas por ela) e que tenham uma informação de moda relevante e estejam em bom estado.
"Além disso, temos um cuidado muito grande de marcas associadas à plataforma. Nosso intuito é promover uma moda mais diversa, e por isso, não faz sentido nos associar com marcas que não tenham os mesmos valores que nós", completa.
"As pessoas acham que a moda é apenas formada por tendências, passageiras e muitas vezes sem significado, e permitida apenas para um grupo seleto de pessoas privilegiadas. Isso é uma crença antiga, fruto de um mercado excludente que não tem costume e nem vontade de inserir diversidade, de trazer novos olhares para conversa. Na minha opinião, a moda é muito mais que isso, ela é política, ela é cultural, ela transborda inspiração e significância para a vida das pessoas", diz Natalia.
E aquela limpa no armário que muita gente fez durante a quarentena também rolou no da empreendedora: "Eu sempre gostei muito de consumir moda. Quando você trabalha nesse mercado é muito difícil não cair na tentação de estar sempre atualizada. Sentia que estava havia um tempo em modo automático, acumulando muita coisa e gastando muito dinheiro com coisas que não faziam sentido", é o diagnóstico feito por ela. "Com a quarentena, fiz o trabalho de olhar mais para dentro. Entender o que faz e não faz sentido para mim, fiz uma grande limpa no meu armário. Consumi moda sim, mas de designers independentes que acredito e queria apoiar nesse momento desafiador."
Pedimos para que Natalia dividisse com Universa 5 peças que ela adora do próprio guarda-roupa. As escolhas vão a seguir, com um aviso: "O meu armário é um grande misto de peças que tem memória afetiva, então escolher apenas cinco é realmente desafiador".
Bolsa de plumas Betina de Luca + Waiwai
"Sempre 'namorei' essa bolsa e quando ela foi doada para o nosso primeiro leilão sabia que teria que ser minha. Lutei até o último segundo por ela, e agora é uma das minhas peças favoritas e com maior significado", justifica.
Pulseira colorida
"Essa pulseira era da minha avó, uma senhora que sempre foi muito estilosa e apaixonada por moda. Um dia ela me ligou e disse: 'Nati, achei esse bracelete e acho que você vai amar, eu usava nos anos 70!' Não deu outra, é uma das peças que mais uso e tenho um carinho enorme. Daquelas que vou guardar para os meus filhos."
Ensemble vintage colorido de colecionador
"Esse ensemble é um amor novo. Eu gosto muito de me vestir com peças coloridas e encontrei essa peça em um brechó virtual e me apaixonei na hora. A peça é da Neiman Marcus dos anos 50. Um item de colecionador."
Kimono Quadro
"Muitas das minhas peças, por terem tanta memória afetiva, viram decoração. Tenho sapatos, chapéus e bolsas pendurados pelas paredes da minha casa. Esse kimono foi um presente que minha mãe trouxe de uma viagem para o Japão. Gosto tanto dele que enquadrei e deixo na minha sala. É um jeito bom de sentir minha mãe presente em muitos momentos comigo, mesmo morando longe."
Top Le Gandaya
"Gosto muito de apoiar a moda nacional, e acho lindo ver amigos triunfando e criando peças icônicas e incríveis. Esse top é da Le Gandaya, marca de uma grande amiga minha e é uma das peças mais icônicas que tenho no meu armário. Amo usar no dia a dia com jeans ou até com uma calça de alfaiataria para um casamento."
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