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Lizzo critica onda "body positive": "Ser gorda não é positivo, é normal"

"As pessoas para as quais este termo foi criado não estão se beneficiando dele", diz Lizzo, sobre o movimento da positividade coporal - TodaTeen
"As pessoas para as quais este termo foi criado não estão se beneficiando dele", diz Lizzo, sobre o movimento da positividade coporal Imagem: TodaTeen

De Universa

26/09/2020 14h49

A cantora Lizzo é conhecida por ser uma referência quando o assunto é autoestima e aceitação corporal, tanto pelas músicas que canta quanto pelas entrevistas que dá.

Na mais recente edição da revista Vogue americana, ela deu outra ela. Deste vez, falando sobre o movimento "body positivity", ou positividade corporal, expressão que tomou as redes sociais e consiste em exaltar a beleza do corpo natural, seja ele do jeito que for.

Para a cantora, porém, a campanha, disseminada em fotos e hashtags, não está alcançando quem realmente deveria alcançar. "As pessoas para as quais este termo foi criado não estão se beneficiando dele. Meninas com costas gordas, meninas com barrigas que balançam, com coxas que não são separadas, com estrias. Elas deveriam se beneficiar do efeito dominante da positividade corporal", disse a Vogue.

"[A hashtag está cheia de] garotas de estrutura menor, mais curvilíneas, muitas garotas brancas", afirmou. "Não estou nem aí para isso [o movimento], porque inclusão é a minha mensagem sempre."

Após a crítica, a cantora fala sobre uma nova perspectiva em relação à aceitação corporal. "Acho preguiçoso da minha parte apenas dizer que sou positiva com meu corpo. Eu gostaria é de ser normativa. Quero normalizar meu corpo. E não é só dizer: 'Olha, que movimento legal, ser gorda é ser positiva'. Não, ser gorda é normal", defende.

"Acho que agora devo isso às pessoas, não posso apenas parar por aqui. Temos que deixar as pessoas desconfortáveis de novo, para que possamos continuar a mudar. Mudar é sempre desconfortável, certo?", questiona.

"Body positivity" x "Body neutrality"

Há outra expressão para se contrapor ao movimento da positividade corporal: o "body neutrality", que circula nas redes sociais, pelo menos, desde 2019. E qual a diferença entre os termos?

Enquanto na positividade o destino final é estar descontaminado dos padrões de beleza que impedem pessoas de se amarem, na neutralidade, o fim é simplesmente não pensar no próprio corpo quando o assunto for autoestima.

Significa, na prática, que seu corpo é o que ele pode fazer, e não o que ele aparenta ser. A atitude vem como resposta às tendências de obsessão corporal adotada por mulheres, principalmente, que têm as vidas cada vez mais expostas em redes sociais. "A imagem corporal sempre foi questão nas sociedades pois, através desta, comunicamos e afirmamos as nossas diversas identidades", explica a psicanalista Seung Hae Shin*.

Olhando pelo aspecto positivo destes movimentos, a psicanalista avalia que a exaltação de minorias representativas como mulheres, gordos e homossexuais, dá origem a grupos que pretendem se fazer ouvir e criar seu espaço.

"Esses fenômenos, por um lado, ajudam os indivíduos na construção de suas identidades e lugar na sociedade, porém também criam inúmeras bolhas com estéticas bastante rígidas. O sofrimento com o corpo não é novidade nos consultórios. Talvez esteja mais cruel, pois com tantos recursos para transformá-los, a não-adequação muitas vezes aparece como um fracasso, um demérito", explica.

*com informações da matéria "Body neutrality: como é não gostar do próprio corpo, mas seguir adiante".