Luciana Vendramini faz 50 anos e lembra pânico em Vamp e TOC em Rei do Gado
Luciana Vendramini completa 50 anos em dezembro. Quem retoma a trajetória da atriz pode lembrar da capa da Playboy como Paquita em 1987, das novelas nos anos 1990 ou de papéis no teatro, como na peça "4:48Psicose", de Sarah Kane, criada a partir de uma depressão crônica.
Se o papel de musa parece contrastar com o interpretado no teatro, que centra a saúde mental, aí está um erro de interpretação -ao menos na carreira de Luciana. Os trabalhos da atriz, especialmente entre 1990 e 1997, foram permeados por sensações difíceis que na época pareciam ter ainda menos explicação: crises de pânico e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Tratada dos transtornos, ela enfrentou as dificuldades surgidas com a pandemia e o confinamento impostos pelo coronavírus de um outro lugar, quando, depois de quatro meses de quarentena, a ansiedade voltou a bater em sua porta.
"Agora sei como lidar, mas fazia muito tempo que ela não me visitava. Quando acontece, vou fazer meditação, uso técnicas de respiração. Ela tem batido uma vez por semana', diz Luciana.
"O mundo adoeceu e tínhamos que lidar com esse vírus desconhecido, com as perdas de pessoas queridas. Na minha família, três pessoas morreram", conta. "Fora o fato de não sair de casa por meses. Foi o gatilho para o mundo perceber que a gente precisa cuidar do nosso cérebro tanto quanto a gente cuida do nosso corpo numa academia."
Para sobreviver ao confinamento, diz que suas pedras de salvação foram consumir arte e produzir o podcast Retrogosto, sobre saúde mental.
Atualmente é possível vê-la também apresentando a série "Elas", na TV Cultura, da qual também é coprodutora e que presta homenagem às mulheres que marcaram o cinema brasileiro. Luciana ainda é dona de uma produtora de "branded-content" e prepara o lançamento de sua biografia, que está 80% pronta.
O trabalho no podcast ela encara como uma missão: não quer que outras pessoas passem pelo sofrimento e preconceito pelo qual passou.
Anos de tratamento
Durante as gravações de "Vamp", novela que foi febre no início dos anos 1990, Luciana começou a enfrentar crises de pânico. "Seu corpo muda, fica com calor e sua frio. Você treme, senta, se descontrola."
Mas, para a atriz, na época com 20 anos, isso era parte do amadurecimento. Crescer deveria ser assim, trazer essas questões existenciais. Ela só foi descobrir o problema quando, ao posar para uma sessão de fotos, o trabalho foi interrompido. E o problema não era com ela, mas com o fotógrafo. Foi a primeira vez que ouviu falar em síndrome do pânico. O que o fotógrafo relatou também a descrevia.
Em seguida, ela foi apresentada a uma nova situação psicológica -o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), distúrbio que costuma ser associado à repetição de rituais ou manias-- quando estava no fim das gravações da novela "O Rei do Gado", em 1997.
Foram anos e anos de tratamento terapêutico, até que Luciana aceitasse tomar a medicação adequada.
"Eram 24 horas de manias. Eu só tinha tempo de acordar, tomar banho e voltar a dormir. Era assim que se resumia minha vida: levava cinco horas para acordar, dez para tomar banho e umas seis para voltar a dormir."
Acordar com o pé direito é só um detalhe. Beijar a medalhinha de São Bento, ainda que não fosse religiosa, e esperar três táxis amarelos passarem antes de deitar eram alguns de seus rituais.
À irmã, Miriam, Luciana Vendramini diz que deve a vida. Foi ela quem foi de São Paulo para o Rio de Janeiro para cuidar da atriz na época de "Rei do Gado". Também era Miriam quem a levava e buscava em uma clínica-dia, já em São Paulo, local fundamental para que a atriz se recuperasse.
"Fiquei assustada e tive pavor quando a médica indicou. A gente vê aqueles filmes de manicômios e clínicas de psiquiatria e acha que é daquela forma. No passado, de fato foi. Esses lugares, no Brasil, eram depósitos de gente", diz. "Fiz meus pais prometerem que nunca me colocariam em uma clínica e me deixariam lá."
Curada ninguém está
A partir do trato, Miriam deixava Luciana na clínica no início da manhã e a pegava no fim da tarde. Lá, havia diferentes terapias e tratamentos o tempo todo, além de atividades comoargila, aquarela, caminhadas no parque Ibirapuera, nutricionista e, personal trainer.
"As atividades de lá me tiraram da rotina do TOC que estava me sufocando. Fiquei na clínica uns cinco meses. Depois, tive um momento de euforia, achando que estava bem. E, seis meses depois, tive uma queda grande por ter parado de tomar o remédio."
Luciana Vendramini diz não ter medo de recaídas. E afirma que já achou estar curada, mas um especialista a fez mudar de opinião:
"Um médico me alertou: 'Você está tratada, curada ninguém está'. Estou supertratada e me sinto muito bem", diz.
"Tenho certeza de que nunca mais vou ter TOC porque o que vivi foi uma faculdade. Então tenho essa tremenda confiança. Quando estou em momento de trabalho, de muita ansiedade, o TOC vem como um estresse que desencadeia uma mania de querer lavar as mãos o tempo todo", diz a atriz que hoje se mostra bem resolvida com a questão. "Mas sei controlar, vejo com humor: não lavo as mãos e sei que não tem nenhum problema eu não ir lavar."
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