Ela faz o divórcio dela: "recém-divorciada" faz ensaio de fotos e viraliza
Enquanto a maioria das pessoas encara o divórcio como um momento difícil e, principalmente, íntimo, a empresária maranhense Carol Dourado percorreu um caminho contrário: quis deixar bem claro o quanto estava feliz com sua conquista, depois de um longo e cansativo processo.
Na última quinta-feira, ela finalmente assinou os documentos para oficializar a separação no Fórum Desembargador Sarney Costa, na capital São Luis (MA). Em clima de festa, toda montada com vestido branco (a cor das noivas) e acessórios dourados, bem como a ocasião especial pedia, fez questão de registrar o momento em seu perfil no Instagram. A foto com a faixa "Enfim? DIVORCIADA" viralizou.
"Quis comemorar por estar muito feliz"
A ideia de festejar a separação veio de um insight, segundo a empresária de 29 anos. "Eu estava tão feliz, mas tão feliz de conseguir aquilo, que eu precisava comemorar. Foram dias e dias marcando o 'xizinho' no calendário para chegar à data da audiência de conciliação", relata, em entrevista para Universa.
Carol se casou em outubro de 2015. À época, não teve a sessão de fotos que muitos noivos fazem antes do casamento, os chamados pré-weddings - por isso achou boa ideia se presentear com um ensaio pós-divórcio, que ficou a cargo da fotógrafa Amanda Borges.
Para ela, trata-se de um marco em sua vida e, por isso, merecia celebração. "Quando a gente está muito alegre, quer comemorar, não é? Todo mundo se casa e comemora; todo mundo faz aniversário e comemora, por conta do rompante de felicidade que essas datas e momentos imprimem. Independente do motivo, quis extravasar essa felicidade, mostrar o quanto estou feliz, porque foi uma vitória", argumenta.
Casamento muito rápido
Carol se casou aos 24 anos. Tudo aconteceu muito rápido, também - conheceu o ex-marido em junho e, quatro meses depois, eles assinavam os papéis. Até tinha vivido outros namoros sérios e duradouros, mas nenhum foi de maneira tão avassaladora, como ela mesma descreve.
Não demorou tanto a identificar que vivia um relacionamento abusivo, o que aconteceu bem perto do primeiro aniversário da filha que tiveram - hoje a menina tem quase 3 anos e mora com ela. Na ocasião, houve uma grande discussão, com cena "desagradável", que ela hoje entende que não era normal.
"Mesmo assim, em todas as situações, eu me questionava muito, sempre achava que a culpa era minha e ficava pensando que, 'se eu não tivesse feito isso, ele não teria feito aquilo'", exemplifica.
Relacionamento abusivo
Olhando para o passado, Carol vê que sua relação foi abusiva desde sempre, inclusive antes do casamento, mas só se deu conta quando já não aguentava mais. "Foi abusivo do ponto de vista emocional, psicológico e, alguns momentos, financeiro, apesar de eu ter uma certa independência financeira", comenta.
A diferença de 17 anos de idade entre ela e o ex-marido e mulher pode ter contribuído, inclusive porque ela era muito jovem e não tinha o conhecimento de hoje em relação a empoderamento feminino, feminismo, machismo estrutural e patriarcado.
Segundo a maranhense, a vida a dois era algo do tipo "morde e assopra", ou seja, brigas um dia, "eu te amo" no outro. "E eu sempre era culpada de tudo, era a louca, a que não estava entendendo direito, a que distorcia todas as histórias. Às vezes, eu começava a falar sobre algo que não tinha gostado e acabava saindo da discussão pedindo 'desculpa, pelo amor de Deus', pois ele tinha um controle psicológico muito grande sobre mim", confessa.
Carol reconhece que ela mesmo demorou a aceitar a separação, de fato. "Foram uns seis meses vivendo um casamento em que eu não estava mais casada", lembra-se. O então casal até tentou algumas reconciliações, mas como não se acertava, ela resolver colocar um ponto final.
Foi um processo longo, desde a separação, em janeiro de 2018. Carol só deu entrada no divórcio em fevereiro deste ano porque esperava resolver tudo numa boa. "Esperei todo esse tempo todo para fazer o divórcio consensual, que era minha vontade, pois é tudo mais fácil e rápido de resolver. Mas ele protelou muito. Sempre havia uma desculpa, não podia ou estava muito ocupado. Então decidi não esperar mais a vontade dele. Falei: se ele não quer, eu quero. Corri atrás do litigioso porque, quando um não quer, dois não ficam, né?".
"Saí emocionalmente altamente abalada desse relacionamento. Fui fazer terapia, comecei a seguir pessoas que me inspiravam nessa questão do feminismo e empoderamento. Tem uma página no Instagram chamada "Mas ele nunca me bateu" que me ajudou muito, porque me segurei lendo os relatos das mulheres que estavam em relacionamento abusivo, mas que nunca tinha sofrido violência física, como foi o meu caso", diz.
Repercussão inesperada
A intenção de Carol, com as fotos festivas no dia do divórcio, era celebrar a conquista de forma mais íntima, com amigos próximos e pessoas que a seguem nas redes sociais e acompanharam todo o processo. Mas foi uma surpresa e tanto! "Até então, minha média era de 100 visualizações em um stories. Eu passei para 30 mil. Foi uma repercussão que realmente eu não esperava", afirma.
Ela conta que já militava pelo feminismo, contra o machismo e o relacionamento abusivo já tem um tempo e, por isso, tem tido muito retorno positivo após a postagem. Tem, é claro, feedback negativo - segundo ela, a maioria por parte de homens, que a chamam de louca e dizem que quem se livrou foi o ex-marido.
"Mas só dou atenção, leio e escuto áudios positivos. Me chamam de maravilhosa, mulheres que não me conheciam me dizem que eu as represento, que queriam ter feito a mesma coisa. Pedem minha faixa emprestada para tirar foto na rua. Já me mandaram prints das manas me defendendo. A sororidade me emociona muito", frisa.
O rebuliço todo trouxe outro motivo de felicidade para a recém-divorciada: dar luz ao problema vivido por muitas mulheres. "Estou conseguindo mostrar que a gente tem que debater isso sim, que não há vergonha nenhuma para as mulheres falarem que passam ou passaram por um relacionamento abusivo e que a culpa não é delas", frisa.
Carol quer, inclusive, promover rodas de conversa e apoio em sua empresa, que é um espaço colaborativo criativo. A ideia é compartilhar experiências e envolver até quem não esteja em um relacionamento abusivo, para que saibam identificar prontamente um abusador. "É hora de usar a visibilidade para o bem", defende.
Aliás, a comemoração da empresária ainda não chegou ao fim. As fotos foram só uma parte da celebração pessoal. Carol quer realizar uma festa no dia 31 de outubro, ainda sem nome definido - deve ser "Despedida de Casada" ou "Baile da Divorciada". Será em seu espaço comercial, na litorânea de São Luis.
Quando o assunto é o coração, Carol não tem dúvidas sobre o que espera de um próximo relacionamento: "Que seja uma pessoa que me respeite, que me trate com o respeito que eu mereço. Não vou aceitar nada menos do que isso", afirma.
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