Vai ter criança preta na história, sim
Representatividade é uma tremenda injeção de autoestima. Quando a gente enxerga nas outras (ou nos outros) características e comportamentos nossos, nos sentimos menos sozinhas e mais incluídas na sociedade em que vivemos.
E a literatura ou o cinema são um terreno ideal para experiências assim. Especialmente quando se trata de minorias representativas, ou seja, de grupos de pessoas que, embora sejam numerosos, não conseguem se enxergar na sociedade, inclusive nas obras de ficção. Ou, pelo menos, não conseguiam.
Nos últimos anos, têm ganhado força produções com personagens negras que têm ou não temática racial. O rapper e escritor Emicida, por exemplo, acaba de lançar seu segundo livro, "E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas", em uma parceria entre a Companhia das Letras e o selo Laboratório Fantasma. Assim como no primeiro, "Amoras", as personagens são todas negras.
Nessa mesma onda, surgem influenciadoras que conduzem mães, pais e crianças por esse universo tão rico. No projeto Pretinhas Leitoras (@pretinhasleitoras), do Instagram, por exemplo, as gêmeas Eduarda e Helena Ferreira, que têm 11 anos e são negras e crespas, dão dicas de livros e contam histórias para hora de dormir. A ideia é fazer uma curadoria para crianças iguais a elas.
Já no perfil "Uma mãe preta" (@amaepreta), é a "mãe preta solo, escritora e socióloga" Lu Bento que apresenta uma gama de livros para toda família, principalmente para as negras que têm dificuldade de escolher o que ler com seus filhos.
Uma das obras que ela indica é a coleção sobre a personagem Marcelina, de Elaine Marcelina, com ilustrações de Gleiciane Dias. É composta pelas histórias "O primeiro livro de Marcelina", "A primeira trança de Marcelina" e "A primeira boneca de Marcelina".
"Sinto muita falta de livros infantis com personagens negros que sejam simples e que tenham pouco texto, para que as meninas leiam sozinhas. A coleção já está no cantinho de leitura da Naíma, minha filha. Ela está caminhando na alfabetização", diz Lu que também coordena um coletivo de mães negras chamado Iyá Maternância.
A educadora Tatiana Santos, do projeto Pretinha Educadora (@pretinhaeducadora), é uma ferrenha defensora da ideia de que literatura negra deve ser explorada por todo mundo. Por isso, seu trabalho é dedicado a ensinar sobre diversidade garimpando livros do tipo para crianças.
Entre os favoritos dela está o livro de estreia de Emicida, "Amoras". "Foi escrito para a filha dele. Na história, diz que, quando vamos escolher as amoras, as pretinhas, são as mais doces. E, aí, a menina entende, 'ah eu sou pretinha, então eu sou doce'. É uma maneira diferente de falar sobre a questão do negro", explica Tati.
Abaixo sugerimos alguns livros e filmes para elevar o amor próprio de crianças negras, mas que merecem serem lidos e assistidos por qualquer pessoa.
Livros
"E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas", Emicida, Companhia das Letrinhas e Lab Fantasias
Pai de duas meninas, de 10 e 2 anos, Emicida sabe bem como é quando as crianças têm medo do escuro. E é sobre isso que ele nesta história recém-lançada pela parceria entre o selo Lab Fantasias e a Companhia das Letrinhas. O livro é o segundo infantil do escritor e também rapper. O primeiro foi "Amoras".
"Sulwe", Lupita Nyong'o, Editora Rocco
A pequena Sulwe, personagem inspirada na autora e atriz Lupira Nyong'o, vive em uma família com vários tons de pele. E o seu é o mais escuro. Ao longo do livro, ela aprende a amar suas tonalidades por meio analogias muito especiais.
"Menina Bonita do Laço de Fita", Ana Maria Machado, Editora Ática
Um coelhinho bem branco quer ter a cor da sua dona, uma menina negra. Para isso, faz muitas maluquices para tentar descobrir uma maneira de tornar pretinho como ela.
"Omo-Oba: Histórias de Princesas", Kiusam de Oliveira, Editora Mazza Edições
Esta é uma coletânea de contos africanos e histórias de princesas inspiradas na comunidade de tradição Ketu, da República do Benin (África Central), e que tem uma enorme influência no Candomblé.
"A nova escola de Sara", Giele Calma Andrade, Editora Abaquar
O livro não trata de negritude, mas a protagonista, Sara, é negra, o que tem uma importância enorme quando se trata de representatividade. Na história, ela acabou de mudar de escola e precisa conviver com todos os desafios da novidade: do uniforme às primeiras interações com professores colegas.
Filmes
"Hair Love" (2019)
Esta animação de Matthew A. Cherry, vencedor do Oscar de melhor curta-metragem em 2020, um pai encara o desafio de fazer um penteado no cabelo crespo da filha pequena. O resultado é encantador.
"Rainha de Katwe" (2016)
A jovem Phiona Mutesi (Madina Nalwanga) é um gênio do xadrez, que perdeu o pai e vive com a mãe (Lupita Nyong'o) em uma região de extrema carência de cursos básicos, como água limpa, moradia e escolas, em Uganda. Agora ela quer se tornar a melhor jogadora do mundo.
"Annie" (2014)
Abandonada pelos pais quando era bebê, Annie (Quvenzhané Wallis) vive em um orfanato. Até que, seguindo o conselho de seus assessores, um candidato a prefeito (Jamie Foxx) resolve adotá-la para melhorar sua imagem. Só que os sentimentos não são tão calculistas assim?
"A Princesa e o Sapo" (2009)
Nesta animação, Tiana, negra e nascida em Nova Orleans, vira um sapo ao tentar quebrar um feitiço. Apesar de passar a maior parte do filme sendo um sapo, a princesa dá muitas lições de perseverança, amor próprio e até empreendedorismo.
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