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Água do banho? Terapeuta sexual fala de fetiche dos fãs de Emily Knight

Emily Knight falou sobre fetiches de fãs, em entrevista; terapeuta consultada por Universa comenta - Reprodução/@emily_knight.tv/Instagram
Emily Knight falou sobre fetiches de fãs, em entrevista; terapeuta consultada por Universa comenta Imagem: Reprodução/@emily_knight.tv/Instagram

De Universa

15/10/2020 18h12

A cam girl Emily Knight se tornou o centro de uma discussão sobre fetiches ao revelar que os fãs que a seguem nas redes sociais e em sites de conteúdo erótico compram a água do banho que ela toma, peças íntimas que ela usa e investem dinheiro em vídeos em que ela aparece arrotando ou soltando pum.

No dicionário, fetiche é sinônimo de "qualquer objeto, geralmente peças do vestuário, ou parte do corpo que se acredita apresentar qualidades mágicas ou eróticas". Na vida real dessa modelo de Los Angeles (EUA), que disse faturar R$ 56 mil com seu trabalho, a definição extrapola esses significados. Afinal, para as práticas sexuais, desde que sejam consentidas, não há limites. A seguir, a terapeuta sexual Carla Zeglio comenta parte dos fetiches elencados por Emily Knight e explica o que ele diz sobre nossa educação sexual, para homens e mulheres.

Fetiche na água do banho, arroto e pum

Em entrevista para o site britânico Daily Star, Emily detalha alguns dos pedidos que recebe de usuários de redes sociais ou plataformas de nudez, onde ela trabalha. Um dos mais curiosos é o fato de ela vender potes contendo a água que usa para tomar banho.

Não há precisamente um nome que defina esse tipo de fetiche. No entanto, o professor Mark D. Griffiths, que estuda vício comportamental em jogos, sexo e outras áreas, publicou um artigo no blog da revista Psychology Today com alguns termos que classificam os fetiches que relacionam água e sexo. A "Albutophilia" (sem tradução) representaria a excitação sexual por causa da água — mas, ainda assim, não é possível afirmar que o que os fãs de Emily pedem se encaixa nessa categoria.

Outro fetiche reportado pela cam girl está associado à venda de calcinhas que ela usa e de fotos de seus pés. Para a terapeuta Carla Zeglio, apesar de a internet facilitar a conexão entre os fetichistas e quem oferece esse tipo de serviço, esses comportamentos não são tão recentes.

"É só lembrar que nos shows do cantor Wando, as mulheres jogavam calcinha e ele guardava. Antes, havia publicações nos jornais. Com a internet, isso tudo fica mais acessível".

Cercados de tabus, os fetiches sexuais são mais explorados em publicações de Psicologia e nos consultórios de sexólogos. Um estudo publicado na revista Nature por pesquisadores italianos mapeou que, entre os 5 mil entrevistados, a maioria tinha fetiche por partes do corpo de alguém e por objetos geralmente associados ao corpo (talvez a água do banho entre nesse rol) — 33% e 30% do total, respectivamente.

As preferências eram seguidas pelo comportamento de outras pessoas (18%), comportamento próprio (7%), comportamento social (7%) e objetos não relacionados ao corpo (5%). "Pés e objetos associados aos pés eram o alvo mais comum das preferências", pontuaram os pesquisadores.

Vale dizer que quem se sente excitado ao ver ou envolver pés em atos sexuais tem várias formas de explorar a preferência: usar a boca, dando beijos e lambidas no pé, tocar o vão entre os dedos ou tentar posições que os coloquem no campo de visão do parceiro ou parceira são apostas para um momento de prazer.

De onde vêm esses fetiches?

Como muitos comportamentos humanos, o sexo e, especificamente, o fetiche não passam ilesos a construções sociais a que homens e mulheres são submetidos ao longo da vida. É o que explica a terapeuta sobre a prevalência de homens que expõem (e pagam por) seus fetiches. Cabe aqui uma diferenciação: enquanto no fetiche há a preferência por determinada coisa, na parafilia — um distúrbio psíquico — a pessoa sente obrigatoriedade de ter aquela experiência ou comportamento sexual.

"A grande maioria dos comportamentos sexuais variantes e parafílicos vem de homens, o que nos faz questionar o quanto uma sociedade patriarcal faz com que esse homem pague pelo fetiche", analisa.

O fato de os clientes e fãs de Emily pedirem para que ela grave imagens soltando pum ou arrotando, para a terapeuta, também merece atenção — e diz muito sobre a forma com que mulheres são vistas em suas práticas sexuais.

"Todo mundo arrota. Agora, por que uma mulher como a modelo, que está nos padrões estéticos e midiáticos do que é desejável, faz mais sucesso do que outras? Há algum componente de subjetividade masculina que é expressado por essa preferência, ditada por processos educativos e morais que os homens têm".

Emily relata que não se sente "objetificada" sexualmente quando faz esse tipo de entrega. Para Carla, em uma perspectiva geral, cabe questionar por que naturalizamos a exposição do corpo da mulher e os fetiches semelhantes aos que Emily comentou. "Aliás, cabe perguntar se a modelo sabe que pode ganhar dinheiro de outros jeitos, se ela teve outras oportunidades", avalia.

Ao site, a cam girl afirma que vender esse tipo de conteúdo erótico estimula sua confiança. "É tão bom saber que há milhares de homens em todo o mundo me adorando a qualquer momento — é um grande impulsionador de confiança".

A relação que Emily assume com o trabalho também nos ensina sobre as formas com que homens e mulheres vivem suas sexualidades, diz a terapeuta. "O legal é se ela começa a se divertir com esses homens, entendendo o poder que ela tem, e se também passa a compreender o quanto essa masculinidade pode ser prejudicial a eles".

Fetiches, mas sem dinheiro

No mundo dos fetiches, nem tudo se resume a dinheiro, é claro. As fantasias sexuais também são comuns, válidas e podem gerar muito prazer entre parceiros ou parceiras, com maior ou menor tempo de relacionamento, desde que se preserve a integridade física e emocional dos envolvidos.

Quem guarda um fetiche e está em busca de alguém para realizá-lo tem até aplicativo para dar "match" e fazer a situação sair da cabeça. Casais que estão descobrindo essas preferências, seja pesquisando no Google ou lendo matérias como esta, também têm sua vez.

"Às vezes, a ideia chega e as pessoas estão juntas há tanto tempo que não tinham ideia do que podiam fazer e passam a questionar as práticas sexuais. Por isso, é bom ter uma conversa que, às vezes, pode ser meio truncada", diz Carla. "A ajuda de um terapeuta para iniciar esse papo ajuda a focar na qualidade da vida sexual do homem e da mulher já que, por questões da nossa educação, geralmente temos mais dificuldade para falar sobre sexo."