Irmãs de Anápolis estão entre 100 negros mais influentes do mundo: conheça
Os nomes das irmãs Brenda e Betty Agi, de Anápolis, Goiás, figuram na lista dos 100 Afrodescendentes Mais Influentes do Mundo (MIPAD, sigla em inglês), uma iniciativa global que conta com suporte da Organização das Nações Unidas, a ONU. Fundadoras da ONG Compaixão Internacional, que já ajudou mais de 50 mil pessoas em pelo menos 17 países em dez anos, as duas biomédicas foram reconhecidas na categoria de trabalho humanitário e ativismo.
Outras nove personalidades brasileiras foram classificadas como mais influentes pela iniciativa; entre elas, a deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho, primeira mulher transexual a estar na lista, os cantores Iza e Léo Santana e a bailarina e ativista Ingrid Silva.
O que as irmãs Agi fazem no Terceiro Setor ganhou destaque internacional principalmente pela capilaridade do trabalho. Ao organizar campanhas de doação de insumos, capacitar profissionalmente mulheres e dar apoio a crianças em situação de vulnerabilidade social, a dupla, formada em Biomedicina, extrapola as fronteiras geográficas.
A primeira ação foi a arrecadação de chinelos para entregar a uma comunidade do Deserto do Kalahari (sul do continente africano). Os pares do calçado foram arrecadados por doações de pessoas em comunidades do (finado) Orkut.
Depois de formadas, Betty e Brenda visitaram África para trabalhar voluntariamente em hospitais e atendendo a população com aulas de dança. Trocaram o baile de formatura pela experiência humanitária. E foi aí que se deu o start da ONG Compaixão Internacional.
"Começamos pedindo os chinelos na rede social, porque fomos a um local na Angola e vimos uma menina dançando descalça na areia quente. Pedimos para ela colocar um chinelo, e ela disse que não tinha. Então, percebemos que eram 250 crianças descalças, e como biomédicas, sabíamos que doar um par de chinelos poderia ser a solução para parasitoses e verminoses, que eles tinham. Isso impactava na mitigação de morte infantil", contextualiza Betty.
Trabalhar juntas pelo bem-estar coletivo, diz Brenda, era um sonho muito forte. "Sempre quisemos atuar na mesma coisa", explica.
Aliás, brincamos que entramos na Biomedicina juntas para enxergar o micro, e acabamos percebendo o macro.
O "Doe Chinelos" é o projeto central da ONG. Até hoje, já foram arrecadados 55 mil pares, de doação de pessoas físicas, entregues a população em situação de vulnerabilidade social de 17 países.
A atuação da entidade ainda se dá pelo oferecimento de cursos de corte e costura para mulheres em situação de risco para autonomia econômica (Projeto Kiluba), e medidas de assistência a jovens albinos em regiões do continente africano (Projeto Sol para todos), já que eles são vistos como mau presságio em parte das culturas locais.
"Estamos propondo que se faça um projeto de lei em Angola e Moçambique para que o albinismo, uma condição genética, seja ensinado nas escolas com livros ilustrativos", explica Brenda.
Compaixão sem fronteiras
As irmãs contam que os projetos da Compaixão Internacional são replicados em diferentes lugares, inclusive em regiões do Brasil, por conta da visão multicultural que adquiriram ao longo da vida.
"Acontecem tanto no nosso bairro, em Anápolis, quanto na Índia. Nós crescemos em um ambiente multicultural, pois nosso pai é de Moçambique e nossa avó, dos Estados Unidos. Então, sempre entendemos que nossa casa é o mundo. As fronteiras [geográficas] são convenções humanas. A gente olha para as pessoas, independentemente de onde elas estiverem, e ajudamos", explica Betty.
Na pandemia, a Compaixão Internacional está formatando estrutura para que o curso de corte e costura para mulheres, que já levou oficinas a Angola e a Moçambique, seja oferecido em Anápolis, de forma gratuita.
"Estamos comprando máquinas e queremos oferecer essa escola para meninas e mulheres que passam por violência doméstica, vulnerabilidade econômica".
Impacto social, haters
Apesar do impacto social e do reconhecimento, exemplificado pelos nomes na lista dos negros influentes do mundo, as irmãs contam que enfrentam obstáculos no trabalho por lidar com causas humanitárias.
"Estamos vivendo uma época no Brasil que não é favorável ao Terceiro Setor, em um contexto de guerra ideológica, de polarização, e com a entrada forte da questão do racismo. E nós escolhemos trabalhar com um público que muitas vezes não é 'interessante', porque não escreve, não vota, não tem independência financeira", comenta Betty.
Por isso, lutar por essas causas gera haters, porque mostra que a pobreza de uns é fruto da riqueza dos outros.
Neste cenário, exercitar e estimular a empatia na sociedade é um desafio para que a atuação dos voluntários e das fundadoras se mantenha firme, explica Brenda. "Eu acredito que compaixão é a maneira que Deus, ou algo que as pessoas acreditam, nos mostra o mundo pelos olhos dele. É você se ver em uma pessoa numa condição diferente e lutar para fazer algo por ela, independentemente de cor, credo, sendo criança, mulher."
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