Casais celebram apoio do papa à união homoafetiva: "Sonho da minha família"
Embora o papa Francisco demonstre abertura para dialogar com fiéis LGBTQ+, ele nunca foi claro em relação à garantia de direitos para essa população — até a última quarta-feira. No documentário "Francesco", exibido no Festival de Roma, o pontífice alega que "pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família", e defende a criação de uma lei para união civil que contemple casais homoafetivos.
"As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso. O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma, eles serão legalmente contemplados. Papa Francisco
A declaração não garante que a Igreja Católica passe a celebrar a união de casais do mesmo sexo, mas acendeu esperança em pessoas LGBTQ+ que têm esse sonho. É o caso dos casais Camila e Fernanda, de São Paulo, e Will e Marcelo, de Guarulhos (SP).
"Casar na igreja era um sonho, mas ficou bem guardadinho"
A relações públicas Camila Pegorer, 25, foi criada na Igreja Católica, batizada, fez a primeira comunhão e frequentava missas, até que quebrou essa relação tão próxima com a religião por volta dos 14 anos, quando decidiu não fazer crisma.
"Minha família é muito católica mesmo, meu avô chegou a estudar para ser padre, mas desistiu no final do processo. Eu fiz todos os rituais, só não fiz crisma porque, àquela altura, já sabia que era sapatão", lembra. "Eu acredito muito no catolicismo, em Deus, em santos, mas fui me afastando porque não me sentia representada pela Igreja. Hoje, eu me conecto com Deus no meu cantinho, na minha casa."
Camila conta que casar na igreja sempre foi um sonho, mas como o Vaticano não permite que padres realizem casamentos homoafetivos, esse sonho "ficou bem guardadinho" — pelo menos até janeiro, quando ela e a publicitária Fernanda Carlini, de 26, ficaram noivas.
"A gente sempre quis muito casar [as duas estão juntas há três anos]. E agora, pensando como seria o nosso casamento, lembrei que sempre tive essa vontade de casar na igreja. Como infelizmente eu não sou aceita na igreja, estamos pensando e procurar um padre mais alternativo, algum religioso ligado à fé cristã, mas que não seja vinculado à igreja e possa realizar a cerimônia."
Apesar de não acreditar que a declaração do papa Francisco tenha impacto em uma ação concreta da Igreja Católica num futuro próximo, a tempo dela própria conseguir se casar no religioso, Camila comemora a afirmação do pontífice: "Acho o Papa muito bom".
"Vai ser muito difícil, é um caminho muito longo, mas esse é um passinho muito importante. Meu coração se encheu de alegria, porque esse é um sonho meu, mas também um sonho da minha família", diz.
"Meu pais entendem que eu e a Fernanda estamos noivas, que vamos nos casar, e adoram ela. Mas sinto que, para eles, é como se fosse um relacionamento inferior ao que seria se eu tivesse um namorado. Sei que, se me casasse na igreja, realizaria um sonho dos meus pais."
"Cinco pessoas se recusaram a realizar nosso casamento"
Will Pablo, 28, e Marcelo Guti, 36, foram "criados em berços evangélicos" e se conheceram em uma igreja considerada inclusiva para pessoas LGBTQ+, para onde migraram por não se sentirem confortáveis nas igrejas tradicionais. Anos antes, durante a adolescência, Marcelo frequentava missas na Igreja Católica e chegou a fazer a primeira comunhão, mas diz que também não se sentia acolhido por lá.
Eles se casaram há um ano e queriam que a cerimônia fosse celebrada por alguém que representasse a fé cristã — o pedido foi recusado por cinco pessoas e, até a véspera da cerimônia, eles não tinham encontrado uma pessoa para casá-los.
"Nós tínhamos vontade de casar na igreja para receber uma bênção espiritual, mas a gente sabe que tanto a Católica quanto a Evangélica não aceitam de forma alguma. Chamamos cinco pessoas religiosas, pastores, cerimonialistas de fé cristã, mas todos se recusaram", lembra Will. "Um dia antes, uma amiga nossa se ofereceu para fazer o casamento, e acabamos casando só no civil, sem nenhuma religião envolvida."
Will e Marcelo não frequentam mais a igreja, mas ainda sonham com uma cerimônia religiosa. Eles vão se casar novamente hoje, em Salvador, com a bênção de uma mãe de santo de fé cristã. "Com o Marcelo eu casaria mais 50 vezes. Tanta coisa é negada para a gente, são tantos direitos que não temos, desde andar de mãos dadas na rua sem medo, até poder casar onde quiser", lamenta Will.
E Marcelo completa: "A figura do papa influencia muitas pessoas. Claro que muitos vão falar contra ele, mas muitos podem pensar 'Nossa, se o papa falou isso, deve estar certo'. Fazendo isso, ele mostra o que é de fato ser cristão. Se Jesus estivesse no lugar dele, teria dito isso há muito tempo, porque Jesus nunca foi preconceituoso com ninguém."
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