Que marcas? Post de Duda Reis sobre estria gera debate sobre body positive
Na contramão de fotos cheias de efeitos ou retoques e estimuladas pelo movimento body positive, que promove a aceitação do próprio corpo, famosas e anônimas têm postado mais selfies ou imagem de corpo inteiro ao natural, quase sempre acompanhadas de frases e hashtags sobre amor-próprio. Nessa onda, a atriz Duda Reis fez uma publicação em seu perfil no Instagram na quarta-feira (28). A ideia era mostrar suas estrias mas acabou levantando um debate sobre padrão estético entre as seguidoras.
Na foto, Duda aparece de biquíni rosa em um clique ensolarado. A atriz escreveu na legenda sobre seu corpo: "Linda e feliz com as minhas estrias que muitas pessoas ainda não conseguem falar sobre sem gerar estranhamento e discussão". Ela não faz nenhuma alusão ao movimento de exaltar a beleza do corpo, mas usa o mesmo discurso que encampa as publicações body positive.
Mas o efeito gerado nos comentários foi contraditório. As marcas naturais da pele destacadas por Duda geraram questionamentos sobre o corpo dela, considerado "padrão". Uma das seguidores escreveu: "Que marca, fia [sic], você é mó padrão. Apenas pare". A atriz, então, respondeu sobre as inseguranças que sente com seu próprio corpo.
"Uma pessoa 'padrão' está isenta de ter estrias e de ter inseguranças com seu próprio corpo? E uma pessoa 'padrão' não pode amar algo que todas as mulheres são ensinadas a não amar?".
Corpos femininos e a pressão estética
O movimento body positive, que valoriza a autoestima independentemente dos formatos do corpo ou das marcas que ele carrega, ganhou força nas redes sociais, principalmente por incentivar o respeito à própria aparência. Fato é que, de uns tempos para cá, ele deixou de ser unanimidade. A cantora Lizzo criticou a onda "Body Positive" por, muitas vezes, não alcançar a inclusão de corpos reais como é esperado. Acontece que influenciadoras do Instagram que têm corpos próximos ao "padrão" também entraram na roda.
Duda Reis já comentou que não se importa com as estrias que aparecem em fotos do seu corpo e que reconhece que é uma pessoa "supermagrinha" que convive com as marcas da pele.
"Elas não são nenhum questionamento ou me deixam insegura. Na verdade, elas me deixam seguras. Eu amo minhas estrias, minhas celulites", disse, em Stories da plataforma.
"Não posso negar o fato de que, sim, estou em um padrão. Mas, como a estria não está em um padrão, e eu tenho, posso dizer para vocês que não me incomoda. E não deixaria de colocar um biquíni por causa delas".
A influencer Shantal Verdelho também causou reações divididas dos seguidores ao publicar a comparação de fotos "vida real" e "no Instagram" em que sua barriga aparece com aspecto diferente. Parte dos seguidores alegou que não havia diferença no corpo de Shantal, a não ser pela mudança no short.
Em resposta a uma seguidora, ela explicou que a intenção provocar reflexão sobre o que se publica no Instagram e como isso impacta na leitura que fazemos da "vida real". "Uma foto que guarda apenas um segundo, no melhor ângulo e luz, não quer dizer 100% verdade", refletiu.
Fotos naturais e o body positive
Para a ativista Luciana Moraes, publicitária e que escreve para o blog "Falando sobre gordofobia", publicações de mulheres que estão mais próximas do "padrão estético" com o objetivo de destacar a aceitação das chamadas "imperfeições" do corpo acabam tendo efeito contrário à libertação feminina — um dos pilares do feminismo.
"Quando fazem isso, reforçam o padrão, fazem outras mulheres se sentirem mal e geram invisibilidade ao movimento antigordofobia", opina. "Em fotos em que a mulher coloca a barriga para frente, por exemplo, muitas vezes ouve um 'mas você nem é gorda', o que coloca o ser gorda como negativo. Isso é um desserviço, porque esses posts também suscitam a comparação de 'você é linda, eu não'", analisa.
De fato, na foto de Duda Reis, Universa viu comentários de mulheres como: "na sua foto nem deu para ver, se você ver minhas estrias, você chora" e "suas imperfeições passam despercebidas porque sua beleza supera".
Para a ativista, essa comparação é nociva por estar "ancorada no padrão". "A rede social é da pessoa, e ela pode falar o que quiser, mas é um exemplo de pressão estética. Quando ela fala da celulite, dá a entender que o 'padrão da pele lisa' é melhor. E isso não é libertação feminina".
Magra também sofre?
Sim, já que a pressão estética promove um padrão inatingível de corpo, "sempre jovem, magra, com a pele lisa, branca, loira, sem mancha e sem pelos", elenca Moraes. No Instagram, a própria Duda Reis compartilhou trecho de uma entrevista que deu à apresentadora Luciana Gimenez expondo o fato de ter sofrido com o anorexia, transtorno alimentar, na tentativa de manter a barriga o mais lisa possível.
Por essa razão, abandonar recursos de edição de imagem, posar de forma natural para a câmera e não esconder o que fomos ensinadas a ver como "imperfeições" fazem parte de um processo de autoaceitação, que é legítimo para todos os corpos.
É fundamental, no entanto, dizer que a gordofobia recai de outra forma sobre as mulheres gordas. Operando como um problema sistêmico, que gera falta de acessibilidade e preconceito em vários aspectos da vida, a opressão precisa ser combatida para além do "aceite seu corpo como ele é", como militam ativistas do movimento antigordofobia.
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