Ex-modelo, ela criou startup para ajudar mulheres em busca de emprego
Após mais de 12 anos estampando capas de revistas e desfilando em passarelas, a catarinense Silaine Stüpp fez o que faz a maioria das ex-modelos: buscou se reinventar. Aos 28 anos, decidiu cursar faculdade de marketing e passou a trabalhar com comércio eletrônico.
Logo percebeu que o mercado de trabalho de tecnologia era não só predominantemente masculino, mas que não se importava com a falta de equidade de gênero. Ao longo dos processos seletivos, ela diz, chamava a atenção o fato de a seleção das candidatas ser feita a partir de respostas sobre questões pessoais, e não profissionais.
Incomodada, a ex-modelo, hoje com 38 anos, criou em 2018 a startup HerForce, que busca conectar mulheres e empresas que valorizam a igualdade de gênero em seus quadros de funcionários. Dois anos depois, mais de 10 mil mulheres estão cadastradas na plataforma e 20 mil mulheres foram impactadas, segundo ela, por meio de divulgação de vagas, eventos e informações.
"A ideia surgiu a partir das minhas próprias experiências no mercado de trabalho. Cerca de 90% das minhas entrevistas focaram a vida pessoal, com perguntas sobre com quem eu morava, se era casada ou solteira e se tinha filhos", diz Silaine. "Perguntavam tudo sobre mim, o meu marido e maternidade. Isso me incomodava bastante", conta.
"A pergunta mais estapafúrdia era se meu marido me deixava trabalhar fora. Essa foi a gota d'água. Não era possível que a gente estivesse no mesmo século", diz ela, que após rodar o mundo como modelo e morar em São Paulo, vive há um mês em Florianópolis, com o marido e o filho de dez meses.
Processo seletivo após câncer fez ideia sair do papel
Criada em Blumenau (SC), Silaine deixou a casa dos pais aos 16 anos para atuar como modelo. A ideia era juntar dinheiro para fazer uma faculdade, mas seguiu nas passarelas por 12 anos.
Depois de largar a carreira e cursar marketing, atuou no mercado de venda eletrônica em empresas até 2017, quando um fato acabou mudando os rumos de sua vida.
"Quando pedi demissão, eu era gestora de e-commerce, mas buscava algo que tivesse mais impacto, uma causa. Nos dias seguintes à minha demissão, descobri em exames de rotina um câncer de útero em estágio inicial. Fiz uma cirurgia e sigo monitorando. Tive sorte de poder ter meu filho depois", conta.
"Foi um momento em que repensei toda a minha vida e tudo o que gostaria de fazer dali para frente."
Apesar de ter pedido demissão de uma empresa do ramo de tecnologia, Silaine chegou a ficar tentada por uma oportunidade de trabalho no mesmo segmento. Mas, novamente, enfrentou o mesmo processo de seleção enviesado.
"Dias depois da cirurgia, fiz um processo seletivo em uma multinacional que foi basicamente focado em minha vida amorosa e reprodutiva. Depois de ouvir um monte de perguntas invasivas, cheguei em casa e percebi que eu tinha duas alternativas: reclamar e não ver nada acontecer ou agir. Decidi pela segunda opção."
Desvantagem, ameaça, discriminação
Para criar a startup, Silaine precisou ouvir seu público-alvo. Mais de 1.200 mulheres de todos os cantos do país participaram de uma pesquisa online realizada pela equipe que preparava a criação da empresa, entre abril e junho de 2018.
Os resultados mostraram que Silaine não viveu sozinha os obstáculos que enfrentou no mercado de trabalho: 53% das entrevistadas disseram que já haviam se sentido em desvantagem em obter uma promoção no trabalho pelo fato de serem mulheres; 72% avaliaram que a maternidade poderia ameaçar ou já havia ameaçado o seu crescimento profissional; 83% sofreram ou presenciaram assédio moral no ambiente de trabalho; e 44% já haviam pensado em deixar algum emprego em razão do ambiente discriminatório, pelo fato de serem mulheres.
O dado mais representativo, segundo ela, apontou que 97% das mulheres queriam encontrar empresas que se preocupassem com a diversidade de gênero para se candidatarem às vagas de trabalho. Esse acabou se tornando o foco da startup.
A área tecnológica, foco da startup criada por Silaine, por exemplo, avançou nos últimos dois anos, mas ainda destina uma parcela pequena dos cargos às mulheres. É o que indica uma pesquisa da empresa de tecnologia para recrutamento Revelo, com mais de 14 mil empresas e 1 milhão de candidatos. De 2017 para 2019, houve um aumento apenas de 12% para 17% em número de convites para vagas para mulheres.
Já outro estudo, do LinkedIn, aponta que as mulheres têm 13% menos chances de serem consideradas em uma seleção de emprego.
"A minha ideia era a de que as mulheres tivessem um canal disponível para trocar experiências e também pudessem encontrar empresas no mesmo perfil do momento de vida pelo qual passavam. Existem setores em que a participação delas ainda é pequena, como o de tecnologia. Então é importante ter um canal que possa promover esse encontro entre as mulheres e as empresas que entenderam que a diversidade é o caminho para inovação", diz Silaine.
Como a plataforma funciona
A plataforma permite que mulheres deem notas de 1 a 5 às empresas em que já tenham trabalhado a partir de seis critérios: desenvolvimento pessoal, carreira, flexibilidade de trabalho, ambiente de trabalho, suporte familiar e representatividade feminina.
A intenção é mostrar que empresas seriam mais atrativas ao público feminino. Já os contratantes focados no aprimoramento da diversidade de gênero em seu ambiente de trabalho podem criar um perfil e divulgar vagas na plataforma.
"A proposta é justamente trazer informações sobre o ambiente de trabalho dadas pelas mulheres para outras mulheres. E conectar essas mulheres a empresas que valorizam a diversidade para que o quadro delas tenha mais equilíbrio."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.