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MPSC afirma que vídeo da audiência de Mari Ferrer foi editado e manipulado

Gabryella Garcia

Colaboração para o UOL, em Blumenau (SC)

04/11/2020 13h05Atualizada em 29/12/2020 11h29

O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) se manifestou hoje sobre o vídeo da audiência da influencer Mariana Ferrer divulgado ontem pelo site Intercept Brasil. Segundo acusação do órgão, o vídeo foi editado de forma que os trechos em que o promotor e o juiz interferem contra excessos praticados pelo advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho são suprimidos, dando a impressão de que a vítima foi humilhada sem nenhum tipo de interferência.

O MPSC também informou que já entrou com um pedido de quebra de sigilo processual para que o vídeo possa ser divulgado na íntegra, de forma que seja feita a defesa do promotor Thiago Carriço de Oliveira no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e na Corregedoria.

Quem requereu a retirada do sigilo das suas alegações finais e dos trechos das audiências dos dias 20 e 27 de julho foi o próprio promotor Thiago, para provar suas interrupções a fim de evitar o constrangimento da vítima.

O MPSC ainda reafirmou que o vídeo não condiz com a realidade dos fatos e que foram seguidas todas as normas de audiências, que impedem que o MP ou Juiz interrompam o advogado de defesa no momento de inquirir a vítima, e que, nos momentos oportunos (e não divulgadas no vídeo), foram feitas interferências em favor da vítima.

Por fim, o MPSC afirmou ter solicitado a quebra de sigilo para que a verdade venha à tona para toda a sociedade e se comprove que ao longo de todo o processo foram adotadas toda a sensibilidade e respeito que a situação exigia.

As alegações do MPSC, entretanto, vão contra a percepção do ministro do STF, Gilmar Mendes. Por meio de mensagens em suas redes sociais, o Ministro classificou as cenas como "estarrecedoras" e afirmou que a Justiça não deve ser usada como instrumento de "tortura e humilhação".

Além disso, especialistas contestam a argumentação do MPSC e advogadas ouvidas pelo UOL afirmaram que cenas como as ocorridas na audiência de Mari Ferrer são comuns em outras audiências da mesma natureza.

O vídeo

O juiz Rudson Marcos foi o responsável por comandar a audiência do processo em que o empresário André de Camargo Aranha foi acusado pelo Ministério Público de ter estuprado a influenciadora Mariana Ferrer em um bar de Florianópolis (SC) em 2018. Mariana tinha 21 anos na época.

Aranha foi absolvido das acusações, em sentença publicada em setembro.

A audiência foi registrada em vídeo e teve a gravação revelada por reportagem publicada ontem pelo The Intercept Brasil. Durante a audiência do caso, segundo o Intercept, o advogado do empresário, o defensor Cláudio Gastão da Rosa Filho, se refere como "ginecológicas" a fotografias profissionais feitas por Mariana em sua carreira de produtora de conteúdo para redes sociais e diz que não gostaria de ter "uma filha do teu nível".

Na audiência, o advogado segue exibindo fotos da jovem e afirma: "Peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher que nem você". O defensor do réu prossegue: "Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lágrima de crocodilo".

A jovem reage à investida do advogado e, chorando, se dirige ao juiz: "Eu gostaria de respeito, eu tô implorando por respeito, nem os assassinos são tratados da forma como eu estou sendo tratada", de acordo com o vídeo.