Gordofobia e política: mulheres gordas lutam por aceitação e direitos
Com o painel "A Jornada do Corpo Gordo", Maqui Nóbrega, colunista de Universa abriu a primeira da série de conversas da 3º edição Universa Talks lembrando como mulheres gordas sentem que o acesso a quase tudo é negado a elas: "desde a poltrona do avião até uma toalha, nossa autoestima vai sendo minada todos os dias e precisamos falar sobre como podemos nos amar".
Embora ainda muito atual, a fala de Maqui reflete uma luta antiga na de mulheres cujo peso ou anatomia corporal não se encaixam em modelos de magreza, que batalham pela própria aceitação e por estimular outras a estabelecerem uma relação mais saudável e de apreciação de seus corpos. Já em meados dos anos 60, algumas delas começaram a se unir nos Estados Unidos, em uma campanha contra a discriminação de obesos e por seus direitos. Era o começo do que hoje é hashtag conhecida, o movimento Body Positive.
Na esteira do Body Positive veio também o Body Neutrality, com a proposta de levar amor-próprio para além da aparência. Da soma dos dois, a jornalista Alexandra Gurgel fundou a versão brasileira, o Movimento Corpo Livre: "todos os corpos deveriam ter acesso e liberdade. Por isso o Corpo Livre prega não apenas a aceitação, mas que todos lidemos melhor com o que não está legal."
Gordofobia X Pressão estética
Para Alexandra, corpos gordos são alvo por não serem vistos como belos, aceitáveis ou saudáveis. Uma crença, como explicou a nutricionista Marcela Kotait, especializada em transtornos alimentares, que muitas vezes está inclusive entre a comunidade médica.
"Existe uma corrente de profissionais de saúde que atua pela aceitação da paciente como ela é. Mas a patologia do corpo gordo, como se ele sempre fosse um corpo doente, ainda faz com que as pessoas sejam tratadas de forma estigmatizada".
Marcela lembrou que é necessário diferenciar gordofobia de pressão estética. Com a variação dos padrões de beleza, que estão sempre mudando em função de ideias socioculturais, é muito improvável que mulheres se sintam completamente adequadas ao tentarem se encaixar. Por isso a aceitação é tratada como jornada. Um exemplo é a da criadora de conteúdo digital Dani Lima, que ainda envolveu interseccionalidades.
"Iniciei meu processo a partir do entendimento da minha negritude. Precisei repensar tudo pois me moldava para ser alguém que não era. E ao longo desse movimento, abracei meu corpo gordo por completo", conta ela, cujo perfil no Instagram é dedicado a autoestima, maternidade e beleza negra. Ali, Dani chama seus mais de 66 mil seguidores para a jornada da aceitação, publicando algumas fotos do dia a dia em família e muitas de seu corpo - tudo, claro, sem filtro.
Uma luta por direitos
DJ, jornalista e criadora da Feira Pop Plus, a primeira de moda e cultura plus size do Brasil, Flavia Durante acrescentou a importância de se pensar políticas públicas para pessoas gordas. O que passa por pedir e apoiar representatividade nos espaços onde essas políticas são formuladas.
"Precisamos pensar em ter representantes no Congresso. Atualmente, há dois projetos de lei em andamento e não há diálogo ou cobertura a respeito. Sendo que um deles trata do acesso a equipamentos de saúde para todos os corpos", explicou. "Há o profissional que maltrata, mas antes disso vem questões estruturais para serem modificadas.".
Algumas iniciativas já foram pensadas para simbolizar as várias faces deste debate. Desde 2019, o dia 10 de setembro marca o Dia da Luta contra a Gordofobia no país. Para Maqui Nóbrega, fundamental é entender antes de tudo, que gordura e magreza são características físicas. Assim como magra não é elogio, gorda não é ofensa". O que, como completou Dani Lima, passa por fixar a ideia de que todos os corpos são possíveis e viáveis de serem felizes.
::O evento Universa Talks - Conversas sobre autoestima, reuniu mulheres incríveis para falar de beleza, quebra de padrões e aceitação, em 4 de novembro de 2020::
Confira, aqui, o que rolou de mais legal na programação.
Discurso de abertura: Joice Berth.
A jornada do corpo gordo
Mediação: Maqui Nóbrega (colunista de Universa). Convidadas: Alexandra Gurgel (fundadora do @movimentocorpolivre), Dani Lima (criadora de conteúdo), Marcela Kotait (nutricionista) e Flávia Durante (criadora da feira Pop Plus).
Cicatrizes: meu corpo, minha história
Discurso: "Amor próprio é o novo sexy", com Letticia Munniz Mediação: Dolores Orosco (editora-chefe de Universa). Convidadas: Giulia Dias (modelo), Juliana Romano (criadora de conteúdo digital), Nina Gabriella (influenciadora digital) e Ana Paula Xongani (empresária e colunista de Universa)
A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer
Mediação: Silvia Ruiz (colunista do UOL). Convidadas: Carolina Ferraz (atriz e apresentadora), Zezé Motta (atriz e cantora) e Rosana Hermann (jornalista).
Bate-bola entre as colunistas de Universa Xan Ravelli (colunista de Universa) e Fabi Gomes (maquiadora e colunista de Universa).
Movimentos que constroem a autoestima
Mediação: Débora Miranda (editora de Splash e colunista de Universa). Convidadas: Yara Achoa (maratonista), Suelen Naraísa (surfista) e Ellen Valias (criadora do perfil @atletadepeso)
Assista aqui a íntegra do evento:
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.