1ª vice-presidente dos EUA: especialistas comentam marco de Kamala Harris
Até 2020, 48 vice-presidentes ocuparam o segundo cargo mais poderoso dos Estados Unidos. Todos homens e brancos. A partir de 2021, porém, esse perfil será completamente diferente: uma mulher, negra, filha de imigrantes asiáticos é que ocupará esse lugar. Kamala Harris, 56, foi eleita vice de Joe Biden no sábado (7). Em 1º discurso desde o anúncio da vitória, Kamala fez questão de destacar esse ineditismo: "Serei a primeira vice dos EUA, mas não a última", afirmou, entre aplausos dos eleitores.
A conquista de Kamala é um marco histórico no que diz respeito à representatividade, afirmam analistas consultadas por Universa. A escritora feminista Joice Berth considera uma vitória para as mulheres, especialmente na luta por espaço político. "Nunca houve tantas mulheres se candidatando, de todas as origens, classes sociais, raça. Elas estão encarando o desafio da disputa pelo poder institucional, para entrar nos espaços da política. Nesse sentido, a eleição da Kamala é fortalecedora, trabalha nosso imaginário à medida que nos coloca diante de uma mulher negra, ou não branca, ocupando pela primeira vez o cargo de vice-presidência nos EUA por um grande partido", afirma.
A cientista política Hannah Maruci Aflalo, co-idealizadora do projeto A Tenda das Candidatas para estimular a participação feminina na política, vê com entusiasmo a escolha de Kamala por fomentar a representatividade. "Ela leva consigo para o novo governo norte-americano a vivência de uma mulher negra filha de imigrantes. Essa perspectiva é intransferível e essencial para a forma que a população negra e imigrante será tratada no país", opina.
"É claro que não podemos esperar que tudo mude no país que assassinou George Floyd [morto por um policial em maio de 2020] e tantos e tantas outras, mas esperamos ao menos uma mudança de direção."
Hannah acredita ainda ser importante fazer ressalvas à linha seguida por Biden e, consequentemente, que será implementada em seu governo. "Não podemos perder de vista que estamos falando dos Estados Unidos, um país imperialista, coisa que não muda com essa eleição. Este é outro ponto importante: o presidente eleito ainda é um homem branco", afirma.
Joice também levanta as questões controvérsias de Kamala. "Ela não é completamente limpa no sentido das convicções políticas. Ela não fez militância contra pena de morte, e sabemos que a questão de encarceramento em massa prejudica especialmente pessoas negras. Existem muitas contradições no comportamento político dela, e a gente não pode deixar de observar isso" diz.
Para a colunista de Universa Maria Carolina Trevisan, a possível eleição de Kamala como presidente no futuro é um dos pontos mais importantes da eleição de 2020. "É histórico porque, nos EUA, o vice tem realmente muita importância. Ela chega à vice-presidência com grande chance de poder disputar uma eleição presidencial. O Biden, por causa da idade [tem 77 anos], pode ser que não dispute uma reeleição e projete o nome dela", afirma.
Maria Carolina acredita que a escolha de uma mulher negra para o cargo, em meio a um histórico de tantos homens brancos ocupando a mesma cadeira, demonstra a força dos movimentos antirracistas e femininos. "O recado principal é que força das mulheres e força antirracista não vai retroceder. É só para frente que irá andar. E o resultado da eleição mostra isso de maneira muito sólida."
Mesmo com ressalvas, as especialistas acreditam que é um momento de celebração. "Não podemos abandonar a visão crítica, mas não é o caso de deixar de prestigiar essa ascensão, esse desfecho feliz", afirma Joice, que enxerga essa mudança com um primeiro passo para um cenário político mais diverso. "Agora devemos pensar um pouco mais adiante, nas mulheres ocupando de fato a liderança política, não mais como vice. Principalmente como liderança absoluta, com mais força, fazer valer uma representatividade útil. Mas a representatividade não pode ser só simbólica, precisa ser principalmente prática, pragmática, que nos empurre para outro status de sociedade onde nos sintamos mais cidadãs e cidadãos."
Hannah faz coro: "Claro que podemos comemorar a eleição de Kamala como vice, mas temos que ter claro o próximo passo: eleger uma presidenta negra. Aí sim poderemos falar em uma mudança estrutural."
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