Elas revelam: qual o maior desafio para se destacar na área de tecnologia?
Universa perguntou a sete mulheres em diversos pontos da carreira de tecnologia: qual o maior desafio que você superou para tornar-se uma profissional relevante na área? Falta de representatividade, de autoconfiança ou de uma rede de apoio, dificuldade para conseguir um emprego ou crescer na carreira foram as principais barreiras relatadas por elas.
"Um desafio que enfrentei foi a falta de um grupo de mulheres que pudesse dar conselhos e apoio em relação aos desafios únicos que nós enfrentamos no local de trabalho, equilibrando carreira com os problemas da vida", afirma Laxmi Parida, IBM Master Inventor e líder de pesquisa in computational genomics no Watson Research Center em Nova York.
Em uma área dominada por homens, cercar-se de outras mulheres, disseram, é a melhor forma de vencer a maioria dos obstáculos. "A partir do momento em que eu comecei a participar de iniciativas para mulheres, aprendi a confiar e acreditar mais em mim, a reconhecer o meu potencial", afirma Lara Franciulli, 19, graduanda em ciências da computação da Universidade de Stanford.
Os relatos delas só reforçam o que as pesquisas já mostram. Mulheres são apenas 15% dos alunos matriculados em cursos de ciência da computação e de engenharia, percentual que se repete no mercado de trabalho: elas são 17% das programadoras, segundo a Sociedade Brasileira de Computação.
Um pesquisa feita em 2018 pelo site de recrutamento Catho com a consultoria Upwit mostrou que 51% das 1.000 entrevistadas da área relatam discriminação de gênero no trabalho e 46,6% delas consideram ruins ou péssimas as chances de crescer em suas empresas.
Outro estudo, realizado pela empresa recrutamento Revelo, mostra outra face do problema: as que chegam lá ganham menos e têm dificuldade para atingir cargos de chefia. De acordo com o levantamento, a diferença de remuneração oferecida para homens e mulheres no mercado de tecnologia é de 23,4%.
"O caminho para chegar até a diretoria foi, para mim, muito mais longo que para vários colegas homens com experiência e qualificações iguais ou até mesmo inferiores às minhas", diz Andrea Motta, 38, diretora no UK Brazil Tech Hub.
Ela é uma das participantes da She's Tech Conference, evento realizado nesta semana em parceria com Universa, que vai reunir mais de cem mulheres que fazem a diferença no setor, que inspiram e são referência em suas áreas de atuação. Ele será transmitido online entre 17 e 21 de novembro e as inscrições gratuitas podem ser feitas pelo site. A seguir, mulheres que se destacam no Brasil ou no exterior contam o que fez diferença em suas carreiras.
Laxmi Parida, IBM Master Inventor e líder de pesquisa in computational genomics no Watson Research Center em Nova York
"Um desafio que enfrentei e que acho que muitas enfrentam foi a falta de um grupo de mulheres que pudesse dar conselhos e apoio em relação aos desafios únicos que nós enfrentamos no local de trabalho, equilibrando carreira com os problemas da vida. Eu tive a sorte de ter mentores muito bons (homens e mulheres), mas posso imaginar que outras não tiveram tanta sorte. Por isso, meu conselho é: cultive um grupo de amigas desde o início da carreira para apoio mútuo e para servir como caixa de ressonância."
Lara Franciulli, 19, graduanda em ciências da computação da Universidade de Stanford e co-fundadora do Juntos Somos Um
"Eu acho que ainda estou tentando ultrapassar esse desafio, que é muitas vezes não reconhecer ou acreditar no meu potencial. Durante o ensino médio, eu participei de muitas olimpíadas de informática e, mesmo me dedicando bastante, meus professores, meus amigos e meus pais me encorajando, eu tinha muita insegurança para fazer as provas.
A partir do momento em que eu comecei a participar de iniciativas para mulheres e meninas na tecnologia, e também para fortalecer as mulheres no geral, eu aprendi a confiar e a acreditar mais em mim, a reconhecer o meu potencial.
Eu gosto de computação, eu me esforço, estou tendo bons resultados, estudo para isso, então preciso acreditar em mim. Acho que é um desafio que eu estou ultrapassando agora."
Liliane Tie, co-fundadora e community builder na rede Women In Blockchain Brasil
"Acho que meu maior desafio foi não ter desistido da carreira em tecnologia logo de cara, assim que me formei na graduação. Levei dois anos tentando até conseguir meu primeiro emprego na área. Eu achava que o problema era que o país estava em crise, mas hoje entendo que era muito mais do que isso. Só lembro que eu passei dias e noites intermináveis estudando sozinha, devorando livros e pensando que eu não podia desistir ali. Eu só tinha conseguido estudar porque meu pai tinha ido trabalhar no Japão como decasségui quando eu tinha 16 anos. Na época, ainda não existiam cotas nas universidades para estudantes de escolas públicas, e as particulares eram caras demais para nosso padrão de vida. Eu não podia desistir depois de cinco anos de luta. A outra opção era eu também partir para o Japão e abandonar o sonho. Então continuei estudando.
Minha mãe conseguiu bancar alguns cursos para mim com as economias que ela tinha guardado da venda dos bordados - décadas de trabalho sentada numa máquina. Além da minha mãe, minha tia e meu tio também me acolheram quando saí do interior e fui para São Paulo fazer os cursos que iriam mudar o rumo da minha vida.
Eu tinha me formado no final de 1997 e só consegui meu primeiro emprego no início do ano 2000 como DBA Oracle (Administradora de Bancos de Dados) numa universidade do interior que estava em expansão. Saudades dessa época."
Andrea Motta, 38, diretora no UK Brazil Tech Hub
"A disparidade entre o número de mulheres e homens na tecnologia criou ciclos viciosos perversos para nós. Um deles é dificuldade de ascender a cargos de liderança, já que a maioria esmagadora dos tomadores de decisão são homens. Isso faz com que os processos de recrutamento para cargos de direção, as indicações e promoções sejam feitos por homens que acabam escolhendo mais homens para essas posições.
O caminho para chegar até a diretoria foi, para mim, muito mais longo que para vários colegas homens com tempo de experiência e qualificações iguais ou até mesmo inferiores aos meus.
Em certo momento, olhei para o lado e vi vários deles recebendo reconhecimentos, salários equivalentes ao dobro ou mais que o meu, promoções, acessos e decidi que não mais ficaria em um lugar que não me proporcionasse oportunidades justas de chegar à liderança. Eu insisti para ocupar esse lugar exatamente porque somos poucas, mas quando uma mulher segura a caneta, ela empodera outras mulheres a fazer o mesmo."
Ciranda de Morais, fundadora da She'sTech, vice-presidente de Empoderamento Digital da Sucesu Minas e GuildMaster da Campus Party Brasil
"Eu acho que um dos maiores desafios é a representatividade quando você vai entrar no mercado de tecnologia. Da ideia que eu tive até dar o primeiro passo, levaram seis anos. Eu não sabia como começar, não conhecia nenhuma mulher do meu meio, então senti muita dificuldade. Participei de um programa de aceleração com 43 startups, só cinco tinham CEO mulheres. No curso do departamento de ciência da computação da UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] menos de 10% da sala era de mulheres; corpo docente e os palestrantes eram todos homens. Eu sentia que aquele ambiente tão masculino estava me influenciando negativamente nos meus resultados profissionais.
Essa falta de representatividade, de uma rede de apoio, foi o meu grande desafio. Eu consegui superar isso criando a She's Tech, criando essa rede de apoio.
Dani Marinho, consultora e tecnologista com experiência em desenvolvimento de software
"Quando eu comecei, há oito anos, havia poucos movimentos de mulheres na tecnologia. Eu, até pouco tempo, não entendia a dificuldade de mulheres e de mulheres na tecnologia. Eu desenvolvi um perfil muito extrovertido, que gosta de falar em público, e esse não era o perfil nos cursos de tecnologia naquela época. Quando eu entrei na faculdade, eu fui muito questionada se eu estava na área correta, principalmente porque eu era uma mulher programadora.
Uma vez uma professora parou a minha apresentação para dizer que eu deveria fazer jornalismo. Então, eu mulher, programadora, extrovertida, não tinha o perfil do estereótipo daquela época.
Quando você é questionada demais, começa a se questionar se aquilo é verdade, então durante muito tempo eu achava que eu não estava na área certa, que eu não poderia crescer como programadora, que talvez eu devesse ir para testes ou para negócios (que geralmente tinham mais mulheres). Eu não me sentia inspirada a continuar. Meu maior desafio foi lutar contra isso, e poder hoje falar que tenho oito anos numa carreira de programação, sou desenvolvedora sênior em uma empresa internacional. Eu conto a minha história para inspirar outras mulheres de que é possível ser uma programadora e crescer. Olhar para trás e ver o tanto de dificuldades que eu passei como mulher na tecnologia e estou aqui hoje, rodeada por outras mulheres técnicas também e que me inspiram."
Gal Rosa, 43, embaixadora do LAB60+
"O maior desafio foi confiar no meu próprio potencial e na minha própria capacidade.
Outro desafio interessante foi justamente entender que, no fundo, não há uma relação competitiva no mercado de trabalho. O que há é um apoderamento, uma apropriação, um senso de autorreconhecimento de que você também é capaz.
Foram, na verdade, alguns anos para que isso se assentasse dentro de mim, me tornando bem mais forte do que antes, como sou hoje, mas também consciente dos muitos desafios a serem superados."
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