Eleita, viúva de Marielle retomará seus projetos e quer disputar Senado
A vereadora eleita Monica Benicio atendeu ao telefonema de Universa com a voz muito rouca e o tom inegavelmente feliz, na segunda-feira (16), um dia após as eleições do Rio de Janeiro. A viúva de Marielle Franco, estreante na política, recebeu 22.919 votos e garantiu seu lugar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
"Eu nem me lembro direito o que fiz ontem. De dia, fiquei com a minha família e, à noite, fui para a Garagem dos Ambulantes, (no Centro do Rio), tomar uma cerveja. Haja coração", brincou ela, em uma conversa em que falou da eleição, do legado político da ex-companheira, que busca resgatar, e das pretensões para seu futuro na política. A seguir, trechos da entrevista.
UNIVERSA: A que você credita a sua eleição?
MONICA: A minha eleição veio do desejo da cidade do Rio de devolver nas urnas a democracia que, na noite de 14 de março, tentaram tirar na bala. Com certeza, houve muito apoio das mulheres e da população LGBT, a campanha foi pautada por bandeiras progressistas e feministas. Fiquei muito emocionada com o resultado. Essa é a maior bancada da história do PSOL e há muitas mulheres na esquerda.
Qual deve ser sua primeira ação ao assumir o gabinete?
Eu vou voltar a olhar os projetos da Marielle [eleita vereadora em 2016 com mais de 46 mil votos], vou cobrar da prefeitura que sejam efetivados, principalmente a PL da Visibilidade Lésbica, para que a data passe a integrar o calendário oficial da cidade.
Por que esse projeto em especial?
Porque ele fala da minha família. Do direito de amar sem temer, do mundo que eu acredito e quero construir.
Você fala abertamente sobre seguir o legado de Marielle, dar continuidade ao que foi interrompido pela morte de sua ex-companheira. Você não tem medo de morrer?
Eu tenho muita fé na vida, e não acho que a morte é um fim em si mesmo, eu não acho que é um fim na matéria e estou profundamente feliz em estar viva, por ela e por mim.
Depois do repasse de fundos do partido, sua principal doadora foi a deputada estadual do PSOL, Renata da Silva Souza, que concorreu à prefeitura. Sua campanha recebeu R$ 40 mil, um terço dos valores distribuídos por Renata. Por quê?
Essa campanha foi um grande investimento por parte do partido em uma pauta feminista, de uma mulher sapatão e favelada. Obviamente, essa aposta tem a ver com eu ser a viúva de Marielle Franco, já que o partido é muito comprometido com a bandeira da justiça. Sobre a Renata, eu tenho um profundo carinho por ela, e já tinha muito respeito por ela, mas durante as eleições ela ganhou minha profunda admiração. O que ela fez foi histórico, foi um ato de muita coragem se lançar à candidata da Prefeitura do Rio.
[O PSOL elegeu 7 vereadores e teve o vereador mais votado do Rio, Tarcísio Motta.]
Houve algum momento particularmente difícil durante a campanha?
Honestamente, todos os dias foram difíceis. Toda manhã eu acordo, faço minhas orações para Marielle, eu conto cada dia, e foi difícil acordar todas as manhãs sem saber se era mesmo isso o que eu deveria fazer, se era o correto com a memória dela, se ela gostaria que eu me candidatasse, se ela estaria me apoiando.
E agora, eleita, como se sente?
Eu estou no único caminho possível para mim hoje. Fiz o que tinha que fazer e já não tenho nenhuma dúvida: Marielle está orgulhosa do que a gente fez até aqui.
Você acompanhava o cotidiano de Marielle e as dificuldades do cargo. Qual você acha que será o maior desafio em seu novo ofício?
Sinceramente? Acho que a minha maior dificuldade vai ser manter a paciência diante da política bolsonarista. Difícil manter o decoro com um Carlos Bolsonaro [vereador reeleito, do Republicanos], um Gabriel Monteiro [PSD]. Tem que ter muita paciência para a democracia. Foi lindo ver o bolsonarismo perder nas urnas, com todo o dinheiro que eles têm, com o gabinete do ódio, foi o Tarcísio Motta quem teve a maior votação. [Tarcísio Motta foi eleito pelo PSOL e teve 86 mil votos contra 71 mil de Carlos Bolsonaro.]
Onde você se imagina daqui a quatro anos?
No Senado.
[Para estar no Senado em quatro anos, Monica precisaria se candidatar ao posto em 2022 ou eventualmente assumir a vaga durante a próxima legislatura como suplente]
O Rio viverá um segundo turno entre o prefeito Marcelo Crivella e o ex-prefeito Eduardo Paes. Como você acha que terá seu trabalho como vereadora impactado de acordo com quem vença?
Eu não considero a possibilidade de que o Crivella se eleja porque, sinceramente, eu tenho fé de que o povo do Rio de Janeiro terá a sabedoria de não reeleger o maior incompetente que já ocupou este cargo. Agora, eu construo com o PSOL, eu sou uma mulher de esquerda e socialista e farei oposição a qualquer um dos dois. Mas torço, do fundo do coração, que não seja o Crivella.
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