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70% das mulheres negras não estão satisfeitas com makes, diz pesquisa Avon

Campanha antirracista da Avon conta com Cris Viana, Zezé Mota, Magá Moura e Ana Paula Xongani - Divulgação
Campanha antirracista da Avon conta com Cris Viana, Zezé Mota, Magá Moura e Ana Paula Xongani Imagem: Divulgação

Natália Eiras

Colaboração para Universa

18/11/2020 16h19

Sete em cada dez consumidoras negras no Brasil não estão satisfeitas com os produtos disponíveis no mercado para seu tom de pele, enquanto 46% das mulheres não compram por não acharem um produto adequado para seu tom de pele. Os dados, que fazem parte de uma pesquisa da Avon com 1.000 mulheres de diversas partes do país, mostram o imenso desafio que o mercado de beleza tem no presente: desenvolver produtos para uma parcela significativa da população que não se vê representada nas prateleiras dos cosméticos.

Os resultados da pesquisa foram apresentados nesta terça, em evento virtual promovido pela Avon para lançar o documento "Black Paper - descobertas, dados e olhares inéditos sobre a representatividade da mulher negra brasileira na indústria de maquiagem". A ação inclui ainda a revisão e ampliação dos produtos da marca voltados para a pele negra e o lançamento do manifesto antirracista "Essa é a minha cor".

O levantamento foi apresentado pela pesquisadora e escritora Winnie Bueno e pela coordenadora de planejamento de comunicação da Avon, Carolina Gomes, e conduzido por Thelma Assim. "Levando-se em conta que, de acordo com o IBGE, 56% da população brasileira é composta por pessoas que se autodeclaram negras, a maquiagem da brasileira é a maquiagem negra. Ela não é um nicho", afirmou Winnie.

Contrariando as estatísticas, a pele negra nunca foi considerada como o padrão e vem sendo, há muito tempo, negligenciada pelo mercado de beleza. Um dos reflexos disso, segundo a pesquisa, é que 57% das entrevistadas misturam ou já tiveram que misturar diferentes tonalidades de base para encontrar a mais adequada para sua pele. Além disso, 67% delas relatam desconhecimento das vendedoras na hora de atendê-las.

"Esse empoderamento estético que vemos, em que as mulheres usam seus cabelos naturais, seus turbantes, é resultado de ferramentas que as próprias mulheres negras articularam, porque o mercado não as atendia. É resultado de uma luta histórica", diz Winnie.

Campanha da avon - Divulgação - Divulgação
Imagem da nova campanha da Avon
Imagem: Divulgação

Foco no subtom e novos produtos no mercado

Além da pesquisa estatística, a marca também fez, em parceria com a maquiadora e empresária Danielle DaMatta, criadora de uma linha própria de bases, um estudo aprofundado sobre a beleza negra brasileira. "Fizemos, por oito meses, uma investigação sobre as diversas tonalidades e subtons destas mulheres." O resultado vai ser incorporado ao portfólio de produtos da Avon, que deve lançar 51 novos produtos até 2021 baseados nas descobertas feitas durante o estudo.

Ainda neste ano, chegam ao mercado 28 novos produtos de maquiagem: 7 tons da base líquida Power Stay (totalizando 11 tons para pele negra), 7 tons de base compacta (totalizando 11 tons para pele negra), 10 tons de corretivo Power Stay (6 tons para pele negra), 2 tons de pó (totalizando 4 compactos para pele negra), 1 tom de blush (totalizando 4 para pele negra) e 1 iluminador Face Drops.

A empresa também passará a nomear os produtos por número e indicação de subtom (frio, neutro ou quente), excluindo referências alimentares ou referência a etnias.

Paleta de tons da Avon - Divulgação - Divulgação
Paleta de tons da Avon
Imagem: Divulgação

Painel sobre afetividades

Durante o evento, Winnie e Thelma lembraram de situações como a enfrentada pela ex-BBB durante o reality show da Globo, em que a base da participante foi chamada de "barro" por um colega de confinamento. "São pequenas dores como essa que queremos evitar", falou Winnie.

Após a apresentação da pesquisa, em um painel sobre afetividades, as convidadas Cris Viana, Larissa Luz, Ana Paula Xongani, Magá Moura e Zezé Motta falaram da relação que criaram com sua ancestralidade e beleza.

Zezé lembrou, por exemplo, que se percebeu bonita quando entrou em contato com a comunidade negra dos EUA. "Lembro de ver todas aquelas mulheres lindas e me perguntar porque eu não me achava também bonita. Foi porque me ensinaram que eu não era", contou a atriz. Para ter uma maquiagem que lhe atendesse, ela precisava trazer de fora. "Eu tinha que importar meus produtos, para não ficar com a cara branca, de palhaça."

Cris contou sobre amigos maquiadores que lhe confidenciaram que, muitas vezes, não tinham maquiagem para atender as modelos negras e tentavam "disfarçar" o erro dizendo que a pele delas era linda. "Nem precisa passar nada", reproduziu a atriz. "Eu sei que sou maravilhosa, mas também quero ficar ainda mais bonita", ela mesmo retrucou.

Por isso, ela vê o lançamento de produtos para pele negra como algo extremamente positivo para o mercado e para a autoestima dessas consumidoras. "Estou apresentando maquiagem para as minhas tias, porque elas não tinham nada para elas e agora podem esconder uma olheira quando precisarem."