Por que é cada vez mais difícil colocar um ponto final nos relacionamentos?
A relação não estava boa e o jeito foi terminar. Mas o ponto final tem mais cara de reticências: as ligações continuam, mensagens vão e vêm, encontros casuais continuam a acontecer após o término e a sensação é que o fim do relacionamento se dá em (dolorosas e caras) prestações emocionais
E não se trata, necessariamente, de namoros ioiô, daqueles em que nunca se sabe se um casal está junto ou separado, onde há rupturas seguidas de reconciliações. Há casos em que, por mais que haja uma decisão pelo fim da relação, isso não se dá em vias práticas, já que há uma dinâmica de continuidade, seja em encontros, seja na constância de conversas. Existe o término, mas a separação efetiva não vem.
Quando se trata de relacionamentos, generalizar é muito difícil e esse processo pode funcionar para certos casais. "Varia bastante de indivíduo para indivíduo, alguns casais conseguem terminar e seguir se vendo, se falando e ficando sem compromisso, mas eu diria que isso é uma exceção. Para a maioria das pessoas, esse contato posterior não é saudável, alimenta a esperança de voltar, nutre os sentimentos, os ciúmes e o amor", explica o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex).
"Pode funcionar porque cada casal é de um jeito e cada um elabora seus ciclos de maneira particular, mas esses términos costumam trazer dor, sofrimento, sensação de incompetência por não conseguir terminar as coisas", afirma a terapeuta de casais Denise Figueiredo, no Instituto do Casal.
E apesar de ser possível que a dinâmica funcione, o prolongamento do fim tende a piorar. "É a mesma relação, você volta para as mesmas questões de novo e de novo, e, geralmente, de uma forma mais desgastada", afirma Denise Figueiredo.
Terminar passa pela vida virtual
Um fator específico da vida moderna faz esses "término parcelado" ser tão comum: as redes sociais. É bem mais difícil cortar a presença virtual de alguém na sua vida. Imagina tentar se distanciar de alguém de quem você segue recebendo notificações, vê os status, os stories, os tuítes, parece quase impossível — e é. As redes têm uma parcela de culpa na dificuldade de desfazer os laços.
"As redes sociais e as mídias nos mantêm conectados. Hoje, terminar quer dizer que você precisa sair do grupo da família do seu namorado, de grupos de amigos em comum. Isso vai trazendo uma complexidade para os términos, porque você tem que dar conta de vários términos: nas redes, no WhatsApp", explica a terapeuta Denise Figueiredo.
E, nesses casos, radicalize se sentir que é necessário. "Se está certo do término, bloqueie das redes sociais quem for preciso para parar de ver, procure não fuxicar: isso só atrapalha. Dali a algum tempo, você pode retomar a relação, adicionar novamente, se for o caso, mas, para superar, funciona melhor cortar o contato", diz Eduardo.
Pior para um dos lados
Nestas situações, explicam os especialistas, quase sempre há um lado que vai sair mais prejudicado e fragilizado emocionalmente. O que não quer dizer que, necessariamente, há alguém bom e alguém mau na história: só maneiras diferentes de encarar o fim.
"Depende da patologia do casal: cada um tende a viver o término de um jeito, cada um tem uma subjetividade, uma construção do que é apego, é bem distinto para um e para o outro, tem partes que encaram com mais ou menos intensidade", explica Denise, por isso às vezes uma parte está chorando e a outra parece estar mais de boas com o assunto.
O término também pode ser um momento de confusão em relação aos próprios sentimentos e a sobre como lidar com aquela relação amorosa que chega ao fim.
"Existem casos em que as pessoas não se importam com o que o outro está sentindo após o término, é como se o afeto que houve durante a relação morresse mesmo. Em outros casos, as pessoas não conseguem terminar porque não sabem bem o que querem com aquela relação", explica Eduardo.
Relacionamentos tóxicos: os mais difíceis de sair
Essa dificuldade de finalizar um relacionamento não acontece apenas em relacionamentos tóxicos e abusivos, mas é particularmente comum nesses casos.
"Quando se fala se de um relacionamento tóxico, é comum continuar tendo contato. Quando uma das partes está começando a movimentar a vida, a outra percebe, aparece e balança. Isso acontece porque nessas relações é muito comum que seja desenvolvido um amor e um ciúme obsessivos e isso pode fazer com que as pessoas corram atrás para marcar território, até para ver se o outro ainda fica mexido", explica Eduardo.
Para deixar a/o ex no passado
Infelizmente, ao final dessa matéria você não vai encontrar uma fórmula mágica que explique como acabar de vez essa relação que já não é a ideal. Até porque, nenhuma receita pronta se aplica quando o assunto é relacionamento. Mas procurar se perceber fora da relação pode ajudar.
"Foque na sua autonomia, na sua individualidade, nos seus projetos. Em vez de pensar que quer terminar o namoro, na frustração, que queria já não sentir mais nada, pense nos seus sonhos, nos seus objetivos. Pare de olhar para a relação e olhe para você. Isso pode ser uma forma de conseguir se fortalecer e quebrar esse ciclo vicioso", diz Denise.
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