"Fiz pornô tradicional, mas hoje produzo meus próprios vídeos para redes"
Quando eu entrei no pornô, em 2015, só queria fazer esse trabalho sem ser julgada. Sempre gostei de sexo, sempre me senti muito à vontade com a minha sexualidade. Quando eu era mais nova e mostrava isso, era tachada de puta. Decidi que seria uma puta remunerada.
Comecei tarde, com 33 anos. Eu queria seguir a carreira de dançarina, mas o que eu ganhava não compensava o que eu investia em cursos. Então passei a fazer transmissões pela webcam, mas só do nariz para baixo. Até que mostrei meu rosto e adotei o nome de Emme White, apelido de Emmeline, meu nome verdadeiro.
Foi quando comecei a pesquisar sobre produtoras de pornô e conversei com outras atrizes para saber como funcionava. Entrei em contato com a produtora XPlastic dizendo que gostaria de fazer um trabalho com eles justamente porque tinham uma proposta diferente do pornô tradicional, com mulheres de diferentes tipos de corpos, filmes mais elaborados e produzidos.
Mas, em 2016, fui para o pornô mainstream. Estava na fase de experimentar. Fui para a Casa das Brasileirinhas [reality show adulto] três vezes. Depois de um tempo, comecei a ter meu julgamento próprio.
Os filmes adultos tradicionais ainda carregam resquícios dessa coisa machista de o ponto principal ser o gozo do homem. Na hora do sexo oral, tem muito mais a satisfação do homem do que o contrário, as posições são as que agradam os homens, o foco é o prazer masculino.
Minha avaliação mudou na gravidez
Eu já tinha construído meu nome e pensei: 'Peraí, vamos parar pra pensar o que eu gosto na verdade de fazer?' Não era aquilo.
Bati o martelo sobre isso quando tive a minha filha, em 2018. Ainda grávida, fiz trabalhos para a XPlastic, e um especial sobre sexo na gravidez. As outras empresas não quiseram, não sei o que passou na cabeça deles, acho que ficaram com medo de algo acontecer comigo e não queriam se responsabilizar.
Sentia um julgamento moral, ouvi de pessoas coisas como: 'Mas você vai gravar? Não pensa no seu filho?' Eu dizia que continuava sendo mulher, que estava tudo bem comigo e com a gestação. Qual era o problema? Se eu estivesse fazendo sexo com um marido não teria problema nenhum.
Depois que minha filha nasceu, fiquei quatro meses parada. Voltei a fazer webcam aos poucos e a gravar filmes da XPlastic para o canal Sexy Hot. O que eu gosto dessas produções é que elas têm roteiro, é mais elaborado, têm história, uma estrutura, figurino.
Produzindo material para mim mesma
Com a pandemia e parada nas gravações, veio o pontapé para eu começar a produzir para os meus canais nas redes sociais. Comecei a gravar com atores e atrizes que já conhecia, e combinamos que cada um postaria o material em suas redes. Vejo que o mercado está nessa transição, os atores e atrizes descobriram que se pode ganhar dinheiro em outras mídias, do seu jeito. Foi o que eu fiz.
Como camgirl e por já ter um certo nome, agora ganho R$ 300 em uma hora. Entre as vantagens, não preciso sair de casa e ninguém encosta em mim. Ainda presto a atenção no que a audiência quer, mas faço do meu jeito.
A maioria que consome esse conteúdo ainda é homem. Percebo que está aumentando o número de mulheres vendo pornô e elas estão mais livres para falar do que gostam. Eu, antes de ser atriz, também não assistia ao pornô.
Não considero o pornô uma opressão. Eu sou exemplo de sei o que estou fazendo, gosto, não me sinto oprimida. Fico preocupada com a exposição precoce dos adolescentes, até crianças, a esse conteúdo. Mas aí é outra conversa.
O pornô não vai acabar, as pessoas sempre tiveram e vão ter a curiosidade de ver outras pessoas nuas, fazendo sexo. O que acho que dá para fazer é tornar os filmes mais humanos, menos mecânicos.
Eu queria ir poder ir ao parquinho com a minha filha e dizer o que eu faço se me perguntarem, sem ser julgada.
Meu trabalho me dá prazer, dinheiro, gosto muito do que faço. É possível uma mulher escolher esse caminho porque quis, porque gosta, porque acha que é bem remunerada por isso. Se quiser ser dona de casa, tudo bem também. Me considero feminista porque acredito que feminismo também é isso: deixar a mulher livre para fazer o que quiser fazer.
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