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Vereadora eleita denuncia ataques transfóbicos; 'grotesco', diz delegada

A pesquisadora e ativista Linda Brasil (PSOL), primeira vereadora trans eleita em Aracaju (SE) - Reprodução/Instagram
A pesquisadora e ativista Linda Brasil (PSOL), primeira vereadora trans eleita em Aracaju (SE) Imagem: Reprodução/Instagram

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

25/11/2020 07h33

A pesquisadora e ativista Linda Brasil (PSOL), primeira vereadora trans eleita em Aracaju (SE), registrou ontem um boletim de ocorrência para denunciar ataques de cunhos racista e transfóbico que vem sofrendo desde que venceu a disputa, no dia 15 de novembro. Ela foi a candidata que mais recebeu votos - 5.773, no total - entre outros 23 concorrentes ao Legislativo da capital sergipana.

Titular da Dachri (Delegacia de Atendimento a Crimes Homofóbicos, Racismo e Intolerância Religiosa), a delegada Meire Mansuet disse ao UOL que o teor das ofensas direcionadas à vítima é "extremamente grotesco". Ela informou já ter instaurado um inquérito para investigar o caso e afirmou que os autores, se condenados, poderão cumprir pena de até cinco anos de prisão.

Linda Brasil relatou à reportagem que as investidas das quais se tornou alvo partem tanto de publicações feitas em redes sociais quanto de mensagens de áudio compartilhadas via WhatsApp. A vereadora eleita disse que, embora não seja a primeira vez que sofra algo do tipo, passou a temer por sua integridade física.

Graduada em Letras Português-Francês e mestra em Educação pela UFS (Universidade Federal de Sergipe), Linda Brasil fez uma campanha enfatizando sua luta em defesa dos direitos humanos e combate ao racismo, à LGBTfobia e ao machismo.

"Resolvi procurar a delegacia devido aos ataques que venho sofrendo desde o resultado das eleições. Não tolerarei violência transfóbica contra mim, uma vereadora democraticamente eleita, nem contra nenhuma pessoa LBGTQI+. Vamos judicializar todas as denúncias para que esses criminosos sejam criminalizados", disse ela ao UOL.

Além de prestar depoimento, Linda Brasil levou à delegacia os prints e o material em áudio para auxiliar a investigação policial.

Delegada se diz "perplexa"

A delegada Meire Mansuet afirmou já ter indícios dos prováveis autores dos ataques. Ao enquadrar o caso como um ato de racismo transfóbico, ela menciona decisão do Supremo, proferida em julho do ano passado, que equipara a discriminação por identidade de gênero ao crime de racismo.

Sobre o teor das ofensas dirigidas a vereadora, a delegada explicou que são adjetivos que visam ferir a sua honra.

"Fazem discriminação de cunho transfóbico, externando preconceito onde referenciam ela no masculino, referenciando-a como 'ele'. Alguns chegam a dizer que é o 'demônio' que está no corpo dela, que a faz se vestir de mulher. Coisas extremamente grotescas, que perpassam até por questões espirituais, religiosas. São afirmativas que caracterizam racismo transfóbico", detalhou.

A delegada também se diz "perplexa" diante do episódio. "Em pleno século 21, as pessoas sendo discriminadas por causa de sua identidade de gênero é muito triste, a gente fica abalada."

Mansuet afirmou que a Polícia Civil de Sergipe costuma agir de forma rigorosa na apuração de crimes de ódio. "Nós não vamos deixar impune todo esse preconceito que ela está sofrendo. Foi a vereadora mais votada aqui em Aracaju, ganhou as eleições, e isso está deixando algumas pessoas inconformadas", declarou.

"Nós já estamos com o material probatório na delegacia. Vamos ouvir agora as testemunhas, pessoas que tiveram conhecimento e visualizaram essas mensagens e que vão funcionar como testemunhas do caso, e aí a gente o encaminha para a Justiça. Temos até 30 dias para concluir essa investigação, ou seja, identificar os autores e indiciá-los pelo crime de racismo", informou.