"Vejo vantagens em envelhecer", diz Carla Vilhena, 1ª âncora grisalha da TV
Quando pediu demissão da Globo, há três anos, Carla Vilhena falou sobre a pressão que teria sofrido por conta do cabelo — a emissora insistia que ela cortasse os fios, que prefere usar bem longos — e criticou o fato de que "quase nenhuma jornalista [mulher] passa dos 50 anos no ar". Aos 53, no entanto, ela foi contratada pela CNN e apresenta as notícias, há um mês, com o cabelo na altura da cintura e raiz grisalha aparente.
Ela é a primeira âncora da TV brasileira a comandar um telejornal com os fios brancos — enquanto, entre os homens, essa é uma característica bem mais comum, desde Cid Moreira, passando por Renato Machado, Chico Pinheiro e William Bonner, entre muitos outros. À Universa, ela questiona essa desigualdade.
"Ainda há um certo problema da sociedade em ver a mulher envelhecendo, e eu não acho que tem que ser desse jeito. O cabelo branco em si não é feio, tem mulheres jovens que pintam o cabelo de branco, de cinza, e ninguém se incomoda. O nosso incômodo não é com a cor dos fios, mas com o envelhecimento", afirmou, à Universa.
"Eu vejo que as mulheres têm muito medo de envelhecer, mas eu não tenho esse medo, vejo muitas vantagens. Envelhecer liberta a gente de muita coisa fútil, muita bobagem, do medo do julgamento dos outros".
"Não é fácil"
Carla garante que essa não é uma bandeira que levanta e diz que pode mudar de opinião e cobrir os fios brancos a qualquer momento, mas defende que as mulheres tenham liberdade de escolher se querem pintar.
Ela recebe mensagens de seguidoras dizendo que têm vontade de deixar o branco aparente, mas que ainda não conseguem — e entende: "Realmente não é fácil".
"Eu nunca gostei de pintar. Nos primeiros fios brancos, eu pintava fio a fio, mas logo comecei a passar muitas horas no salão. Quando engravidei do meu filho caçula, resolvi parar de pintar geral, mas era horrível, porque fica aquela coisa esquisita, uma parte pintada e outra parte com o fio branco. É trabalhoso [o processo de transição]".
"O que eu digo para as mulheres é: se tem alguém próximo dizendo que você tem que pintar, você tem que refletir se está obedecendo à sua vontade ou à vontade de outra pessoa. A opinião dessa pessoa importa muito? Caso contrário, você tem que obedecer a você mesma".
À Universa, Carla preferiu não comentar as críticas que já fez à pressão estética na Globo, e garante que seu visual não foi um assunto abordado nem por ela e nem pela CNN no momento da contratação, em outubro:
"Eu acho que esse é um sinal dos novos tempos. Tem muita coisa mudando, a gente vê a publicidade se questionando, todo mundo querendo mostrar seres humanos normais, sem muitos artifícios".
"A gente precisa voltar os olhos para o etarismo. Acabar com essa coisa, principalmente do Brasil, de só valorizar o jovem e deixar de lado pessoas com mais experiência. Essa é a próxima fronteira que deve ser superada, é mais um passo dentro da diversidade que a gente quer ver".
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