Topo

Plano de negócios: como colocar as ideias de sua nova empresa no papel

Carolina Dini: sua primeira empresa fechou por falta de planejamento; ao fundar a Be Faster, fez um plano de negócios detalhado - Simon Plestenjak/Folhapress
Carolina Dini: sua primeira empresa fechou por falta de planejamento; ao fundar a Be Faster, fez um plano de negócios detalhado
Imagem: Simon Plestenjak/Folhapress

Caroline Marino

Colaboração para Universa

01/12/2020 04h00

Aos 35 anos, Carolina Diniz é hoje a feliz fundadora da Be Faster, uma escola de inglês que vai muito bem, obrigada. Mas ela não pode dizer o mesmo a respeito de seu antigo empreendimento. Antes de abrir a escola, Carolina teve um comércio de roupas que não se sustentou. O problema? Ela não fez um bom plano de negócios.

"Eu era boa com pessoas e sabia vender, mas não tinha nenhum planejamento. Aí quebrei", lembra. Apesar de vender bem, Carolina gastava mais do que podia e não sabia ao certo para onde o dinheiro estava indo. Assim, ficava difícil reinvestir na empresa e manter um fluxo de caixa. "Aprendi muito com essa experiência e, ao pensar na escola de inglês, fiz tudo diferente", diz.

Ela conta que começou a investir em cursos de autoconhecimento, como de programação neurolinguística e neurociência, para não cometer os mesmos erros, e a estudar muito o mercado. "Tenho minhas metas e objetivos bem claros, assim como onde quero chegar e como farei isso."

Hoje, a Be Faster, que começou com um investimento de R$ 600, tem mais de 5,000 alunos e um plano de negócios bem estruturado - que é revisto constantemente para a tomada de decisão mais assertiva.

Carolina Diniz, fundadora da Be Faster  - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Imagem: Simon Plestenjak/UOL
Carolina Diniz no sofá - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Por que um plano de negócios é importante

Casos como o da loja de roupas de Carolina não são raros. Apesar de planos de negócios serem usados há anos para detalhar todos os objetivos da empresa, além das fases que precisam ser superadas para que as metas sejam alcançadas, muita gente ainda negligencia essa etapa.

"Há quem pense que se trata apenas de dados jogados em uma planilha, mas, na verdade, o plano é um documento detalhado e prático que possibilita à empreendedora a inserção das mais diversas informações sobre o futuro negócio", diz Wilson Poit, diretor superintende do Sebrae-SP.

Com essa ferramenta, é possível fazer análises financeiras e de mercado antes de tomar decisões. "Quando colocamos as ideias no papel, conseguimos absorver de outra forma as informações e visualizar o horizonte que queremos - e como chegar a ele", diz Marcele Porto, criadora do grupo do Facebook JuntasSomos+, pesquisadora de empreendedorismo feminino e professora convidada da Fundação Getulio Vargas.

As dificuldades de se planejar uma empresa

Daniele Amaro, 40, cofundadora e CEO da Paytrack, que desenvolve soluções de tecnologia para gestão de despesas e viagens corporativas, sempre soube da importância do plano de negócios e, ao longo de sua carreira, acumulou experiências nesse sentido.

"Nas empresas em que trabalhei, atuava com novos projetos, como a criação de uma área ou de uma unidade - tarefas que exigem planejamento", conta. Ao pensar em empreender, usou essa competência e, desde o início, contou com um plano de negócios.

Segundo ela, a maior dificuldade foi deixar um pouco de lado a energia emocional. "Quando você está montando uma empresa, tem a tendência a olhar muito mais para os pontos positivos do que para o que pode não dar certo. Tirar um pouco a paixão é importante para o planejamento", afirma.

Segundo ela, é preciso ser mais fria e racional, e pensar em cenários que podem ser mais difíceis. Essa racionalidade é importante porque o plano deve simular todos os cenários possíveis e apontar caminhos para resolvê-los.

Por exemplo: e se a empresa não tiver o lucro esperado nos primeiros meses, com qual dinheiro você vai manter a operação? Aspectos assim devem ser contemplados nesse planejamento.

Carolina Diniz no escritorio - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

O que é necessário para um bom plano

Um bom plano de negócios deve abranger quatro fases, segundo Wilson. A primeira diz respeito ao produto ou serviço. Nessa parte, é importante responder algumas perguntas: para quem é o produto e onde será comercializado? Quem são os fornecedores? E os concorrentes? No que sou boa e em quais aspectos preciso me aperfeiçoar?

"Quando falamos em concorrentes, é essencial pensar também quem são as empresas que hoje não estão no seu mercado, mas que podem futuramente entrar. Olhar apenas para os rivais diretos é um erro", diz Guilherme Fowler, professor de estratégia do Insper.

A segunda está relacionada ao canal de vendas e ao marketing. Por onde o produto ou serviço será comercializado? WhatsApp, site, telefone, espaço físico? Como serão as entregas, qual o preço e como você vai promover sua empresa: no LinkedIn, no Facebook ou no Instagram, por meio de folder ou ligações? "Aqui, a empreendedora deve pensar em qual o diferencial da empresa e como vai se comunicar com o cliente", diz Wilson.

Além disso, o plano de negócios deve abordar o processo operacional: quem fará o atendimento da sua empresa? Como será a produção dela? Vai ser preciso contar com um estoque?

Por fim, é crucial abordar a parte financeira. "É preciso fazer uma análise de quanto será preciso para abrir e manter a empresa nos primeiros meses. Assim, é possível definir de onde virá o dinheiro e qual a perspectiva de faturamento", afirma Wilson. Segundo ele, nessa etapa é importante, ainda, projetar o valor gasto em mão de obra e se será preciso contratar funcionários.

As melhores metodologias para a revisão do plano

Mas é importante ter em mente que o plano de negócios é algo vivo, que deve ser revisto sempre. "Não pode ser um documento que você pendura na parede e nunca mais olha", diz Guilherme.

Segundo ele, o tempo para revisá-lo depende muito do setor em que a empresa está inserida. Em um negócio de uma área em que não há tanta inovação, como uma confeitaria, por exemplo, ele pode ser revisto a cada três ou quatro meses. No setor de tecnologia, em há sempre mudanças, é preciso rever a cada 15 dias.

Algumas metodologias podem ajudar nesse processo, como o Business Model Canvas, um mapa com as informações sobre o futuro do negócio dividido em nove blocos, que o próprio Sebrae disponibiliza gratuitamente na internet. Outro método é a Análise SWOT, que consiste na realização de um diagnóstico completo sobre a empresa e o ambiente que a cerca.

O importante é que se gaste energia com esta etapa. "A falta de um plano básico pode pegar o empreendedor de surpresa e isso, em algumas situações, pode significar um beco sem saída", diz Wilson Trevisan, consultor da LHH, que atua com desenvolvimento de talentos e transição de carreira. A loja de roupas de Carolina Diniz que o diga.


Check-list

4 passos essenciais para um bom plano de negócios

  • Questione-se: seu produto ou serviço resolve, realmente, um problema no mercado? A principal razão pela qual as empresas falham é ofertar algo que as pessoas não precisam. O que você vai vender, quem são os fornecedores e, principalmente, os concorrentes?
  • Olhe para o comercial e o marketing: você precisa definir qual será seu canal de venda e como vai fazer a divulgação de seu produto ou serviço
  • Pense na operação: apenas você vai dar conta de tudo ou vai ser necessário mais pessoas para tocar a empresa?
  • Faça, com base em tudo o que avaliou até aqui, uma análise financeira: é essencial projetar quanto você precisa para abrir e manter a empresa por alguns meses, além de decidir como você vai obter esse dinheiro - com familiares, no banco ou com investidores