Hana Khalil: "Não tenho medo de ser cancelada mas sim de ser incoerente"
Feminista, vegana, ex-BBB e ex-participante do De Férias com o Ex, Hana Khalil soma mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram. E o motivo de tamanha fama é a mistura de sua personalidade com o jeito extrovertido, espontâneo e simples que Hana encontrou de se comunicar.
Aos 24 anos, a jovem tem fortes opiniões políticas sobre vários assuntos, de agronegócio a padrões estéticos impostos às mulheres.
Ela reconhece privilégios - sabe que é branca, magra e "padrão" - mas luta contra estereótipos de feminilidade, entre eles a depilação, e usa as redes sociais para debater e repercutir esses temas. Hana também faz força para fugir do estereótipo da militante de sofá. Cansada de ver os problemas sociais apenas pela tela do celular, Hana deixou o seu apartamento no Rio de Janeiro e foi para o Pantanal, onde lutou ativamente contra os incêndios e começou a estudar sobre ecologia.
Em Brasília, por telefone e direto da casa da amiga e também influencer Alexandra Gurgel, Hana respondeu a 10 perguntas de Universa.
Você tem mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram. Esse número assusta?
Ter tanto seguidor é uma responsabilidade imensa, apesar de ser um privilégio. As pessoas me seguem por inúmeros motivos, principalmente porque me viram na TV, então eu consigo atingir e alcançar seguidores que não estão, necessariamente, interessados nos assuntos que defendo. Quero cada vez mais aprimorar o meu conteúdo e aprimorar o meu discurso, para que ele seja cada dia mais simples, útil e didático. E que ele fuja de um estereótipo, porque eu ainda sou uma mulher branca e privilegiada que erra muito.
Não faz muito tempo que você se envolveu em uma polêmica com o auxílio emergencial e, logo depois disse que ficou mal pelos ataques que sofreu na internet. Você tem medo de ser cancelada?
Não, eu não tenho medo de ser cancelada, tenho medo de ser incoerente. O cancelamento é uma coisa que todas as pessoas que produzem conteúdo online estão fadadas a enfrentar. Quanto mais os influencers se posicionam, mais eles são cobrados. Por eu ter participado de realitys shows, as pessoas se sentem no direito de comentar sobre a minha vida, e elas acham que me conhecem porque me viram na TV.
Eu mesma já fui a canceladora, mas aprendi que às vezes é importante olhar a internet com um olhar mais cirúrgico, entender que todos estão evoluindo. Hoje não me sinto mais alinhada com essa proposta de criticar os outros. Entendi que cada um precisa rever o próprio erro. Muito das coisas que saem da boca das pessoas dizem mais sobre elas do que sobre mim.
Você é uma das principais vozes do veganismo no Brasil. Como é defender essa bandeira em um país dominado pelo agronegócio?
Meu ativismo surgiu depois de eu conhecer a bandeira do vegetarianismo ético. Parei para pensar como o sistema tratava os animais, como a carne era feita, o que os animais passavam e ali me dei conta de que é uma falta de empatia imensa. Esse foi o primeiro passo para eu começar a falar às pessoas que isso não era justo. Na mesma época, assisti a um vídeo em inglês da ativista Erin Janus, passei a compartilhar com meus amigos. Só que ninguém viu! Então, decidi gravar o mesmo conteúdo, só que em português. Logo o vídeo bombou e aí eu continuei a produzir conteúdo sobre o sistema de abate. Depois de um tempo, eu consegui entender, de fato, o que acontece no agronegócio do Brasil, como isso é insustentável em um país com tamanha biodiversidade e como isso prejudica os mais pobres.
Consegue enxergar uma solução para contornar este problema?
Eu vejo uma solução para frear o desmatamento, sim, seguindo o modelo de agrofloresta. Floresta de pé é um bioma de pé, é uma qualidade de vida de pé, é água limpa, é ar puro, é solo fértil, é gente se alimentando, são pequenas famílias produzindo. Eu acho que, se alimentar direito, sem agrotóxico, é um direito de todo mundo.
A luta vegana tomou outra proporção para mim, porque eu sou brasileira, e o problema no Brasil é muito mais complexo do que na Europa, do que nos Estados Unidos, por exemplo. Ser vegana aqui significa abraçar uma luta social e ambiental. Não tem a ver só com a gente parar de comer carne, tem a ver com um boicote ao sistema.
Após ver as queimadas no Pantanal, você foi fazer trabalho voluntário e ajudar no combate aos incêndios da região. O que te motivou a tomar essa decisão?
Eu senti que precisava parar de lutar do meu computador, do meu apartamento, do Rio de Janeiro. Eu queria encarar a situação com os meus próprios olhos. Então, entrei em contato com ONGs locais, e fui para lá fazer trabalho voluntário. Foi uma experiência maluca ver de perto algo que eu só tinha visto pela TV. Meu pai foi o responsável pela música de abertura da novela Pantanal, então eu tinha uma ligação muito forte com o lugar. Quando cheguei lá, fiquei arrasada com a situação. A coisa está feia.
A Hana de hoje tem vergonha da Hana que participou do BBB e do De Férias com o Ex?
Não, pelo contrário. Eu honro muito essa Hana. Ela teve coragem de descobrir quem ela era. A Hana antes do BBB, a Hana do BBB e a Hana pós-BBB são pessoas totalmente diferentes.
O problema da Hana do Big Brother é que ela achava que podia falar com todo mundo com a mesma abordagem que tinha com os melhores amigos. Ali, eu aprendi a me comunicar. Hoje não acho que ela fez nada de errado.
Já a Hana do De Férias eu achei ótima, não tenho nada a dizer sobre dela. Essas Hanas fizeram eu entender os meus propósitos e ver aonde eu quero chegar com tudo isso.
Como ninguém tinha feito antes, você levantou a bandeira do feminismo no De Férias com o Ex. E continua falando sobre o assunto. Qual a importância da luta feminista para você?
Hoje em dia eu adoro o programa, mas reconheço que rola muita misógina, machismo e racismo. Tem muita gente que não entende que o De Férias com o Ex é problemático. Estar lá, resistir ao patriarcado - e não estou dizendo que eu fui a Simone Beauvoir do programa - foi importante porque eu quis mostrar para as pessoas que não é normal as coisas que rolam lá dentro. É importante se opor, você não pode aceitar injustiças só para pegar um menino, ou para ficar bem com os caras.
Você acredita que é possível mudar a lógica de um programa como o De Férias com o Ex?
Ali é um antro da competitividade feminina, você sempre está concorrendo com as outras pessoas para saber quem é a mais bonita, por exemplo. Acho que isso pode mudar quando o programa passar a se dedicar mais à diversidade. Por mais que eu seja feminista, eu ainda sou uma mulher branca, magra e padrão. Não tem gente gorda, só teve dois negros em todas as edições. Isso não é real. Eu tive a preocupação de mostrar, não só para as telespectadoras quanto para as participantes do programa, o que era empoderamento feminino. E eu me agarrei a essa meta para me manter lá dentro.
Você teve que lidar com muito boy lixo durante o programa. Tem dicas de como aguentar?
Olha, eu acho que ninguém tem que aguentar boy lixo. Fomos educadas para acreditar que as mulheres precisam de paciência com os homens, que sempre precisamos ficar cuidando deles, é quase uma maternidade compulsória. A gente perdoa mais fácil um homem do que uma mulher quando eles erram. Quando o homem erra ele é moleque, criança, imaturo. Quando uma mulher erra, ela é uma pessoa ruim, ela é má. Não tem dica para aguentar boy lixo não, se você falou uma vez, duas vezes, e a pessoa não mudou, bola pra frente.
É a síndrome da mulher salvadora, né?
Sim. E temos que entender que somos suficientes e não precisamos disso. Eu não preciso de um homem me rebaixando e manipulando a minha cabeça. Se você falar algo para um homem e ele se propor a entender, 'olha desculpa sou um homem machista em desconstrução', aí já estamos falando de outra situação. Ainda assim você não precisa ser sempre a Madre Teresa de Calcutá e compreender todo mundo o tempo tempo. Levantem-se, posicionem-se sempre. Agora as coisas estão feias, a gente passou pelo caso da Mari Ferrer, e vimos que está na hora de nos unirmos. Gritem e façam o que precisar. Estamos sempre juntas.
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