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Unicef: Mulheres ampliam acesso, mas 30% ainda não tem pré-natal adequado

Jorgeane Andrade e Joane: pré-natal integral na rede pública do Ceará - Arquivo pessoal
Jorgeane Andrade e Joane: pré-natal integral na rede pública do Ceará Imagem: Arquivo pessoal

Fernanda Toyomoto

Colaboração para Universa

08/12/2020 14h28

No Brasil, mais de 2 milhões de mulheres em todo país receberam acompanhamento pré-natal adequado ao longo de toda a gestação no sistema público de saúde, em 2018. Segundo estudo divulgado hoje pelo Unicef, de 2016 a 2018 (último dado disponível), o percentual de mulheres com acesso adequado ao pré-natal (sete consultas ou mais) no Brasil cresceu 4,6%.

Apesar da ampliação, em 2018, 30% das gestantes não realizaram sete ou mais consultas ao longo da gravidez.

Falta de apoio da família, dificuldades de deslocamento, desinformação e descobrimento tardio da gravidez são alguns dos motivos que levam muitas gestantes a não realizarem o pré-natal ou as impossibilita de realizar as consultas dentro do período gestacional.

Nas regiões mais pobres, nas populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e em assentamentos, a mortalidade materna e de crianças com menos de 1 ano é ainda mais alta.

Já nos municípios do Semiárido e Amazônia Legal brasileira, certificados com o Selo Unicef, o aumento foi de 7,5%, representando 6.000 gestantes a mais em comparação a 2016.

Por que pré-natal é importante

Mulheres e recém-nascidos são mais vulneráveis durante e imediatamente após o parto. No mundo, estima-se que 2,8 milhões de mulheres grávidas e recém-nascidos morrem a cada ano, ou um a cada 11 segundos, principalmente de causas evitáveis, dizem as novas estimativas.

As crianças enfrentam o maior risco de morrer no primeiro mês, principalmente se nascerem muito prematuras, tiverem complicações durante o nascimento, defeitos congênitos ou infecções adquiridas. Cerca de um terço dessas mortes ocorrem no primeiro dia e quase três quartos apenas na primeira semana.

O quadro da mortalidade neonatal (morte de bebês nos seus primeiros 27 dias de vida) é um dos mais preocupantes: 70% das mortes de crianças com menos de um ano acontecem nesse período.

Quando ficou grávida de Joane, a fisioterapeuta Jorgeane Andrade, 32, procurou a rede pública de Quixeré (CE), a cerca de 200 km de Fortaleza. Ela queria ter certeza de que a criança nasceria saudável.

"Tive uma gravidez planejada e assim que soube da gestação busquei uma unidade de saúde e iniciei o pré-natal. Sempre fui bem assistida, fiz todas as consultas mensais e quinzenais, além de participar de um grupo de apoio que empoderava famílias e familiares", conta Jorgeane.

O pré-natal de risco habitual pode ser feito pelos enfermeiros ou médicos da unidade básica de saúde. Em casos em que não há, é preciso que um município vizinho disponibilize esse serviço para as gestantes de alto risco.

"Existiu uma intercorrência na minha gravidez. Desloquei a placenta e precisei passar por um especialista. O meu posto de saúde me indicou para um médico obstetra em Limoeiro do Norte que fica 15 km de distância de onde moro", relata.

O pré-natal é um direito da mulher

O pré-natal além de ser primordial, é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para todas as mulheres. Todas as gestantes têm o direito de serem acompanhadas, acolhidas e receberem a assistência necessária para o período.

"Ter acesso a sete consultas de pré-natal é fundamental para que o bebê nasça com saúde. Ao ampliar o acesso ao pré-natal, os municípios colocam os cuidados com a primeira infância em destaque e contribuem para que crianças cresçam com saúde", afirma Anyoli Sanabria, coordenadora do Unicef para a Amazônia.

Direitos assegurados à gestante

  1. O direito à saúde na gravidez com a realização de um pré-natal, um parto e um pós-parto de qualidade;
  2. Os direitos trabalhistas, direitos que regulamentam o vínculo de trabalho da gestante com o patrão ou com a empresa em que está empregada, garantindo a manutenção do emprego;
  3. Os direitos sociais: atendimento em caixas especiais (em lojas, farmácias e supermercados, por exemplo), prioridade na fila de bancos, acesso à porta da frente de lotações e assento preferencial.
  4. Além disso, as grávidas têm direito ao Cartão da Gestante. Nele são registradas todas as informações sobre o estado de saúde da mãe, o desenvolvimento da gestação e os resultados dos exames.