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"Todas minhas amigas curtem sex toys menos eu". Isso é um problema?

Sex Toys não é fórmula mágica e universal de orgasmo, dizem especialistas - Cecília Oliveira
Sex Toys não é fórmula mágica e universal de orgasmo, dizem especialistas Imagem: Cecília Oliveira

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

09/12/2020 04h00

Sua amiga conta que comprou um sugador de clitóris que mudou a vida dela. Outra diz que agora ela e o marido só transam se el estiver com anel peniano... E você? Bom, você não vê graça nenhuma nos tais "brinquedinhos eróticos". Com tantas novidades em produtos eróticos surgindo a todo instante e com o estímulo da mídia (reportagens, filmes, séries, perfis no Instagram, é só escolher...) louvando os benefícios dos sex toys, é comum que as mulheres que não curtem sequer um vibrador básico sintam um certo desconforto ou se questionem por não pertencerem a um universo do qual todas as outras falam maravilhas.

Mas será mesmo que sex toy é uma "fórmula mágica" para qualquer mulher? De acordo com especialistas consultados por Universa não há problema algum em não gostar de brinquedos sexuais. Porém, é importante entender as possíveis razões pelas quais os rejeitam.

Sem testar não dá pra saber

Muitas mulheres crescem sem compreender direito como funciona sua sexualidade e as múltiplas possibilidades que a envolvem. "Essa falta de compreensão se dá pela falta de educação sexual, visto que ainda vivemos em uma sociedade machista, patriarcal e com grandes influências da religião como reguladora do prazer sexual. Por conta dessa regulação muitas acreditam ser 'pecado' ou 'errado' o uso desses recursos, então não se abrem para experimentá-los e explorar melhor sua sexualidade", comenta a psicóloga especializada em sexualidade Jéssica Siqueira, colaboradora da plataforma Sexo sem Dúvida.

É comum que mulheres mais conservadoras e tímidas tenham resistência até a testar o sex toys. Por isso, antes de mais nada é importante, pelo menos, experimentar um acessório sexual sozinha para entender como é a própria anatomia e as reações aos estímulos, além de localizar pontos de excitação e prazer. "Por preconceito, relutância ou ignorância em relação ao tema, muitas podem deixar de vivenciar percepções incríveis", afirma a psicóloga Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casal.

Não precisa se obrigar a nada

No entanto, Marina lembra que, em se tratando de sexo, todo mundo tem os seus limites.

"Não dá para forçar algo se a pessoa não se sente à vontade. Experimentou e não gostou, tudo bem. Afinal de contas, o uso de sex toys para incrementar a relação é algo recente, já que durante séculos as pessoas transaram sem esses artifícios", pontua.

Consumo x prazer

Uma questão interessante levantada pela psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner é o aspecto consumista do trás da ideia vendida de "mais prazer garantido". Em uma sociedade de consumo que tenta vender de tudo, será que precisamos mesmo nos tornarmos refém até objetos eróticos para nos sentirmos incluídas?

"É necessário desvencilhar-se do conceito de que existe um modelo ideal de satisfação. Cada indivíduo constrói a sua sexualidade de uma forma subjetiva e particular e, nesse contexto, não é obrigatório o uso de apetrechos. Se não é desejado, não se torna necessário. E, além do mais, os seres humanos já são criativos e lúdicos o suficiente", observa.

Quando um não quer...

Numa relação, se um gosta de sex toys e o outro não, é preciso conversar e, possivelmente, negociar as práticas em que ninguém se sinta forçado a nada. "Nessas circunstâncias, o sexo precisa ser prazeroso para ambos, senão se torna desagradável, uma verdadeira tortura", diz Marina.

Uma terapia sexual pode ser interessante para o casal chegar a um acordo. Se mesmo assim não rolar um combinado, talvez seja a hora de repensar o futuro do relacionamento. "Ninguém pode forçar o outro a algo que não se sinta à vontade", afirma Marina.

Existe vida sexual satisfatória e "sem pilha"

Os especialistas consultados garantem que dá, sim, para ter uma vida sexual gostosa e divertida mesmo sem acessórios. "Nosso corpo é feito para sentir sensações da cabeça aos pés, então durante o sexo vale a pena explorá-lo com toques, beijos, massagens, etc. Com consentimento, vale tudo", afirma Jéssica, da plataforma Sexo sem Dúvida.