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Modelo cria 1ª consultoria de moda para mulheres gordas: "Pode vestir tudo"

A modelo e influenciadora Jessica Lopes criou um programa de consultoria de imagem para mulheres gordas - Reprodução/Instagram
A modelo e influenciadora Jessica Lopes criou um programa de consultoria de imagem para mulheres gordas Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

11/12/2020 04h00

A modelo e influenciadora Jéssica Lopes, de 27 anos, levou pelo menos uma década para se sentir confiante e encontrar um estilo pessoal — o que, no caso dela, envolve usar roupas curtas, justas ou que deixam a barriga de fora, verdadeiros desafios para quem tem um corpo maior do que o padrão. Agora, ela criou um programa de consultoria de imagem para "encurtar o caminho" para outras mulheres.

O serviço é provavelmente o primeiro do tipo, no Brasil, focado em trabalhar a autoestima de mulheres que não se identificam com o padrão estético.

"A gente cresce ouvindo que tem um corpo feio, que tem que mudar, que não vai ter sucesso, arrumar namorado ou ser feliz assim. Isso impacta a autoestima e todas as áreas da vida, desde relacionamentos amorosos ou com amigos e família, até a vida profissional e acadêmica".

O programa de consultoria, que está começando agora sua segunda turma, tem 35 aulas gravadas, ministradas por Jéssica, com a ajuda de uma consultora de moda. Os temas são divididos em temas como moda e estilo, estudo de cores e maquiagem, e as alunas têm acesso a atendimento direto com ela, na plataforma do curso.

"É uma caminhada longa, que para mim durou uns 12 anos, mas não precisa demorar tudo isso. Com a consultoria, meu maior objetivo é encurtar o caminho para outras mulheres. Falar 'vamos juntas?'".

O primeiro cinto

Um dos conteúdos mais interessantes (e com mais interações) no Instagram de Jessica é quando ela recria produções de uma modelo magra.

"Muitas vezes, a mulher gorda pensa que não funciona nela o look que fica lindo na mulher magra, seja uma calça branca, um top curtinho, mas eu tento mostrar que não. Basta vestir", diz.

"Essa semana, uma aluna me mandou mensagem dizendo que comprou seu primeiro cinto. Ela nunca tinha comprado um cinto porque nunca tinha usado a blusa para dentro da calça. E essa é uma das maiores conquistas, porque elas acham que usar blusa dentro da calça marca a barriga", conta. "Tem outras vitórias, como ir à praia de biquíni ou usar uma blusa que mostra os braços, mas a blusa dentro da calça é realmente um marco".

A influenciadora, formada em Design Gráfico, conta que recebe tanto de alunas quanto de seguidoras pedidos de dicas para "esconder a barriga" ou "diminuir meu braço" — o que ela rejeita.

"As mulheres ainda acreditam ainda muito nessas regras, no 'pode' e 'não pode', e meu trabalho seria mais fácil, teria mais repercussão, se eu fizesse um post 'como disfarçar sua barriga', por exemplo, mas não é nisso que eu acredito. A regra é se sentir confortável e feliz com a roupa que escolheu usar, sem se preocupar em disfarçar isso ou aquilo", diz.

O que ela apresenta nas aulas da consultoria, conta, são "ferramentas para fazer as pazes com o corpo". "A gente ensina a conhecer o próprio corpo, entender a silhueta e usar as roupas a nosso favor, valorizando aquilo que gosta mais, mas nunca escondendo".

"Jamais vou dizer 'sua silhueta é um triângulo invertido, então você só pode usar volume em baixo'. Não. Às vezes a mulher com essa silhueta não está preocupada se tem ombros largos ou não e com isso você colocou mais uma neura na cabeça dela".

Jessica Lopes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram
Jessica Lopes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Outros obstáculos

A autoestima não é o único obstáculo na relação da mulher gorda com a moda. Para Jessica, essa é uma jornada "conturbada".

Ela vê como principais problemas da indústria a falta de padronização nos tamanhos de roupa, a pouca (ou quase nenhuma) variedade para quem usa manequim acima de 60 e o preço das roupas de tamanhos maiores.

"A mulher gorda quer ser estilosa, mas não encontra roupas que gosta, não se sente à vontade para ir à loja experimentar. Se ela não encontra na primeira loja, aquilo pode abalar tanto a autoestima que ela não vai entrar na segunda, na terceira. Eu vivi isso, muitas mulheres ainda vivem. Mas, a partir do momento que ela encontra roupas que traduzem sua personalidade, é um alívio. 'Finalmente posso ser eu'".

A influenciadora diz que "preço ainda é uma questão" quando se fala em peças com uma grade extensa de tamanhos, mas acredita: "Não é culpa das marcas". Ela ressalta que as lojas que hoje apresentam peças para mulheres gordas são pequenas e independentes, e muitas vezes têm equipe reduzida, de uma ou duas pessoas.

"Essa é a realidade hoje, não será a realidade no futuro. Há 10 anos nem as marcas pequenas existiam. E agora, grandes grupos estão começando a olhar para esse mercado. A gente vai ter roupa grande mais acessível. É um caminho longo, mas vai acontecer".