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Ela virou manicure para cuidar das próprias unhas e hoje fatura R$ 4,5 mi

Divulgação
Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Colaboração para Universa

14/12/2020 04h00

Quando Grazielle Matos pagou R$ 180 pelo seu primeiro curso de manicure não imaginava que anos mais tarde seu hobby viraria uma marca com faturamento na casa dos milhões de reais. À época, ela administrava uma empresa com o marido, fazia curso de técnica em enfermagem e só queria aprender a cuidar das próprias unhas.

"Não foi nada pensado, caí de paraquedas nessa área. Fiz um curso porque minhas unhas quebravam muito e não encontrava um salão que fizesse técnica em gel na minha cidade", conta ela, de Volta Redonda (RJ).

Isso foi há 12 anos, quando ela começou a questionar a rotina estressante na empresa da família, onde gerenciava 380 funcionários que prestavam serviços para a construção civil. Os negócios iam bem, até que uma crise fez com que ela e o marido tivessem que decidir entre pagar as dívidas trabalhistas e as que tinham acumulado com os fornecedores. Tiveram que fechar o negócio.

"Quando a empresa quebrou, eu pensei: e agora, o que vou fazer da minha vida?", lembra Grazielle. Nessa época, ela já fazia as unhas de amigas, tias e primas de graça e em casa. "A procura foi aumentando por conta do boca a boca e decidi começar a cobrar. Passei a atender na mesa do escritório e disse para o meu marido que queria investir nisso. Ele me respondeu: 'Você está doida? Vai virar manicure?'" Ela decidiu seguir em frente.

Cuidado com as matérias-primas

O problema é que, com o aumento dos atendimentos, começaram a surgir também os problemas: os materiais não eram os mais adequados, as técnicas aprendidas no primeiro curso eram insuficientes e algumas clientes retornavam porque as unhas descolavam ou apareciam fungos. Pegou empréstimo de R$ 5.000 no banco, investiu em outros produtos e saiu em busca de formação.

Grazielle Matos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Com o tempo, vi que todos os cursos ensinavam a mesma coisa, porque ainda era uma área muito nova, não tinha muita gente no mercado. Só que eu não queria mais aprender o básico, eu precisava de dicas e ferramentas que me ajudassem a resolver os problemas do dia a dia", lembra.

Ela mesma começou a buscar essas respostas. Passou a testar produtos, criar técnicas e descobrir o que funcionava em cada caso. Em cinco anos de trabalho, montou seu salão, atendia das 8h às 20h e sempre recebia dúvidas de outras manicures que viam seu trabalho nas redes sociais.

Rede social impulsionou o negócio

Com o aumento da demanda nas redes, surgiu a ideia de montar uma página no Youtube e um curso presencial de unhas em gel. "No começo, eu não queria, achava que não levava jeito, era muito tímida, mas meu marido, desta vez, me incentivou", diz. A ideia era ensinar não só o básico, mas todas as dicas que ela gostaria de ter ouvido no começo da carreira. "Uma aluna foi falando para a outra, e os cursos começaram a lotar", conta.

De Volta Redonda, decidiu lançar formações em outras cidades, porque já tinha seguidoras em várias regiões do país. "Um dia, publiquei no Facebook que faria um curso no mês seguinte em São Paulo. Mas, quando eu fiz isso, não sabia nem onde faria nem se teria público suficiente. Decidi arriscar."

A ação não só deu certo, como, em pouco tempo, Grazielle passou a ser convidada para eventos e decidiu viajar para formar manicures em outros estados. "É claro que também tivemos dificuldades. Lembro de uma vez em que anunciei um curso em Recife e só quatro pessoas apareceram. Não ganhei nada, mas decidi não cancelar", diz.

O passo seguinte foi inaugurar uma plataforma para vender o conteúdo das formações também online. Nessa época, ela e o marido buscaram formação em marketing digital e estratégias de venda online. A experiência dos dois em administração de empresas, por sua vez, ajudou a pensar na sustentabilidade do negócio.

"As meninas começam na área, mas geralmente não têm visão de empreendedorismo, não sabem direcionar o dinheiro, reinvestir. Eu já entendia bastante sobre isso, estava calejada e conseguimos levar numa boa", afirma.

Novos horizontes: cursos online

A pandemia botou um freio na rotina de viagens em março deste ano, e fez com que Grazielle se concentrasse no e-commerce e nos planos para o futuro da empresa. "Eu já tinha a intenção de parar com os cursos presenciais para ficar mais com o meu filho de 7 anos, e o isolamento social colocou um ponto final. Porém, bateu um medo, a gente ficou assustado porque tinha investido muito no online e achava que não ia vender", lembra.

Só que em casa também estavam os clientes, que viram nesse momento uma oportunidade de se especializar ou de mudar de área. Até agora, a demanda pelos cursos já é 225% maior que em 2019. Entre fevereiro e agosto deste ano, 3.113 pessoas fizeram a capacitação pela internet.

Além de investir na plataforma, Grazielle lançou uma linha de produtos com seu nome e planeja montar uma filial nos Estados Unidos em 2021. A empresa tem hoje quase 20 funcionários e seu marido recentemente abandonou a carreira de servidor público para trabalhar integralmente ao lado dela.

A expectativa é que a marca feche o ano com faturamento de R$ 4,5 milhões. "O gerente do banco uma vez viu o extrato e perguntou: você fatura isso com unhas?", ri a empresária. "Antigamente, as pessoas tinham vergonha, porque era uma profissão de quem não tinha oportunidade de estudar, estava desempregada. Hoje, não, tenho alunas arquitetas, advogadas. Eu tenho orgulho de dizer que sou manicure, nail designer", diz.