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Elas criaram startup de compra coletiva para empresas e economizam R$ 1 bi

Mary Albuquerque (à esq.) e Mônica Granzo  - Divulgação
Mary Albuquerque (à esq.) e Mônica Granzo Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Colaboração para Universa

20/12/2020 04h00

Para ajudar a família em constantes dificuldades financeiras, Mônica Granzo, 39, precisou fazer pequenos trabalhos desde muito cedo. Ela começou vendendo bombons de chocolate que produzia em casa, depois passou a ajudar a tia na oficina de costura e logo passou a revender roupas para os colegas de turma. Ainda adolescente, foi contratada como caixa de supermercado e, depois, virou vendedora de loja.

Apesar dos prejuízos que afetam crianças nessas condições, Mônica diz que a experiência lhe deu desde cedo uma noção sobre negócios. "Infelizmente, aprendi pela falta. Sou filha de mãe solteira e minha família passou por bastante dificuldade financeira. Aprendi desde pequena a ser muito focada e objetiva", diz a empresária.

Ela conseguiu se formar em ciências contábeis e trabalhou em diversas empresas até ser contratada em um hospital para montar e gerir uma central de compras corporativa. Foi ali que ela descobriu uma oportunidade: faltava um sistema que reunisse demandas, automatizasse processos e conseguisse descontos interessantes para as companhias em larga escala.

Pesquisou ferramentas em outros países e lançou, em 2014, a Smarkets, uma startup de compras colaborativas para empresas.

A plataforma reúne grandes organizações de diversos segmentos com demandas comuns para negociar os melhores preços com os fornecedores. Tudo com o uso de "machine learning" e inteligência artificial. "Isso resulta em condições diferenciadas tanto para o vendedor como para o comprador por conta dos volumes transacionados", diz Granzo, CEO da startup.

Mary Albuquerque - Divulgação - Divulgação
Mônica Granzo (à esq.) e Mary Albuquerque
Imagem: Divulgação

Para criar o negócio, o investimento inicial foi de R$ 75 mil, economia que Mônica Granzo tinha juntado com o trabalho ao longo da vida. Para conseguir dar os primeiros passos, a estratégia foi focar em uma área bem conhecida para ela: clínicas e hospitais.

"Comecei com um cliente do setor de saúde, o que me garantiu o mínimo nos primeiros meses, porque iniciar uma empresa com poucos recursos é vender o almoço para comprar o jantar", conta.

Nova parceira ampliou ação da empresa

Conforme foram aparecendo os primeiros clientes, a empresa foi ajustando processos e Granzo sentiu que era hora de expandir para além da sua zona de conforto. Decidiu, então, chamar uma colega que também atuava em compras, mas entendia de outro setor bastante atraente: o educacional.

Mary Albuquerque, 40, que comanda estratégia de negócios da empresa, chegou no segundo ano de funcionamento da Smarkets e ajudou a dar o empurrãozinho que a empresa precisava.

Assim como Mônica, Mary também começou a trabalhar cedo demais. Moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo, aos 12 anos já era vendedora de roupas em uma loja. "Para a gente, trabalhar era uma questão de sobrevivência", conta. De vendedora, migrou para o escritório. Começou como recepcionista e chegou a líder do setor de vendas para o governo.

Apesar de conhecer o meio e da experiência acumulada nos últimos anos, empreender era algo novo para as sócias. "Nesse começo, o maior desafio foi a parte financeira, garantir a sustentabilidade do negócio e defender um modelo inovador, especialmente sendo mulher e jovem, porque a gente sabe que tem muito preconceito", diz Granzo.

Como encarar uma clientela 80% masculina

"No segmento de compras, mais de 80% das lideranças são masculinas. Então era um desafio para a gente concorrer com grandes empresas", diz Albuquerque. A saída para elas foi, desde o início, trabalhar com a base do networking que já haviam feito enquanto estavam à frente de setores de compras em seus antigos empregos. Isso porque era mais fácil vender seu peixe para quem já as conhecia e sabia que elas entendiam bastante sobre o setor.

O passo seguinte foi conseguir bons resultados, que serviram de exemplo para futuros clientes. "A gente trabalhou de forma insana no nosso primeiro case, que foi para a Kroton Educação, com redução de 30% do preço dos produtos e economia de mais de R$ 8 milhões para a companhia", lembra Albuquerque.

Há três anos, a entrada de um sócio investidor fez com que pudessem dar um novo passo: substituir a plataforma de mercado que usavam por um modelo próprio, adaptado às demandas dos clientes. Isso aumentou a eficiência e a agilidade dos processos.

Pandemia foi oportunidade para crescer

No início da pandemia, alguns projetos da Smarkets tiveram que voltar para a gaveta, já que muita empresa preferiu não investir em um momento de incertezas.

O cenário, no entanto, mudou rapidamente para a startup, que viu uma grande oportunidade de negócio. De uma hora hora para a outra, começou uma corrida de hospitais por grande quantidade de suprimentos e de companhias que queriam fazer doações para comunidades vulneráveis. As compras precisavam ser rápidas, garantindo produtos de qualidade e ao menor preço. Elas tinham a solução.

"Com uma plataforma de compras de produtos relacionados à covid, conseguimos aumentar o faturamento em 70%. Esse projeto gerou R$ 55 milhões em vendas, mais de 6 milhões de itens e uma média de 13% de redução de custo para os nossos clientes", diz Albuquerque.

Em 2021, as sócias preveem crescimento e novas contratações, com o objetivo de atender mais de 54 novos clientes. "As empresas ainda enfrentam muitos desafios na hora da compra, e vários deles nós conseguimos solucionar", diz Mônica Granzo.

Até hoje, o volume de transações operacionalizado pela startup foi de R$ 5,3 bilhões, gerando uma economia de mais de R$ 1 bilhão para as compradoras.

Em 2020, a startup entrou na lista Top 5 do 100 Open Startups na categoria Marketplace e por três anos consecutivos foi premiada como a melhor empresa de BPO e eficiência do Brasil pelo Inbrasc - Live University. Hoje, além de saúde e educação, elas também atendem a setores como financeiro e automobilístico.