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Sofreu sem diarista na pandemia? Em 2021, elas querem direitos e respeito

Carla Cristina é diarista e fala como foi o ano para trabalhadoras domésticas - Arquivo pessoal
Carla Cristina é diarista e fala como foi o ano para trabalhadoras domésticas Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

27/12/2020 04h00

A montanha-russa na vida profissional da cuidadora de idosos Alessandra dos Santos Oliveira, de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, foi o que a marcou em 2020: atuando na área há três anos, ela começou o ano com carteira assinada, passou por um período afastada e termina, agora, em busca de um novo emprego.

Em junho, a senhora de quem cuidava morreu. Foi quando ela migrou para o trabalho de diarista, que fez até outubro. Achou outra idosa que precisava de seus cuidados que, no mês seguinte, também morreu, desta vez de covid-19. A rotina da cuidadora de ter que levantar as pacientes com cuidado comprometeu sua coluna. Parada, em casa, ela sonha que em 2021 os patrões valorizem mais a realidade das trabalhadoras domésticas. "A gente é trabalhadora, não é cachorro, não."

Em 2020, elas não tiveram direito de fazer isolamento social, se arriscando para limpar a casa dos patrões, e foram vítimas de assédio durante procura de emprego, entre outras dificuldades que enfrentam pela discriminação com as funções que exercem. O que projetam para 2021?

Trabalhadoras domésticas durante a pandemia

Alessandra dos Santos Oliveira enfrentou montanha-russa financeira por causa da pandemia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alessandra dos Santos Oliveira é diarista e fala sobre ano para trabalhadoras domésticas
Imagem: Arquivo pessoal

Responsável pelos cuidados da própria casa desde os 13 anos, Alessandra já trabalhou em supermercado, como vendedora de lojas de roupa e fez doces e bolos em casa para vender quando a filha era pequena. Por ter experiência na faxina e cuidando dos pais, idosos, resolveu entrar na área de cuidados com os mais velhos há pelo menos três anos.

Em 2020, passou por altos e baixos. "Para trabalhar como cuidador de idoso, tem que gostar, porque eles são crianças grandes e ninguém vê o trabalho que dá", contou Alessandra. "Eu gosto do que faço, mas vejo que só valorizaram o nosso trabalho neste ano porque não tinham alternativa. Acho que, quando passar a pandemia, vai voltar ao que era antes."

Apesar do desânimo, a cuidadora de idosos pontua alguns direitos que gostaria que os patrões cumprissem em 2021. "Eu dormia no lugar que trabalhava e não tinha uma cama, eu dormia no colchonete do lado da senhora. Além disso, tinha que tomar banho no banheiro do lado de fora, mesmo se estivesse frio, e só almoçava tarde, depois das 14 horas", comenta.

empregada domestica - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Carla Cristina, ao lado do filho, José Dalmo, e da netinha, Ágatha Emanuelly, é diarista e fala sobre ano para trabalhadoras domésticas
Imagem: Arquivo pessoal

Para a diarista Carla Cristina da Silva Santana, moradora de Aracaju, a situação foi diferente. Durante o período em que ficou em isolamento social, sem fazer faxina na casa de dois patrões, ela continuou recebendo o preço das diárias. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva divulgada em abril, 39% dos empregadores dispensaram as diaristas e não mantiveram o pagamento.

No caso de Carla, os patrões tiveram covid, cada um em um momento. Nos dois períodos, por 14 dias, continuaram pagando a diária mesmo sem fazer o trabalho. Segurança para eles e para ela. "Eles entenderam e me deram essa ajuda. São pessoas humanas, não tenho o que reclamar."

Ela mora com o marido, um filho de 11 anos e uma filha de 26 e a netinha, em uma casa própria conquistada com o trabalho dos dois. Ter recebido o salário mesmo sem trabalhar, assim, evitou que eles tivessem um desequilíbrio financeiro num momento sensível. Mas, ela sabe que a situação e o fato de os empregadores respeitarem seu trabalho são uma exceção. "Diarista é um caso sério, porque o patrão se aproveita e empurra para fazer mais coisa na diária."

Para ela, o que as trabalhadoras domésticas pedem para 2021 é respeito. "Tem algumas pessoas que acham que nós temos a obrigação de fazermos tudo que eles querem, porque a gente precisa [do trabalho]", explica, destacando que a relação entre empregadores e empregadas deve ser de equilíbrio. "Os patrões precisam da gente, e a gente também precisa deles."

Mais sindicalizadas, pedindo por direitos

A vice-presidente do Sindicato das Domésticas de Sergipe (Sindomésticas), Quitéria Santos, avalia que, durante a pandemia, as relações entre patrões e empregadas pioraram, "porque os direitos afetados foram não só o do trabalhador doméstico mas o de todo trabalhador", explica, se referindo às mudanças que o governo autorizou por um período, para redução de salários e de jornadas de trabalho.

Quitéria diz que, em 2021, a categoria continuará lutando pelos direitos à carteira assinada, FGTS e INSS das empregadas domésticas. "Para diaristas e faxineiras, elas devem ter o direito de receber o que foi combinado com o patrão ao final do dia."

Segundo ela, uma das mudanças que a pandemia trouxe foi unir a mão de obra que trabalha na limpeza e nos cuidados com a casa, especialmente por meio dos sindicatos. No de Sergipe, houve um aumento de 113% de afiliadas, que procuraram o órgão para pedir informações, receber assistência emergencial de cestas básicas e procurar emprego.