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Retrospectiva feminista 2020: 10 fatos que mostram avanços da nossa luta

Ativista em manifestações pró-aborto na Argentina. - AFP
Ativista em manifestações pró-aborto na Argentina. Imagem: AFP

Gabriela Zocchi

Colaboração para Universa

29/12/2020 04h00

2020 foi um ano de medos, angústias e tragédias para as mulheres. Universa noticiou com estarrecimento inúmeros casos de feminicídio e violência de gênero. Mas, por outro lado, também não podemos nos esquecer que houve avanços.

Relembramos algumas das notícias que comprovam os efeitos da luta feminista e que nos trouxeram um pouco de esperança neste ano tão complicado.

1- Legalização do aborto é aprovada por deputados na Argentina.

No dia 11 de dezembro, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou o projeto que legaliza o aborto até a 14ª semana de gestação. O texto segue agora para o Senado. A decisão promete ser acirrada, uma vez que, em 2018, a legalização do aborto já havia sido debatida no país e foi rejeitada por senadores. Caso a nova lei seja aprovada, a Argentina se tornará o primeiro país latino-americano de relevância regional a permitir a interrupção da gravidez.

2- Após caso Mari Ferrer: Câmara aprova projeto contra violência institucional

O tratamento que Mariana Ferrer recebeu durante uma audiência virtual gerou indignação em todo o Brasil. Na ocasião, o advogado do acusado de estupro, Cláudio Gastão da Rosa Filho, chamou a influenciadora mineira de dissimulada, expôs fotos supostamente sensuais da vítima e ainda afirmou que "não gostaria de ter uma filha no nível dela". O juiz Rudson Marcos tampouco fez alguma intervenção durante o discurso do advogado e, no final, absolveu o réu por "falta de provas contundentes".

Mariana Ferrer chora em audiência e advogado de Aranha a chama de dissimulada - Reprodução / The Intercept - Reprodução / The Intercept
Cena da terrível audiência em que Mari Ferrer chora ao ser desrespeitada por advogado.
Imagem: Reprodução / The Intercept

Apesar da notícia ter vindo como um golpe de desesperança para todas as mulheres que já foram abusadas sexualmente, o caso de Mari Ferrer despertou uma luz na forma com a qual vítimas são tratadas nos tribunais. Em 10 de dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que torna crime a violência institucional, atos ou a omissão de agentes públicos que prejudiquem o atendimento à vítima ou à testemunha de violência. A matéria segue agora para o Senado.

3- Olimpíadas 2024: Pela primeira vez, Jogos terão paridade de gêneros

O Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou, no dia 7 de dezembro, que pela primeira vez da história dos Jogos Olímpicos haverá paridade no número de atletas homens e mulheres a participarem do evento. O feito acontecerá nas Olimpíadas de Paris em 2024. Para que a paridade possa ser alcançada, provas e modalidades de alguns esportes, como boxe, vela, kitesurf, canoagem, entre outros, sofrerão alterações e/ou passarão a ser mistas.

4- Escócia é o primeiro país a oferecer produtos menstruais gratuitos

Em novembro de 2020, o Parlamento escocês votou a favor de um projeto de lei que estabelece o direito gratuito de acesso a absorventes internos e externos. Com isso, a Escócia se tornou o primeiro país do mundo a adotar essa iniciativa. Absorventes já eram de graça para alunas de ensino médio e universitárias no país, mas agora ministros deverão estabelecer um plano pensando no acesso universal, o que vai favorecer especialmente aquelas pessoas que não podem pagar por produtos menstruais adequados.

A pergunta que fica é: no Brasil, ainda falta muito para termos uma legislação como essa?

5- Eleição tem recorde de mulheres candidatas no Brasil

As eleições municipais que aconteceram em novembro deste ano no Brasil quebraram recordes no quesito diversidade. Pela primeira vez na história, 34% das candidaturas para as Câmaras Municipais foram femininas.

A codeputada Erika Hilton, da Bancada Ativista do PSOL/SP. - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A codeputada Erika Hilton, da Bancada Ativista do PSOL/SP.
Imagem: Arquivo Pessoal

Candidatas trans também fizeram história, se tornando as mais votadas em capitais como São Paulo (Erika Hilton, do PSOL), Aracaju (Linda Brasil, também do PSOL) e Belo Horizonte (Duda Salabert, do PDT). Ainda que o número de mulheres nas Câmaras Municipais continue baixo e desproporcional ao de homens (menos de 20%), a conquista representa um avanço em direção à mudança.

6- Kamala Harris se torna a 1ª vice-presidente dos Estados Unidos

A partir de 2021, o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos será ocupado pela primeira vez por uma mulher. Kamala Harris, negra e filha de imigrantes asiáticos, foi eleita vice de Joe Biden em 7 de novembro de 2020. A eleição de Harris foi um marco histórico no que diz respeito à representatividade e aos movimentos antirracistas e femininos.

Kamala Harris e os outros vice-presidentes americanos. - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Kamala Harris e os outros vice-presidentes americanos.
Imagem: Reprodução/Twitter

"Serei a primeira vice dos EUA, mas não a última", afirmou a própria Kamala em seu discurso de vitória. Que sirva de inspiração para muitas meninas e mulheres para o mundo.

7- Instagram passa a liberar fotos de seios femininos no feed

Desde outubro, o Instagram passou a permitir posts de mulheres que estejam "simplesmente abraçando, acariciando ou segurando seus seios". A medida foi alterada depois que a modelo e influenciadora britânica Nyome Nicholas-Williams denunciou a rede social por excluir fotos de seios de mulheres gordas e negras, mas não de brancas e magras. O Instagram reconheceu o erro e prometeu continuar trabalhando para melhorar a experiência de seus usuários.

Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia. - Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia - Foto: Divulgação - Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia - Foto: Divulgação
Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia.
Imagem: Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia - Foto: Divulgação

8- Países liderados por mulheres lidaram melhor com a pandemia

2020 mostrou que ter mulheres no poder não é apenas uma questão de representatividade, mas também de tomadas de decisões mais conscientes. Em agosto, o Centro de Pesquisa de Política Econômica e o Fórum Econômico Mundial publicaram um estudo comprovando que os países liderados por mulheres lidaram com a crise do novo coronavírus de forma "sistematicamente e significativamente melhor".

Medidas adotadas na Alemanha (liderada por Angela Merkel), na Nova Zelândia (Jacinda Ardern), na Dinamarca (Mette Frederiksen), em Taiwan (Tsai Ing-wen) e na Finlândia (Sanna Marin) foram apontadas como sucesso. "Nossos resultados indicam claramente que mulheres chefes de Estado reagiram mais rapidamente e decisivamente diante de potenciais fatalidades", afirmou a pesquisadora Supriya Garikipati, co-autora do estudo, em entrevista ao jornal The Guardian.

9- Liderado por mulheres, grupo de cientistas brasileiros sequencia o novo coronavírus

No começo de março, quando apenas quatro casos de Covid-19 haviam sido confirmados no país, um grupo de pesquisadores brasileiros liderado por mulheres conseguiu sequenciar em tempo recorde o genoma do novo coronavírus.

Jaqueline Goes de Jesus, biomédica que ajudou a coordenar a equipe de pesquisa o coronavírus. - Divulgação/IMT - Divulgação/IMT
Jaqueline Goes de Jesus, biomédica que ajudou a coordenar a equipe de pesquisa o coronavírus.
Imagem: Divulgação/IMT

O estudo, dirigido pela médica Ester Sabino e coordenado por Jaqueline Goes de Jesus e Claudio Tavares Sacchi concluiu o feito em apenas 48 horas, enquanto outros países levaram em média 15 dias para chegar ao resultado. A descoberta serviu para ajudar o mundo a compreender como o vírus funciona e até mesmo levantar estratégias para tentar conter a pandemia em sua fase inicial.

10- Harvey Weinstein é condenado a 23 anos de prisão por estupro e agressão sexual

Em 2017, os jornais The New York Times e The New Yorker publicaram relatos de dezenas de mulheres que acusavam o então produtor de Hollywood Harvey Weinstein de assédio, abuso sexual e estupro. O caso desencadeou mais uma série de denúncias, feitas por mais de oitenta mulheres da indústria cinematográfica, e se tornou o estopim para o movimento #MeToo, que luta contra o assédio e a agressão sexual em ambientes de trabalho.

Em fevereiro de 2020 Weinstein foi julgado e, em março, ele recebeu a sentença de 23 anos de prisão por dois dos cinco casos de estupro e assédio sexual aos quais tinha sido acusado judicialmente. Ainda que fosse esperada uma sentença maior pela quantidade de crimes que cometeu, o fato serviu como exemplo para que mais mulheres ao redor do mundo reconhecessem e denunciassem assédios e abusos.