Luciana Gimenez: "Me acho feia e sempre tive problemas de autoestima"
Luciana Gimenez sempre foi considerada ícone de beleza, estampou capas de revistas, posou para ensaios sensuais. Isso não foi o bastante para que a apresentadora, ainda hoje, gostasse do que vê no espelho. "Me acho feia e sempre tive problemas de autoestima", ela diz, no primeiro vídeo de 2021 de seu canal no YouTube.
Ali, Luciana recorda os bombardeios que sofreu em seu tempo de modelo, quando ouvia nas agências que tinha nariz feio, era alta demais, não tinha queixo, o rosto muito era redondo. "Quando volto para essas memórias, as feridas ainda doem", diz. Seu canal é recente e faz parte de um projeto pessoal de transformação da apresentadora, no qual ela pretende falar de assuntos polêmicos como suicídio, abuso e dilemas maternidade. "Mas não é um canal para ditar regras do que é certo ou errado. Estou me desconstruindo e tomando um lugar de aprendiz, porque o mundo tem mudado muito", disse, nesta entrevista para Universa direto de Trancoso, na Bahia, onde passou o Réveillon.
Mesmo sendo um assunto que mexe muito com ela, Luciana acredita que é preciso falar sobre autoestima com as crianças, para evitar que continuem passando o que ela e vários outros adultos já passaram. E também afirma que é preciso unir forças para deixar de lado os ideais inalcançáveis de beleza, que já a fizeram se submeter a "loucuras" para tentar sem encaixar em um padrão imposto por décadas. Leia abaixo a entrevista com a apresentadora:
Por que o tema da autoestima é tão importante para você?
Porque, ao contrário do que as pessoas pensam, que minha vida sempre foi perfeita, tenho muitas inseguranças e passei por muito até chegar aqui. Quando volto para essas memórias, as feridas ainda doem. Não é fácil reviver tudo, mas prometi para mim que usaria meu canal no YouTube para as pessoas me conhecerem mais e, se possível, ajudá-las.
Em que momento da sua vida você começou a pensar sobre o fato de não gostar da sua aparência e passou a tentar lidar com isso?
Na época de escola já era um problema por ser muito magra e alta. Na fase adulta, isso pode até ser o 'padrão' que alguém julgou ser o ideal, mas quando criança é motivo de bullying. Quando você passa a usar várias calças de moletom por debaixo da jeans para parecer mais curvilínea, já é uma forma, mesmo que inconsciente, de trabalhar sua autoestima. Então, já são décadas tentando lidar com isso, vivendo essa montanha russa emocional. Fica o meu alerta de que devemos cuidar de nossas crianças e da autoestima delas.
Você é uma mulher bonita e já foi escolhida a mais sexy do país em rankings por diversas publicações ao longo dos anos 2000. Por que não acredita nisso?
Imagine uma criança que recebia vários apelidos pela magreza, depois uma adolescente que é julgada e tem seus 'defeitos' apontados diversas vezes ao dia na carreira de modelo. Isso acaba entrando de alguma forma dentro de você. Venho trabalhando e tentando aceitar a cada dia que esse é o meu melhor, que tenho que me aceitar como sou, mas não é fácil, ainda mais em tempos de redes sociais que, apesar de não ser o correto você se colocar nesse julgamento, você publica uma foto que acredita que seja boa, que você espera que vá receber elogios, mas o que vem muitas vezes são somente com críticas.
Acho que quem tem problemas com autoestima está sempre buscando o elogio alheio para tentar amenizar, mas apesar de as pessoas me acharem bonita, sou muito crítica comigo mesma. É uma questão de aceitação e anos com pessoas falando coisas que você não deveria acreditar, mas acaba acreditando que aquilo é você.
Como modelo, você diz ter ouvido diversos comentários sobre sua aparência: nariz é feio, não tem queixo, é alta demais. Como a indústria da moda contribui para manter a baixa autoestima das mulheres, não apenas modelos, mas no geral?
Não dá para culpar uma única indústria. Claro que existem padrões que devem ser mudados em vários nichos. As pessoas têm que ser mais empáticas, e até eu venho me policiando nas atitudes, porque tenho muito que aprender. Então não gosto de apontar o dedo como inquisidora, acho que as críticas do que é errado e até com elogios dos acertos, um número grande de pessoas e até empresas está alterando esse panorama. A própria indústria de moda e da beleza já entendeu que existem vários padrões de beleza. Quem não entender com certeza tem um futuro incerto. Se algo vende é porque há quem consuma, então acho que o ponto que temos que pensar é: o poder de mudar estruturas pré-estabelecidas está em nossas mãos. As indústrias e empresas só levam para frente produções do que criamos demanda.
Criar crianças e adolescentes com boa autoestima é uma obrigação de nós pais, familiares, amigos etc. Temos que parar de colocar essa responsabilidade na mão da TV, indústrias e redes sociais. Eles não podem influenciar nossas crianças mais do que nós que estamos dentro da mesma casa ou em suas rotinas diárias.
Pressão estética atinge mais mulheres do que homens, tanto que a maioria dos procedimentos são voltados para o público feminino. Por que acredita que há tanta exigência em relação à aparência que recai sobre nós, mas não recai sobre eles?
Tenho tentado praticar diariamente uma lição que acho que é uma das mais difíceis que já me propus, que é não julgar. O julgamento cria o rótulo. E o rótulo cria a autocobrança, que quando não alcançada gera a baixa autoestima.
Acho que nós temos o poder de acabar com essa pressão, e digo, homens e mulheres, porque aos homens também é cobrado ganhar dinheiro, ser bem-sucedido. Precisamos acabar com esses padrões, cada um deve se encaixar no que lhe é confortável. Quando você diz que uma pessoa é isso ou aquilo, você está rotulando. Isso cria uma cobrança, uma pressão, seja estética, financeira ou social.
Já fez algum procedimento estético ou alguma dieta muito restritiva para ser considerada bonita e se arrependeu?
Que atire a primeira pedra quem nunca. Foi um padrão imposto por décadas, então em algum momento da vida todas nós fomos expostas e fizemos loucuras para nos encaixarmos. Não vale a pena citar quais foram, porque meninas com autoestima baixa podem querer copiar por acreditar que deram certo para mim, mesmo eu falando que não foram bons.
O que você faz para se gostar mais? Conversas com você mesma, pequenos rituais?
A meditação me ajuda porque trabalho a aceitação, porque consigo entender que antes de qualquer um gostar de mim, eu tenho que gostar. Faço terapia, que me ajuda a trabalhar inseguranças e, principalmente, tenho me cercado de pessoas que, em vez de somente criticar, trazem uma palavra de carinho. Mas que fique claro: carinho não é passar a mão na cabeça para tudo.
Qual foi a última vez que você se achou bonita? E a última em que se achou feia?
Me achei bonita em uma situação sem 'artifícios'. Na praia, cabelo de mar, sem maquiagem e de biquíni. Talvez não seja correto falar em 'se sentir feia', mas sim nunca achar que está boa o bastante, se cobrar muito mais do que as outras pessoas. Quem tem baixa autoestima está sempre se cobrando mais e mais.
Que mulheres você admira justamente porque percebe que elas se amam e se acham bonitas?
Apesar de me virem alguns nomes à cabeça, não tem como eu falar uma, porque se eu coloco aqui essa ou aquela, já estou criando um padrão. Uma pessoa com problemas de autoestima e que eu influencie pode ler e pensar: 'Luciana acha aquela mulher bonita, então quero ser como aquela mulher'. Nós, que atingimos centenas, milhares de pessoas, temos que tomar cuidado com o que falamos, porque nossas opiniões acabam influenciando pessoas de formas positivas ou negativas. Hoje, para falar de estética, tomo muito cuidado, até pelo que venho aprendendo, mas se estiver com alguém que eu ache bonita, vou elogiar para a pessoa.
Que outros assuntos você vai abordar no seu canal relacionados às mulheres, que são discussões atuais, como no caso da autoestima?
Vou falar sobre suicídio, abuso, maternidade, transição de gênero e também trazer assuntos do dia a dia como viagens, estilo, entre outras coisas. Queria deixar claro que não é um canal para ditar regras do que é certo ou errado, pelo contrário. Estou me desconstruindo e tomando um lugar de aprendiz, porque o mundo tem mudado muito.
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