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13 frases de Simone de Beauvoir que até hoje explicam o que é ser mulher

Simone de Beauvoir: filósofa e escritora trouxe algumas das contribuições mais importantes para o feminismo - Reprodução
Simone de Beauvoir: filósofa e escritora trouxe algumas das contribuições mais importantes para o feminismo Imagem: Reprodução

De Universa

09/01/2021 04h00

Se você jogar no Google o termo "mãe do feminismo", é o nome dela que aparece. Quanto a esse título há controvérsias, afinal os primeiros movimentos autodeclarados feministas já apareceram no século 19, antes mesmo de ela nascer. Mas é inegável a contribuição trazida pela filósofa e escritora Simone de Beauvoir, que faria 113 anos hoje, à luta das mulheres mundo afora.

Suas ideias ecoam nas discussões modernas sobre direitos femininos e na negação das opressões de gênero. Com suas frases, entre elas a famosa "Não se nasce mulher, torna-se mulher", repetidas desde ensaios acadêmicos a postagens nas redes sociais, a memória de Beauvoir segue reverberando.

Abaixo, listamos outras 13 citações do ícone feminista retiradas do clássico "O Segundo Sexo" (1949), que mesmo anos depois de serem ditas ainda nos ensinam sobre a experiência de ser mulher no mundo.

1. "Libertar a mulher é recusar a encerrá-la às relações que ela mantém com o homem, não as negar"

A independência em relação ao homem é o que trará a liberdade e a emancipação feminina, segundo Beauvoir. Parece ultrapassado, mas a ideia de o valor da mulher estar ligado ao amor de um homem ainda persiste socialmente. Vide o uso das expressões pejorativas "mal amada" ou "solteirona", ditas até hoje. Mas a filósofa não diz, porém, que é preciso evitar se relacionar com eles. Pelo contrário, acredita no envolvimento afetivo no qual a mulher deixa de ser vista como categoria secundária de ser humano para ser reconhecida como o sujeito das próprias escolhas que é.


2. "Toda opressão cria um estado de guerra"

A opressão à qual mulheres são confinadas, de encarceramento no ambiente doméstico, segundo Beauvoir, é um fator que vai gerar tensão na relação entre os gêneros. "A sociedade codificada pelos homens decreta que a mulher é inferior: ela só pode abolir essa inferioridade destruindo a superioridade viril", diz a filósofa na continuação. "Dedica-se, pois, a mutilar, a dominar o homem, contradizendo-o, negando-lhe a verdade e os valores. Mas com isso apenas defende-se."


3. "Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade"

A expressão "masculinidade tóxica", muito usada para discutir um tipo de virilidade que oprime e restringe os direitos femininos, liga-se diretamente à frase de 1949. Pesquisadoras da área relacionam, inclusive, a extrema insegurança masculina à violência doméstica: em dúvida sobre seu poder e para garanti-lo, usa das agressões para tentar manter a imagem do homem viril.

4. "Um dos benefícios que a opressão assegura aos opressores é de o mais humilde destes se sentir superior"

A estrutura da opressão é forte justamente porque há um grande número de beneficiados a partir dela. Para Beauvoir, é a manutenção da ideia de submissão feminina que vai garantir aos homens - inclusive aos inseguros ou aos que se veem como pouco viris - a falsa sensação de superioridade.

5. "A mulher está votada à imoralidade porque a moral consiste para ela em encarnar uma entidade inumana: a mulher forte, a mãe admirável, a mulher de bem"

Sabe aquela história de que a mulher, por qualquer motivo ou situação, vai sempre ser criticada? É isso que Beauvoir disse há mais de 50 anos. À existência feminina são exigidas uma série de normas impossíveis de serem seguidas, justamente para que se mantenha o controle do julgamento sobre elas. Depois de uma resvalada, vira a "louca", a "histérica" ou a "puta".

6. "Se a 'questão feminina' é tão absurda é porque a arrogância masculina fez dela uma 'querela'"

Para a filósofa, a incapacidade masculina em perceber e admitir as discriminações sociais fez a discussão sobre feminismo ser rebaixada a uma "briga". A própria Beauvoir, em seu texto, usa o termo querela e completa: "quando as pessoas querelam não raciocinam bem". É, portanto, leviano diminuir um movimento tão importante a uma queda de braço sobre quem é melhor, homens ou mulheres. A discussão precisa ir muito além disso.

7. "A representação do mundo é operação dos homens; eles o descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta"

Foram homens que escreveram as narrativas mais difundidas na civilização Ocidental, da Bíblia aos códigos de leis da maioria dos países. E o fizeram, como aponta Beauvoir, a partir da própria perspectiva, tomando-a como universal. O problema é que essas mesmas narrativas continuam sendo reproduzidas ao longo dos anos.

Simone de Beauvoir - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

8. "Toda a história feminina foi feita pelo homem. Assim como na América, não há problema com os negros, mas sim com os brancos; assim como o antissemitismo não é um problema judaico, é nosso problema; então o problema da mulher sempre foi um problema do homem"

A filósofa volta ao questionamento que faz sobre a história do mundo ter sido construída por homens e, da mesma maneira, a história das mulheres também o foi. Assim, opressões e obrigações também foram motivadas por eles, uma vez que se valem da submissão feminina para manter seu lugar de poder e de privilégios masculinos. Se alguém precisa resolver os problemas das mulheres, portanto, esse alguém deveria ser o homem, principal responsável pela manutenção da estrutura machista.

9. "Afirmar que o filho é o fim supremo da mulher tem exatamente o valor de um slogan publicitário"

Ser mãe pode ser lindo e incrível, mas deveria ser uma escolha, não uma obrigação, como a moral social vigente até hoje insiste em repetir, mesmo que de maneira velada. Dizer que uma mulher só se realiza ao formar uma família, engravidar, ter filhos, diz Beauvoir, é um "pseudonaturalismo", sob o qual se esconde uma moral social e artificial.

10. "A sociedade tão encarniçada na defesa dos direitos do embrião se desinteressa da criança a partir do nascimento"

Beauvoir continua sua crítica à maternidade compulsória e mostra as contradições da mobilização social antiaborto, uma vez que os movimentos contrários à interrupção de gestação se preocupam menos com a mulher do que com o controle do corpo feminino em si, já que, depois do nascimento da criança, não há um acompanhamento tão próximo. "Recusam admitir que o feto pertence à mulher que o traz no ventre, asseguram, por outro lado que o filho é coisa dos pais", escreve.

11. "Há poucas tarefas que se aparentem, mais do que as da dona de casa, ao suplício de Sísifo; dia após dia, é preciso lavar os pratos, espanar os móveis, consertar a roupa, que no dia seguinte já estarão novamente sujos, empoeirados, rasgada"

O mito de Sísifo é evocado para se referir a um trabalho repetitivo e cansativo, que é o doméstico. Até hoje visto como uma obrigação feminina e, infelizmente, sem receber o devido valor. A discussão sobre jornada dupla, por exemplo, é recente: foi quando passou a se reconhecer que uma mulher que trabalha fora de casa e cuida dos afazeres da família tem dois turnos, admitindo o serviço doméstico como um deles.

12. "Ser feminina é mostrar-se impotente, fútil, passiva, dócil. A jovem deverá não somente enfeitar-se, arranjar-se, mas ainda reprimir sua espontaneidade"

Beauvoir lista as características consideradas femininas encontradas nas personagens dos romances da época. Era assim que elas apareciam para viver paixões com homens que emulam, por sua vez, a masculinidade da força e do poder. Mas essas características parecem sobreviver como uma exigência feita às mulheres ao longo da história. As próprias novelas, em grande medida, reproduzem isso.

13. "No dia em que for possível à mulher amar em sua força, não em sua fraqueza, não para fugir de si mesma mas para se encontrar, não para se demitir mas para se afirmar, nesse dia o amor se tornará para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal"

Beauvoir encerra um dos últimos capítulos de "O Segundo Sexo" questionando o mito de que a mulher busca o amor masculino, e se faz mais completa ao encontrar o homem que ama. A filósofa, em nenhum momento, nega o amor ou o envolvimento afetivo, mas diz que é possível que a mulher os viva de maneira que possa expressar quem é sem medo, e não viver "mutilada" pelas amarras do que é considerado feminino.