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RJ: Jovem diz que foi beijada à força por motorista de app, que pede perdão

Jovem flagra motorista de aplicativo segurando sua perna em corrida no Rio de Janeiro - Arquivo Pessoal
Jovem flagra motorista de aplicativo segurando sua perna em corrida no Rio de Janeiro Imagem: Arquivo Pessoal

Bruna Barbosa

Colaboração para Universa, em Cuiabá (MT)

12/01/2021 14h56Atualizada em 12/01/2021 16h32

A extensionista de cílios Anna Julia Queiroz, de 20 anos, chamou um motorista no aplicativo de transporte 99 para ir a um almoço em comemoração ao aniversário do avô, no domingo (10), em Volta Redonda (RJ). No entanto, durante a corrida, o homem começou a passar a mão nas pernas da jovem, que estava sentada no banco de trás.

Com medo e sem acreditar no que estava acontecendo, Anna contou para a Universa que conseguiu tirar uma foto do momento em que o motorista da 99 começou a série de assédios contra ela. Por meio de nota, a empresa informou que tomou conhecimento do episódio e baniu o motorista do aplicativo. Uma equipe também foi mobilizada para contatar a vítima.

O aplicativo ressaltou que está disponível para colaborar ativamente com as investigações. A reportagem procurou a Polícia Civil, mas não obteve retorno. A vítima relatou que percebeu que o homem estava "agitado" e "olhando muito para trás" pelo retrovisor do carro.

"Eu já estava desconfiada que aconteceria alguma coisa comigo, porque não é normal o motorista ficar olhando para trás. Ele começou a dizer que eu estava muito triste e passou a mão na minha perna. Disse que podíamos conversar em algum lugar."

Diante das investidas do suspeito, Anna explicou que começou a dizer que não tinha tempo, que precisava ir para um almoço de família. Mas o motorista continuou insistindo em parar o veículo em algum lugar para eles "conversarem".

"Enquanto ele dizia que seria 'rapidinho', já foi mudando o trajeto, estava indo cada vez mais longe em uma rua sem saída. Não tinha casa, não tinha nada. Olhei para um dos lados e era só mato, do outro um muro gigante. Achei que morreria."

De acordo com Anna, o motorista ignorou todos os pedidos para voltar a seguir a rota colocada no aplicativo por ela. Em determinado momento, ele disse que sabia que ela estava assustada e mandou a jovem ir para o banco da frente.

Como a jovem se negou, o suspeito teria descido do veículo e a puxado pelo braço, dizendo para ela "não ter medo". "Começou a me agarrar e me beijar com muita força, me enforcava mesmo, como se fosse um mata-leão. Eu disse que estava machucando e comecei a chorar".

Em determinado momento, o suspeito teria mandado Anna "ver como ele estava" e fez com que ela passasse a mão no pênis dele à força. A jovem então começou a chorar mais alto e, por medo, decidiu não reagir e concordar com o que o motorista estava pedindo.

"Muitas pessoas estão me julgando, perguntando por que não corri, mas fiquei com medo dele ter uma arma ou uma faca. Ele estava seguro do que estava fazendo, pensei que estivesse armado."

O suspeito ainda chegou a passar a mão nas partes íntimas de Anna, que, durante o assédio, percebeu que o homem tinha uma foto com mulher e filho no carro. Quando a jovem começou a chorar e gritar, o motorista decidiu voltar a seguir a rota colocada no aplicativo.

"Ele era totalmente sem noção, ficou falando para a gente se encontrar e eu fiquei concordando até descer do carro. Quando fui pagar pela corrida, ele falou no meu ouvido 'você não vai me denunciar não, né?'. Foi horrível, eu estou perturbada com essa situação".

Homem pediu perdão

Passageiro troca mensagens com motorista de app após caso de assédio no RJ - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Passageiro troca mensagens com motorista de app após caso de assédio no RJ
Imagem: Arquivo Pessoal
Jovem troca mensagens com motorista de aplicativo após caso de assédio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Jovem troca mensagens com motorista de aplicativo após caso de assédio
Imagem: Arquivo Pessoal

Anna conseguiu o telefone do motorista após acionar o aplicativo como se tivesse deixado um objeto pessoal no carro dele. Nas mensagens, entregues à Universa, a jovem disse que conversou com ele apenas como cliente e que ele ignorou todas as vezes em que ela disse "não".

"Pelo amor de Deus, cara. Meu, não estava estampado nos meus olhos, fora que você viu que eu não quis sentar na frente do carro, você percebeu que eu estava com medo, tanto que perguntou como eu estava. Em momento algum dei em cima de você ou dei mole, só conversei", escreveu Anna em uma das mensagens.

O motorista pediu perdão "de coração" e disse que havia se empolgado muito. "Eu errei, me perdoa de coração, eu me empolguei muito. Posso te ligar? Só te peço que considere meu pedido, tenho filhos que dependem de mim. Nunca mais vou procurar você. Por favor, em nome de Jesus", respondeu o suspeito.

Em outros trechos, o homem chegou a chamar a jovem de louca e afirmar que não havia cometido abuso contra ela. Ele ainda escreveu: "obrigado por me prejudicar". O suspeito ainda chegou a pedir para que Anna informasse ao aplicativo que eles já se conheciam e que não houve abuso para que ele pudesse voltar a atender corridas.

Anna contou que chegou a procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), mas foi questionada se ela não conhecia mesmo o motorista, devido a forma que ele falou com ela nas mensagens. Segundo ela, o crime foi registrado como importunação sexual.

"Falei para os policiais que nunca o vi, mas disseram que era importunação sexual, porque ele não me estuprou. Mas ele me beijou, me fez pegar no pênis dele a força. Isso me deixou desacreditada".

Em nota enviada à Universa, a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Volta Redonda afirmou que, após tomar conhecimento da denúncia, foi instaurado um procedimento para apurar o caso. Os agentes tentam localizar a vítima para que ela possa prestar depoimento na unidade policial. Diligências estão sendo realizadas para esclarecer o fato.

Culpa

A jovem compartilhou o relato no Twitter e, desde então, tem recebido mensagens questionando a versão dela da história. Anna afirmou que não conseguiu ligar para a polícia no momento do crime, pois o celular está com problema no áudio.

"Sinto muita culpa, sei que não tenho, mas sinto. Será que eu deveria ter conversado? Mas eu sou uma pessoa alegre, eu converso mesmo. As pessoas ficam dizendo que eu dei moral. Tenho medo dele vir atrás de mim, não quero mais sair de casa. Meu psicológico já era abalado por conta de abusos sexuais".

Confira nota da 99 na íntegra:

A 99 lamenta profundamente a grave denúncia feita por uma passageira da plataforma. Assim que tomamos conhecimento do episódio, banimos o motorista do aplicativo e mobilizamos uma equipe para buscar contato com a vítima. A empresa repudia veementemente o ato de violência e está disponível para colaborar ativamente com as investigações da polícia.

A empresa dedica seus esforços na prevenção, proteção e acolhimento de todos os usuários da plataforma, principalmente para as mulheres. Entre as medidas está a realização de um processo rigoroso de cadastro de motoristas parceiros, envolvendo verificação de CPF, CNH e licenciamento do veículo.

No app, o usuário também pode ativar recursos de proteção, como o compartilhamento da rota para contatos de confiança, gravação de áudio, monitoramento da corrida via GPS e um botão para ligar para a polícia.

Usuários que tenham sofrido esse tipo de violência devem reportar imediatamente para a empresa, por meio do app ou no telefone 0800-888-8999, para que o atendimento e suporte necessários sejam oferecidos.