"Daphne é feminista que nasceu na época errada", diz atriz de "Bridgerton"
Se, como eu, você maratonou "Bridgerton", da Netflix, tão logo a série que se passa no período da Regência britânica apareceu no catálogo, pode confessar: é quase impossível não se deixar levar pela história entre Daphne, interpretada por Phoebe Dynevor, e o duque de Hastings, papel de Regé-Jean Page, o novo crush que atingiu escalas mundiais no quesito paixão platônica.
Criada por Chris Van Dusen, da produtora de Shonda Rhimes, "Bridgerton" é um fenômeno de sucesso: a Netflix diz que é a quinta maior série de todos os tempos lançada pela plataforma e que esteve no topo do ranking das mais assistidas em 76 países, incluindo o Brasil. A série é baseada nos livros de Julia Quinn, que, por sua vez, lembram as histórias retratadas na literatura de Jane Austen.
Daphne é a filha mais velha da família Bridgerton, que precisa se casar e ter filhos, como manda o figurino na sociedade da época. Segue todos os rituais destinados às mulheres que ocupam um lugar como o dela, de se apresentar à rainha britânica a vestir espartilhos sob vestidos pesados que, por sua vez, combinam com penteados elaborados e joias. Ah, e passar seus dias no sofá à espera de um eventual pretendente.
A história muda quando ela conhece o duque de Hastings. Entre muitos bailes da aristocracia britânica e uma relação cheia de conflitos entre os dois, Bridgerton entrega duas abordagens que dão um frescor atual à história: o feminismo e a questão racial, já que parte da aristocracia, a rainha e o duque são negros.
Universa conversou sobre esses temas em uma entrevista com Phoebe Dynavor, a protagonista da primeira temporada da série, na tarde desta terça-feira, por chamada de vídeo. Leia a seguir.
UNIVERSA - Ao olhar para a jornada de Daphne, você acha que ela é uma garota feminista?
Phoebe Dynevor - Eu acho que ela é uma feminista real, só que nasceu no tempo errado - quando infelizmente as opções eram só casar e ter filhos. Mas, é engraçado, Eloise [irmã da protagonista, interpretada por Claudia Jessie] e Daphne são obviamente muito diferentes e Eloise aparece como a feminista mais óbvia na série. Mas Daphne é feminista. Quer muito ter o controle do seu próprio destino, e diz "não" quando sente que não está no controle. Ela nasceu no tempo errado, e tristemente era a única opção que ela tinha.
O que você aprendeu com a personagem?
O que eu aprendi com Daphne provavelmente é que você pode mostrar algo totalmente diferente por fora do que você está sentindo por dentro. O que é engraçado na Daphne é que ela representa a ansiedade que muitas mulheres jovens têm agora com as redes sociais. Ela é basicamente um filtro de Instagram por fora e, por dentro, ela está lidando com muita ansiedade e questionamentos internos.
Em muitos momentos da série, Daphne é o centro das atenções e segue muitos rituais ligados ao fato de ser mulher. Até mesmo usar espartilho todos os dias. A vida das mulheres melhorou?
Me fez perceber que muita coisa mudou, sou agradecida porque nós não precisamos vestir espartilho mais, é ótimo. Você pode comer uma refeição apropriada quando está sem espartilho. Mas também me fez perceber o quê, de alguma maneira, não mudou. O quanto ainda sofremos com o patriarcado e o que é deixado por ele. A pressão sobre ser mulher ainda está aí, mas de uma forma diferente agora.
Eu sou realmente agradecida de ter mais opções do que só casar e ter filhos, mas eu continuo acreditando que tem muitas coisas que devemos direcionar.
Você e Regé-Jean Page têm muita química, nas cenas de dança e nas de sexo. Nos bailes, parece um conto de fadas, e então há uma perspectiva diferente no sexo, em que Daphne pode mostrar seus desejos e na qual é, de certa forma, uma mulher livre. Como foi viver isso?
Foi ótimo mostrar uma história em que uma mulher jovem está encontrando sua sexualidade. Eu acho que nunca tinha visto isso nas telas antes - eu vi homens jovens achando sua sexualidade, mas eu nunca tinha visto mulheres. Então, é importante que jovens mulheres vejam isso, para saberem que elas podem ter os mesmos sentimentos de muitos jeitos. Não devíamos ter medo disso, deveríamos celebrar. Eu realmente amo o olhar feminino da série. Amo ver coisas que eu nunca tinha visto antes, que era na maioria das vezes o desejo masculino.
Eu amo ver as coisas de uma perspectiva feminina. É uma história importante. E essa é a razão pela qual eu me senti confortável fazendo as cenas íntimas, porque elas realmente estavam contando uma história, e não estavam lá por outras razões.
Bridgerton tem elenco diverso, com pessoas negras, uma jovem mulher que decide seu destino, de certa forma, e o roteiro não é sexista, mesmo se passando na época da regência britânica. A indústria do entretenimento está fazendo mais sobre racismo e sexismo?
Acredito que sim. Eu acho que eles deveriam, é uma questão muito importante. Acho que Gregory Doran [diretor artístico da Royal Shakespeare Company] escreveu um artigo incrível sobre isso e ele está tão certo, dizendo que as pessoas que não se veem refletidas em nossa arte não se envolverão com ela. E nossa série vai para tantos territórios diferentes ao redor do mundo, então precisamos buscar incluir e representar todos, para que as pessoas se identifiquem com as séries. Acho que é um ótimo começo na direção certa e espero que haja muito mais disso.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.