"Dediquei a quarentena à masturbação e tive minha primeira ejaculação"
"Claro que eu achei que fosse xixi. Imagina se eu, uma mulher com mais de 30 anos que começou a pensar na própria sexualidade há pouquíssimo tempo, me masturbando sozinha com um vibrador, teria um 'squirting'?
Sou jornalista de Universa e quis escrever sobre minha experiência.
Permaneço no anonimato aqui não por vergonha do ocorrido, mas por não me sentir confortável em falar publicamente sobre algo tão íntimo. Ainda assim, queria contar minha experiência para que mais mulheres saibam: ejaculação feminina não é lenda. E é uma delícia.
Para quem não conhece, 'squirting' é uma palavra em inglês que, entre outros significados, é usada para se referir à ejaculação vaginal. Já tinha lido textos sobre isso aqui em Universa. Antes eu achava que era lenda, coisa de filme pornô. Depois de me informar um pouco mais, entendi que pode acontecer, sim, mas em nada se parece com essa ideia de jato de mangueira. Eu não acreditava que pudesse viver essa experiência. Vou contar por quê.
"Por que eu seria a escolhida das deusas?"
Na primeira vez, senti um orgasmo muito intenso, ondas de prazer que subiam pelas pernas e vinham das laterais dos quadris até minha virilha. Estava deitada na cama, com o massageador de clitóris posicionando e fazendo aquele zzzzzzzzz de vibração.
Já tinha sentido algo parecido antes, mas desta vez foi mais potente. Junto da sensação, ouvi um barulhinho como se fosse o da água escorrendo fraca de uma torneira. Achei que fosse algum fluido, mas senti o lençol molhado. Olhei e estava lá a mancha.
Pensei: por que eu seria a escolhida das deusas? Na dúvida, joguei no Google: "squirting xixi diferença". A primeira coisa que apareceu foi esta matéria de Universa, que também explica o que é, biologicamente falando, a ejaculação vaginal.
Ainda assim duvidei e achei que não se repetiria tão cedo. Mas três dias depois, rolou de novo. E de novo.
Resolvi fazer o teste. Quando me dava vontade de me masturbar, eu ia primeiro no banheiro, fazia xixi e depois ia para o quarto me divertir. Foi aí que aconteceu de novo e eu tive certeza: xixi não era. Eu tinha ejaculado mesmo. Por precaução, comecei a colocar uma toalha de banho na cama toda vez que ia me masturbar.
"Vou ser sincera: não dá para formular um passo a passo"
Falei sobre isso em uma reunião com as colegas de Universa neste mês. A essa altura, eu já me sentia abençoada pelas deusas: tinha passado por essa experiência sete vezes, em média uma vez por mês. O relato anônimo é também para provar que não quero me gabar, mas mostrar que é possível.
A primeira pergunta que ouvi no meio do burburinho de vozes femininas vibrando com a minha conquista foi: "Como você conseguiu?". Acho que contou muito eu ter me dedicado, durante a quarentena, a me masturbar quando tivesse vontade e experimentar novos estímulos.
E vou ser sincera: não dá para formular um passo a passo. Mas é importante dizer que, nesses momentos, eu me masturbava só com estimulação do clitóris, com a ajuda de um massageador (que atinge níveis de vibração que nenhum dedo conseguirá), e me sentia muito excitada. Há relatos de mulheres que ejaculam também durante a penetração vaginal, mas por enquanto estou fiel a esse método próprio, particular e intransferível.
Além do massageador, fui vendo filmes, me tocando, passando o aparelho em outras áreas que não apenas o clitóris. Experimentando mesmo. Lendo as especialistas que já entrevistamos sobre o tema, a conclusão é de que não é um método em si que faz o corpo ter esse tipo de reação, mas o nível de excitação. E como você se excita é uma questão muito pessoal.
"Coloquei meu vibrador para trabalhar"
Isolada em casa, decidi me dedicar a me conhecer mais. Disse para mim mesma que ia fazer como um rapaz adolescente e me masturbar sempre que me desse vontade. Eu não tive isso quando era mais jovem, então terei agora. E coloquei meu vibrador para trabalhar.
No começo, fazia rapidinho e pronto. Depois quis ver se conseguiria experimentar novas sensações. Deixava mais um pouco, tocava meu corpo. Achei que seria legal ter um estímulo visual. Mas não conseguia passar mais de 30 segundos nas páginas de pornô convencional, todas as imagens ali gritavam "violência de gênero": mulher com cara de sofrimento, outras parecendo adolescentes, sempre muito magras e completamente depiladas. Broxante, pra dizer o mínimo.
Fui fuçar no site da diretora Erika Lust, que surgiu com uma proposta de fazer um pornô menos degradante para mulheres. Pude ver um vídeo de graça e adorei. Decidi assinar e, conforme ia assistindo, percebi que ficava muito excitada nos momentos em que as atrizes mostravam estar curtindo muito o momento.
Então comecei a perceber que, pelo menos nesses vídeos, era nesse momento que a explosão de prazer tinha mais chance de acontecer. Mas não era sempre, que fique claro. Apesar de o vibrador ser muito estimulante, tinha dias, e não foram poucos, que eu sequer gozava.
A última vez que rolou foi no começo de janeiro. Fazia dias que eu não usava meu massageador e me deu muita vontade. Nem cogitei toalha, tinha esquecido do 'risco'. Molhei a cama de novo.
"Há três anos, mal sabia o que era orgasmo"
Antes de continuar falando sobre o 'squirting' em si, preciso explicar melhor a minha relação com sexo, porque isso tem a ver com o tema.
A consciência sobre a minha sexualidade aflorou de uns dois ou três anos para cá. Foi quando comecei a perceber que tinha gozado pouquíssimas vezes na vida e passei a tentar entender melhor do que eu realmente gostava. A primeira coisa que cortei da lista foi a ideia de que, por ser mulher, teria que agradar o parceiro a todo custo. Nem me dava conta do quanto isso estava automatizado em mim e demorei pra entender uma coisa óbvia: tem que ser bom para os dois.
Mas percebi que só seria bom para mim se eu me conhecesse mais. A partir disso, comecei a me informar sobre sexualidade feminina, via entrevistas e análises com sexólogas que discutem o prazer feminino (alô, Ana Canosa) e vídeos de especialistas dando alguns caminhos para melhorar nossa saúde sexual, mesmo sozinhas.
Conhecer o próprio corpo, se tocar, saber onde é gostoso de beijar e acariciar são respostas muito pessoais, e não pasteurizadas como o pornô e as conversas ignorantes sobre sexo nos levam a pensar.
"Me dei conta da repressão que sofri ao longo da vida"
Além de uma nova experiência de prazer, me dei conta da repressão que sofri e repeti para mim mesma ao longo da vida. Os homens, desde adolescentes, já são estimulados a se masturbarem, falam sobre isso e o fazem constantemente.
Muitas das mulheres da minha geração mal podiam falar sobre sexo, ainda eram divididas em "para casar" e "para pegar" e cresceram vendo colegas sendo chamadas de putas porque gostavam de transar, quando não eram elas mesmas atacadas por, que horror!, gostar de sexo. E se a gente começasse tão cedo quanto eles, quanto já não poderíamos ter evoluído em relação ao autoconhecimento sexual?
Desde a primeira ejaculação, transei com parceiros e não rolou squirting acompanhada. Não vou fazer disso um dilema. Estar com alguém, ter uma relação sexual com uma pessoa, quando é saudável, é uma delícia. Gozar sozinha com meu massageador de clitóris também. Digamos que é outro tipo de delícia, assim como o orgasmo com squirting. Não quero viver só de uma coisa nem de outra. Mas espero molhar ainda muitos lençóis."