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#MulheresnoBBB: "Brasil não estava pronto para uma trans", diz Ariadna

Ariadna Arantes - Reprodução/Instagram
Ariadna Arantes Imagem: Reprodução/Instagram

Ariadna Arantes, em depoimento a Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

14/01/2021 04h00

Em duas décadas de Big Brother Brasil, apenas uma pessoa transexual pisou na casa: Ariadna Arantes, na 11ª edição, então aos 26 anos. Sua participação durou menos de uma semana, já que ela foi eliminada no primeiro paredão, mas seu nome é mais lembrado pelos fãs do reality do que muito brother que chegou perto da final.

Ariadna - TV Globo/Fred Rozário - TV Globo/Fred Rozário
Ariadna tinha 26 anos quando foi eliminada no primeiro paredão do Big Brother Brasil 11
Imagem: TV Globo/Fred Rozário

À Universa, Ariadna relata episódios de transfobia, conta que teve portas fechadas após o programa e crava: "O Brasil não estava preparado para ver uma mulher trans no BBB. E ainda não está".

"Minha passagem pelo BBB foi muito rápida, durou só uma semana, e eu não vivenciei essa experiência de uma maneira muito boa.

Quando entrei na casa, quis preservar minha intimidade e por isso não contei [sobre a transexualidade] logo de cara. Saí no primeiro paredão, só fiquei uma semana. Lá fora, o público sabia, e acho que interpretou que eu estava mentindo, mas não era essa a intenção. Em uma semana você não se aproxima das pessoas a ponto de falar de um assunto tão pessoal. Cheguei a contar [que sou trans] para alguns poucos lá dentro, mas uma coisa é falar para um ou dois, outra é falar para a casa toda. Então me preservei.

O Brasil não estava preparado para ver uma mulher trans no BBB. Melhorou um pouquinho, mas ainda não está.

Eu tinha 24 anos. Achei que seria muito legal, e queria ganhar o prêmio, claro. Mas não tinha noção da importância do BBB naquele momento. De toda forma, nunca imaginei que seria uma passagem tão rápida.

Li matérias em que pais de outros participantes diziam que, se eu ficasse com os filhos deles na casa, iam me processar. Hoje sei que não daria em nada, afinal eu sou uma mulher, inclusive legalmente. Mas esse tipo de coisa faz com que a gente se sinta rejeitada.

Quando eu saí, fui convidada para participar de um programa de TV junto com a Paulinha [a ex-BBB Paula Leite, colega de Ariadna na 11ª edição]. O motorista que nos buscou no aeroporto implicou comigo o caminho todo e, quando respondi, ele disse: 'Pelo menos eu não cortei o meu pau'. Na minha cara. E na frente de todo mundo. Perdi a cabeça, fui para cima dele, tiveram que me segurar.

Ariadna Arantes BBB - TV Globo/Fred Rozário - TV Globo/Fred Rozário
Imagem: TV Globo/Fred Rozário

Até hoje as pessoas tentam me machucar dizendo que não sou mulher de verdade, que sou traveco. Sempre foi assim, mas piorou com as redes sociais. Basta fazer um fake.

O negócio é foda. Tenho 723 mil seguidores, vejo influenciadores cisgêneros e heterossexuais com muito menos que isso fechando contrato com marcas grandes. Quantas trans participam de campanhas? São poucas, quase sempre no Dia do Orgulho LGBTQ+ [28 de julho] ou no Dia da Visibilidade Trans [29 de janeiro]. E o resto do ano? Ninguém dá uma oportunidade.

Eu não me arrependo de ter participado do Big Brother, mas poderia ter feito outras escolhas, me exposto menos. Existe um preconceito enorme com ex-BBB. Perdi muitas oportunidades de trabalho, de namorado também, porque os homens preferem a discrição [em relação à transexualidade].

A transfobia é descarada no nosso país. Quando as pessoas veem uma mulher trans bem-sucedida, que sabe se vestir, se comunicar, e está num lugar de relevância, ainda esperam ver o estereótipo da trans na beira da estrada, marginalizada, se prostituindo, envolvida em escândalos de assassinatos, crimes de transfobia.

Aí vem eu, preta, cria da favela, uma mulher trans operada, e ainda ex-BBB. Fico me perguntando onde está o meu espaço. Está por aí, só não sei onde. Se você souber, me avisa."

Até a estreia do Big Brother Brasil deste ano, em 21 de janeiro, Universa publica histórias de ex-BBBs que levantaram debates importantes, especialmente para as mulheres.

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