Ligação anônima e reserva de motel: como elas descobriram que foram traídas
"Oi, tudo bem? A gente não se conhece e eu te peço desculpas, mas preciso te contar algo sobre o seu namorado". Foi através de uma mensagem do Instagram que eu, repórter que assino essa matéria, descobri em um passado distante que estava sendo traída. Pela redação de Universa, repórteres e editoras também carregam na bagagem histórias de desastres amorosos — que antes da pandemia costumavam ser compartilhados depois do almoço, tomando um café. Algumas de nós, como é meu caso, lembram exatamente o que estavam fazendo e como se sentiram no momento em que descobriram sobre a infidelidade de seus antigos parceiros ou parceiras.
A sorte é que nenhum mal dura para sempre. E as memórias que se pareciam com um filme de drama, que foram motivo de crises de choro, brigadeiro de panela e porre com as amigas para superar, agora são contadas até com bom humor. E hoje se aproximam muito mais daquelas cenas em que a personagem principal enfrenta um perrengue antes de mudar a perspectiva sobre a vida e ter uma reviravolta positiva (passamos todas bem, obrigada!). É com esse olhar de superação que três mulheres, entrevistadas a seguir, aceitaram nosso convite relembram os detalhes de como descobriram que estavam sendo traídas:
"Ele filmou, sem querer, uma conversa dizendo que tinha reservado um quarto de motel"
Conheci esse ex-namorado no finalzinho de 2017, mas nossa história já começou errada. Eu me encantei, achei que ele era uma pessoa íntegra. Na verdade, não podia estar mais errada. Ele se apresentou como solteiro, quando na verdade era casado. Dizia ser recém-separado e viver com a mãe, mas ainda morava com a ex-mulher. Sem saber disso, levei nosso envolvimento adiante e ficamos juntos por tempo suficiente para ele se separar e nosso namoro ficar mais sério.
Meses depois de estarmos juntos, estava com um intercâmbio para a Argentina marcado e ele decidiu me acompanhar. Eu iria passar seis meses estudando lá, mas o período foi tão ruim que adiantei minha volta. Ele não me passava confiança e passei a ser muito ciumenta. Nós só discutíamos. Ainda assim, quando voltamos para o Brasil, eu estava tão emocionalmente dependente que tomei uma das piores decisões da minha vida: nós fomos morar juntos.
A rotina era conturbada por questões econômicas. Ainda estava na faculdade, então só podia contribuir com algumas das despesas da casa. Além disso, ele trabalhava em um restaurante e tinha contato com muitas mulheres, o que me deixava insegura ao extremo. Um dia, mexendo no celular que nós dois dividíamos para trabalhar, vi no rolo da câmera um vídeo todo preto e dei play para saber do que se tratava.
Quando estava pegando uma carona de moto com um amigo ele, sem querer, começou a gravar com o aparelho no bolso da calça e o áudio foi todo captado. Na conversa, ele dizia que já havia separado um dinheiro para a reserva de motel que faria dali alguns dias, a fim de sair com uma das meninas com quem trabalhava.
Na hora, tive um surto de ansiedade e brigamos muito feio. Ele ainda tentou negar tudo, mas a prova estava tão na minha cara que foi impossível deixar para lá. Acredito que o vídeo tenha sido uma providência de Deus, porque, da forma como estávamos, era possível que continuasse sofrendo e na dúvida por muito mais tempo. Tinha razão em terminar: pouco tempo depois, ele assumiu as saídas e passeios com a moça. Eu voltei para a casa da minha família, continuei estudando e hoje vivo um relacionamento muito mais saudável." Vannessa Araújo, enfermeira, 27 anos, de Feira de Santana (BA)
"Recebi uma ligação anônima, mas preferi não acreditar"
Tive um relacionamento que, ao todo, durou cinco anos: dois de namoro, um de noivado e dois de casamento. Nós tínhamos uma vida tranquila, sem muito ciúmes. Cada um tinha a sua liberdade para sair com os amigos e fazer o que quisesse. Por isso, na minha cabeça, éramos parceiros e estava tudo bem.
Um dia, no entanto, recebi uma chamada de um número restrito. Uma voz feminina disse que eu estava sendo enganada e que o meu marido tinha um caso com outra mulher. Ela disse até o nome da pessoa, que era alguém do meu convívio e que trabalhava no mesmo escritório que ele.
Minha mente, é claro, começou a pensar nisso sem parar. Revivi várias cenas de quando estávamos todos juntos, fiz a conta sobre dias e horários, mas me parecia impossível que fosse verdade. Pensei que poderia ser um engano e deixei a história para lá.
Um dia, quando estávamos casados há apenas seis meses, acordei e ele estava do meu lado mexendo no celular. Vi que estava falando pelo Instagram com uma mulher de cabelo preto, mas que se esquivou quando eu acordei.
Minutos depois, ele foi para a sala e eu permaneci no quarto. Nós tínhamos as senhas um do outro, mas não costumava entrar na conta dele. Naquele dia, no entanto, eu entrei. E pude acompanhar, em tempo real, enquanto ele conversava com a amante, justamente a pessoa sobre a qual tinham me alertado no passado. Nas mensagens, ela dizia que tinha dormido abraçada com uma blusa dele e ele respondia dizendo que ela era a melhor coisa que aconteceu na sua vida. Os dois se despediram com um "eu te amo".
É claro que eu fiquei furiosa. Quando cheguei na sala, brigamos muito. Deveria ter encerrado o casamento ali, mas decidi dar mais uma chance e acabei descobrindo, depois de um ano, uma segunda traição. Para me recuperar do término, tive que mergulhar em um processo muito longo de cura, mas a vida seguiu e consegui me reconstruir completamente". Mayara Cardoso, vendedora, 27 anos, Bauru (SP)
"Sonhei que era traída em uma festa. Chegando na casa dela, encontrei um grupo de amigos e garrafas de whisky"
Quando tinha 15 anos, conheci através de amigas o meu primeiro amor: a menina com quem dei meu primeiro beijo e com quem namorei pela primeira vez. Nós tínhamos muita afinidade, mas, por ela ser dois anos mais velha, percebi que era mais esperta, ousada e que isso, de alguma forma, poderia nos prejudicar enquanto casal.
Logo no início do nosso envolvimento, algumas traições aconteceram, mas como a maioria delas foi com homens, resolvi relevar e dar mais uma chance. O tempo foi passando e a relação ficando mais séria. Ela entrou na faculdade, vira e mexe, ia para a região confraternizar com seus amigos.
Um dia, ela me avisou pelo celular que seu pai tinha ido viajar, mas não me convidou para ir até sua casa. Disse que, no dia seguinte, tinha um compromisso com a família e preferia ficar sozinha. Eu acreditei e fui dormir.
Mas, naquela noite, tive um sonho muito intenso, no qual ela aparecia em uma festa, com um grupo de pessoas, me traindo. Eu sofria e chorava muito. Acordei de repente, assustada e logo de manhã, decidi que precisava ir até sua casa checar se tudo estava bem.
Chegando lá, encontrei o grupo dos amigos de faculdade dela, garrafas de whisky e até uma camisinha usada. Assim que ela se aproximou, notei um chupão no seu pescoço.
Depois de ter recebido um aviso tão forte da minha intuição, terminamos e passamos um longo período sem nos falar. No fim, foi uma experiência importante para mim, porque percebi que as pessoas têm formas diferentes de enxergar os relacionamentos e nem todos estão dispostos a se comprometer. Hoje sou muito bem resolvida na vida amorosa e até retomamos contato como amigas. Não guardo mais nenhuma mágoa". Vanessa dos Santos, 31 anos, autônoma, de São Paulo