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Atriz relata experiência de mulheres trans em apps de namoro: "Exaustiva"

A atriz Gabriela Loran, de 27 anos - Reprodução/Instagram
A atriz Gabriela Loran, de 27 anos Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

23/01/2021 04h00

Novos aplicativos de relacionamento surgem a todo momento, e mesmo os mais antigos lançam com frequência novas funções — mas essas novidades não necessariamente caminham em direção a tornar essas plataformas mais acolhedoras para pessoas transexuais. Gabriela Loran, atriz e influenciadora, relata à Universa sua experiência nos aplicativos, antes de conhecer o marido, há três anos, fora deles.

Gabriela é embaixadora da campanha global de Orgulho LGBTQ+ do app de relacionamentos Badoo. Desde janeiro, usuários da plataforma poderão literalmente dar match com a campanha — para cada um, o Badoo doará um real a instituições de apoio à população LGBTQ+.

"O afeto é negado às mulheres trans..."

"No início da minha transição, me sentia numa caixinha de objetificação. Sempre deixei bem exposto [nos aplicativos] que era uma mulher trans. Eu estava cansada de ficar explicando, ou de dar match e o cara me denunciar. Então sempre me expus. Ao mesmo tempo que isso era bom, poderia ser um perigo, me tornaria um alvo fácil para pessoas que têm um olhar ruim. Poderiam dar um match comigo e marcar um encontro para me ferir, me fazer mal. Graças aos orixás isso nunca aconteceu, mas, ainda assim, caí em situações ruins.

O afeto é negado a mulheres trans, e eu ia para os apps em busca de alguém. Mas era sempre naquela mesmice: eu ficava uma vez, e a relação acabava. Dois minutos depois de ir embora, o cara me bloqueava. Era muito vazio.

Quando isso começa a ficar constante, você percebe que só tem aquilo só tem um intuito: sexual. Pensa: "Poxa, eu não preciso mendigar afeto, eu sei que vão gostar de mim pelo que eu sou". Essas cicatrizes talvez não fechem nunca, mas a gente tem que estar sempre aberta, porque existem muitas pessoas boas. Mas onde elas estão?

Por exaustão, virei a chave. Saí desse lugar passivo e entendi que eu tinha o poder de escolher por quais situações eu queria passar.

Entendi que eu poderia sim ter uma relação casual, claro, mas porque eu queria, e não porque era a única opção que eu tinha, ou porque era o que o outro tinha a oferecer. Entendi que sim, eu sou uma mulher trans, mas não é isso que vai fazer a pessoa dar um match ou cair fora. Quando eu entendi quem eu era, minha experiência nos aplicativos ficou mais saudável. Entendi que eu tinha o poder de escolher por quais situações eu queria ou não passar.

A experiência para mulheres trans nos aplicativos é em grande parte negativa. O corpo trans é muito fetichizado no Brasil. Enquanto somos o país que mais mata, somos também um dos que mais consome conteúdo pornográfico com pessoas trans. O cara que me xinga na rua é o mesmo cara que chega em casa e vê pornografia com mulheres como eu.

"... Mas quero mostrar que é possível"

O que eu quero mostrar no vídeo [da campanha do Badoo] é que é possível. A gente pode sim encontrar alguém. Eu não encontrei meu marido nos aplicativos [Gabriela e Pierre se conhecem em uma praia, no Rio de Janeiro], mas a experiência que eu tive ali, inclusive as ruins, me prepararam para estar com ele hoje.

A gente está cansada de só contar história triste, história ruim. Nem só de dor a gente vive, se não eu nem estaria aqui conversando com você.

O que eu quero mostrar, no vídeo, é que existem momentos de acalento. O mundo pode me destruir lá fora, mas quando eu chego em casa meu marido está lá, me esperando, e eu tenho afeto, coisa tão negada às mulheres trans.

Crianças trans existem e essas crianças não podem crescer ouvindo só histórias ruins. Eu quero que a Maria Joaquina [Reikdal, patinadora trans de 12 anos] veja histórias como a minha e entenda que ela pode ter sucesso profissional e também ser feliz nas relações dela.

Os aplicativos precisam chamar pessoas trans para conversar. Precisam, também, ouvir e ser mais rigorosos com as denúncias que as pessoas trans fazem na plataforma. Existem usuários que só dão match para mandar mensagem te diminuindo, te humilhando. Já aconteceu de eu denunciar um caso de transfobia, em outro aplicativo, e acabar tendo minha conta banida. A mesma coisa aconteceu com outras pessoas trans que eu conheço. As pessoas que usam os aplicativos precisam fazer a mesma coisa: ouvir.