Simone Tebet sobre impeachment: "Não é hora de trazer problemas ao país"
Primeira presidente mulher da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, considerado o colegiado mais importante da casa, Simone Tebet (MDB-MS) começou sua vida política como deputada estadual, há 18 anos. Primeira prefeita de Três Lagoas (MS), também se elegeu como vice-governadora do estado e é senadora desde 2015.
Agora, como candidata à presidência do Senado, é, de novo, primeira: nunca havia tido representante feminina na disputa. Mesmo com sua experiência política, é considerada a "zebra" da lista de candidatos que visam o posto. O nome mais cotado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cujo primeiro mandato político foi o de deputado federal em 2014, é o favorito de Jair Bolsonaro (sem partido) e de siglas da oposição - o PT já declarou apoio a ele. A eleição ainda não tem data definida, mas deve ocorre a partir de 1º de fevereiro.
"Os adversários tendem a diminuir o oponente", diz, sobre a tentativa de desqualificá-la. Em entrevista a Universa, Simone fala sobre representação feminina na política, sobre a crise sanitária provocada pela pandemia e sobre impeachment.
Ela acredita que "não é hora de trazer problemas ao país" e se esquiva quando questionada sobre eventuais erros de Bolsonaro. "Prefiro acreditar que o presidente, que negou a gravidade da pandemia, agora parece que já percebe a importância e começa a fazer esforços da vacinação em massa", diz.
Leia a seguir os principais trechos da conversa da senadora com Universa, feita na quinta e sexta-feira por meio de trocas de mensagens via aplicativo.
UNIVERSA - A senhora foi deputada estadual há 18 anos, depois prefeita, vice-governadora e é senadora desde 2015, onde preside a principal comissão da casa. Mesmo assim, chegou a ser apontada como "zebra" na eleição para presidência do Senado. Por quê?
SIMONE TEBET - Isso faz parte do jogo político. Os adversários tendem a diminuir o oponente. Eu prefiro, ao contrário, não pensar no meu oponente e apresentar proposta para o país, que precisa sair unido desta que é a maior crise política, econômica e humanitária da história do Brasil.
Em relação à crise, quais são os assuntos mais urgentes que pretende tratar caso seja a escolhida para comandar o Senado Federal?
Neste momento o Brasil precisa, com urgência, de planejamento para imunizar a população contra a covid-19. A vacina finalmente chegou, mas de maneira ainda muito incipiente, com poucas doses. Temos de buscar soluções para garantir a universalização dos imunizantes. A pandemia deixou de legado o arrefecimento das desigualdades sociais. Ampliou desemprego. Parou o país. A vacinação da população certamente trará impactos positivos para a nossa economia e para a retomada do desenvolvimento.
Outros temas fundamentais são as reformas tributária e administrativa. Precisamos encarar esses projetos de frente e parar de dar voltas de 360 graus para chegar ao mesmo lugar. Especialmente em relação à reforma tributária, temos de aprovar um texto que garanta justiça, sem aumentar impostos para a população mais pobre e a classe média.
O senador mais cotado para a presidência do Senado, Rodrigo Pacheco, tem o apoio de Bolsonaro. Se considera a candidata da oposição?
Minha candidatura não é nem de oposição nem de situação. É de independência e harmonia a favor do Brasil. Um Legislativo independente para aprovar o que julgar necessário, sem amarras ou compromissos pouco republicanos.
De maneira geral, como avalia a gestão do presidente Bolsonaro?
Prefiro falar dos acertos. Acho que temos de pensar na união em favor do Brasil. Prefiro acreditar que o presidente Bolsonaro, que negou a gravidade da pandemia, agora parece que já percebe a importância e já começa a fazer esforços para a vacinação em massa. Lembrando que temos um problema de insumos e vamos precisar unir Congresso Nacional e Executivo para que possamos conseguir junto à Índia e à China, o mais rápido possível, insumo para produzir as vacinas sem as quais nós não teremos condições de vacinar. As vacinas existentes mal cobrem os profissionais de saúde.
A negação da gravidade da pandemia rendeu ao presidente mais pedidos de impeachment. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem sido pressionado para colocar o tema em pauta. Se a senhora fosse presidente da Câmara, abriria o processo?
Agora não é hora de trazer problemas e sim soluções para o país. Temos uma questão muito maior, que é uma política nacional de imunização. Temos de vacinar em massa para as pessoas voltarem ao mercado de trabalho, para voltarem a ter salário e renda e temos de avançar com as reformas sem as quais o país não vai deslanchar. O impeachment não pode ser bandeira de um presidente da Câmara e do Senado.
A senhora foi a primeira prefeita mulher de Três Lagoas, primeira senadora a presidir a CCJ e, agora, pode se tornar a primeira a presidir o Senado. O que isso representa?
Não é com satisfação que carrego esse título de ter sido a primeira mulher em tantos cargos públicos porque isso representa, também, a tão reduzida participação da mulher na política de modo geral. Claro que o pioneirismo me dá orgulho. Sou consciente do meu papel nessa luta.
O aumento da participação feminina na política é recente e gradativo. Por que, na sua opinião, tem levado tanto tempo para termos mais igualdade de gênero no Congresso?
Estamos no final da fila entre os países do mundo em termos de participação feminina na política. Já superamos diversas barreiras. Aprovamos a política de cotas e conseguimos a garantia de fatia maior dos recursos do financiamento de campanha. Mas os resultados das urnas demonstram que precisamos de mais. Nas eleições municipais de 2020, as mulheres conseguiram apenas 12% das prefeituras e 16% dos cargos de vereadoras. É mais do que o resultado das eleições anteriores, mas ainda é pouco. Números que demonstram o quanto ações de conscientização e valorização do papel da mulher nos postos de comando são importantes.
Ainda sobre isso, há uma proposta que deve ser votada na Câmara dos Deputados para garantir uma porcentagem mínima de 16% de mulheres eleitas nas diferentes instâncias do Legislativo. É a favor dessa medida?
Sim. Quando esse projeto passou pelo Senado, a bancada feminina atuou com afinco para conseguir a aprovação do texto. Agora, entendo que a Câmara está madura para aprová-lo. Queremos a garantia das vagas e não apenas a possibilidade de concorrer. Isso fará com que os partidos sejam mais criteriosos na escolha de mulheres realmente capacitadas e competitivas para ganhar as eleições.
Este ano eu apresentei um projeto de lei que prevê que, ao menos, 30% dos diretórios dos partidos sejam compostos por mulheres. Nas juventudes partidárias, proponho a paridade de gêneros. Entendo que assim, ao longo dos anos, conseguiremos ir mudando a cara da política por dentro. Quando você permite que mulheres participem desse processo de escolha, elas lutarão por candidaturas com real potencial de vencer.
O que uma mulher pode trazer de inovador para o cargo de presidente do Senado que os homens até hoje não trouxeram?
Dizem que as mulheres são mais criativas. Certamente, são mais estudiosas e abertas à negociação e ao diálogo. Eu posso dizer que me considero uma pessoa bem organizada, focada e disciplinada. A mulher tem um olhar diferente, daí o porquê da importância de homens e mulheres na política. Lutamos para que ambos tenham oportunidades iguais de acesso a estruturas de campanha, com condições de visibilidade em rádio e televisão para poderem realmente chegar ao poder.
Nesses dois anos como presidente da CCJ, qual diria que foi o maior desafio enfrentado?
Colocar em votação e garantir a aprovação rápida da Reforma da Previdência. Tema complexo, que mexeu com a vida de milhões de brasileiros, mas necessário ao país.
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