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Mãe raspa o cabelo para apoiar a filha com câncer: vídeo é emocionante

Enquanto raspava o cabelo, Luciana foi surpreendida pela mãe, que começou a passar a máquina nos próprios fios - Arquivo pessoal
Enquanto raspava o cabelo, Luciana foi surpreendida pela mãe, que começou a passar a máquina nos próprios fios Imagem: Arquivo pessoal

Ana Bardella

De Universa

26/01/2021 04h00Atualizada em 26/01/2021 17h01

Nos últimos dois dias, a cuidadora infantil Luciana Rebello Pires, de 31 anos, moradora de Campo Grande (RJ), viu seu número de seguidores quadruplicar. O motivo é a comoção causada nas redes sociais com um vídeo postado por ela, no qual aparece raspando a cabeça em função do tratamento de um câncer.

Na filmagem, a mãe de Luciana, Albenia Gomes da Silva, de 53, ajuda a filha no processo — mas, para surpresa da própria Luciana, a mãe pega a máquina começa a raspar também a própria cabeça antes de terminar o trabalho na filha. Emocionadas, as duas trocam palavras de afeto e incentivo.

Esta não é a primeira vez que Luciana passa pela quimioterapia. Quando descobriu, em 2018, que estava com câncer de colo de útero, ela perdeu o chão. Casada e mãe de duas meninas, uma de 7 anos e a outra de apenas 1 ano e meio, Luciana era responsável por metade da renda da família e sabia que as contas ficariam muito apertadas se parasse de trabalhar. Ainda assim, precisou se organizar e contou muito com o apoio da mãe para de se recuperar do choque e cuidar da própria saúde.

Em entrevista à Universa, ela conta mais sobre sua trajetória:

"O diagnóstico mexeu com as minhas estruturas"

Luciana estava estabilizando a vida financeira quando precisou fazer uma pausa no trabalho - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Luciana estava estabilizando a vida financeira quando precisou fazer uma pausa no trabalho
Imagem: Arquivo pessoal

"Já tinha uma filha de 6 anos quando engravidei novamente. Minha segunda gestação foi tranquila: tive um parto normal, realizado por um hospital do SUS. Antes de me darem alta, no entanto, os profissionais notaram uma alteração nos meus exames de sangue. Acharam que se tratava de uma infecção, tomei um antibiótico e segui a vida.

Somente um ano e meio depois, descobri que, na verdade, gestei minha filha doente e poderia, inclusive, ter tido uma hemorragia durante o parto, o que não aconteceu por um milagre.

Descobri que sofria de câncer de colo de útero porque comecei a ter muitos sangramentos e dores. O diagnóstico chegou dois dias depois do meu aniversário de 28 anos. Foi um grande choque: tanto porque temia pelo futuro das minhas filhas, quanto porque sei que na maioria dos casos, esse tipo de câncer é ocasionado pelo vírus do HPV. Eu, que sou casada há 14 anos, comecei a me questionar sobre a fidelidade do meu marido, já que o vírus é sexualmente transmissível.

Mas cheguei à conclusão de que não seria justo encerrar o casamento por causa de uma possibilidade. Não tenho como saber se, no meu caso, o tumor tem ou não a ver com o vírus — e se o responsável pela transmissão teria sido meu esposo ou alguém do passado, já que a doença pode demorar muitos anos para se manifestar.

Tirando tudo isso, havia ainda a questão econômica: há poucos meses eu tinha voltado a trabalhar. Como precisava cuidar da minha filha pequena, decidi que me tornaria cuidadora infantil e abri minha casa para receber outras crianças. Estabeleci uma rotina e passei a tomar conta de mais de dez crianças entre 1 e 4 anos. A renda se tornou parte importante da nossa sobrevivência e pensar na possibilidade de parar era muito difícil".

"Minha mãe sempre foi meu porto seguro"

Luciana costumava bater de frente com a mãe na juventude, mas o tempo amadureceu seu relacionamento com ela - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Luciana costumava bater de frente com a mãe na juventude, mas o tempo amadureceu seu relacionamento com ela
Imagem: Arquivo pessoal

"Pausei por um período curto de tempo e precisei contar com a ajuda de terceiros para o nosso sustento. Devido às hemorragias, tinha anemia e sujava muitas roupas de cama. As pessoas me doavam absorventes e lençóis. Nessa fase, minha mãe, que já cuidou do câncer de uma das minhas irmãs quando ela tinha apenas 4 anos, passou a viver para mim. Na adolescência, nós tínhamos muitos conflitos, porque somos parecidas em questão de personalidade, mas ela tinha uma mentalidade diferente da minha. Depois da minha doença, no entanto, nossa relação só se fortaleceu.

Fiz algumas sessões de radioterapia e outras de uma químio mais leve. Quando voltei a trabalhar, minha mãe passou a me ajudar no trabalho, nos cuidados com as crianças. Em muitos momentos, foi difícil, porque eu sentia dores, enjoos e mesmo assim não podia parar. Apesar dos efeitos colaterais, a doença pareceu controlada por um ano, até que tive mais complicações.

Por causa de uma estenose no reto, precisei passar por uma cirurgia e hoje uso uma bolsa de colostomia. Nem me incomodei de usá-la, porque antes sentia dores horríveis e graças a ela, minha qualidade de vida aumentou muito.

Além disso, descobri que o câncer tinha retornado e tomado outras regiões do corpo. Desde então, me tornei paciente paliativa e meu tratamento é voltado para o controle da extensão da doença. No início do ano, retomei as quimioterapias e precisei raspar o cabelo, antes que ele começasse a cair sozinho. Foi nesse contexto que minha mãe me fez aquela surpresa.

Quando vi a máquina passando pela sua cabeça, tomei um susto. Não esperava que ela fosse fazer isso. Se soubesse que já tinha planejado, não permitiria que tomasse essa atitude. Justamente por isso, ela fez questão de raspar o cabelo de surpresa, assim eu não tentaria impedi-la.

Minha mãe é uma mulher incrível e muito forte. Desde que descobri sobre o retorno da doença, ela passou a vir para minha casa na segunda de manhã e só voltar para a casa dela na sexta-feira de noite. Uma vez, não atendi a porta e ela pulou a janela de tanta preocupação.

É uma pernambucana arretada, linda e que me surpreende e me paparica todos os dias. Depois do vídeo, conversamos e ela perguntou como eu estava me sentindo diante da sua atitude. Apesar de não concordar, cheguei à conclusão de que faria o mesmo pelas minhas filhas. Amor de mãe ninguém consegue explicar".