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Calma: quem é o casal por trás dos looks mais instagramáveis do home office

Kelly Kim e Adrien Gingold: humor do casal é parte da identidade da marca. - Reprodução/Instagram
Kelly Kim e Adrien Gingold: humor do casal é parte da identidade da marca. Imagem: Reprodução/Instagram

Nathália Geraldo

De Universa

01/02/2021 04h00

Em tempos de isolamento social, seu feed no Instagram é quem tem hospedado as tendências de moda e as grifes que despertarão desejo - papel que, antes da pandemia, pertencia ao street style. E quem é ligado no assunto, já viu famosos e influenciadores vestindo nas redes sociais as estampas ultracoloridas e gráficas dos kimonos, camisas, calças e shorts fluidos da Calma São Paulo.

O diferencial da marca é que 100% das peças não têm gênero, vestem diversos tipos de corpos e prezam, acima de tudo, pelo conforto. A sensação é de estar usando um pijama chique e moderninho - basicamente a fórmula do look ideal para o home office.

Essa democracia do visual é ideia do casal Kelly Kim e Adrien Gingold, que se viram obrigados a dividir as roupas em uma viagem na qual precisavam levar pouquíssima bagagem. Eles garantem que deu certo - mesmo ele tendo o dobro da altura dela.

Cantoras de diferentes estilos entre si, como Iza, Pitty e Manu Gavassi, as atrizes Cleo Pires e Taís Araújo, e a maioria das influenciadoras de body positivity com milhões de seguidores estão entre aquelas que ajudam a viralizar as coleções da Calma, que mudam praticamente mês a mês. "Nossos clientes se sentem parte de uma comunidade em que são livres para viver, para amar e para se vestir", define Adrien.

A comunidade dos "calmers" inclui ainda a identidade de outro grupo que Universa descreveu no ano passado: os "santa ceciliers". Atualmente, é impossível circular pela região sem se deparar com algum menino, menina ou menine usando um conjuntinho da marca. As estampas são identificadas por nomes espirituosos que os "calmers" sabem de cor: "vermelho minha presidenta", em referência a Dilma Rousseff, "gianni", um mix de animal print que homenageia o estilista italiano Gianni Versace, e "abaporu", inspirada na pintora Tarsila do Amaral.

Um amor de Carnaval e várias coleções depois

Manu Gavassi - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Manu Gavassi vestiu camisa da loja durante sua participação no BBB, no ano passado
Imagem: Reprodução/Instagram

Ao contar a história - da marca e a do amor deles - Adrien e Kelly completam respostas e misturam opiniões como se estivessem fazendo um mix de estampas. O humor e o deboche da dupla também é parte da construção da marca. Basta olhar as fotos no Instagram da Calma, onde até nus eles já apareceram para divulgar uma nova coleção, num momento John e Yoko.

É a estilista quem resume a trajetória do romance franco-brasileiro e do surgimento da marca, uma ideia surgida durante uma viagem pelo mundo. "Trabalhei na indústria da moda por 20 anos. Fui costureira, modelista, fui para área de estilo, me especializei em estamparia. O Adrien era jornalista na França. Nos conhecemos em um Carnaval do Rio de Janeiro, e nos juntamos para uma viagem pelo mundo de três anos. Era um tempo para repensar, porque eu já não estava mais acreditando no meu trabalho", recorda.

No Vietnã, trabalharam em uma cooperativa de mulheres que faziam roupas a partir da fibra da maconha, o cânhamo. Kelly fazia modelagens diferenciadas, de peças inteiras, para que elas economizassem tecido e Adrien trabalhava no marketing.

"Um dia, falei para ele que, quando voltássemos ao Brasil, se fosse para montar algum negócio, teria que ter 'calma' no nome, porque era o que a gente estava vivendo. Viajando de moto, só com uma mochila com roupas que eu e ele podíamos usar; a jaqueta vestia os dois. Então, foi o que trouxemos daquela viagem, roupa que é sem gênero e para todos os corpos", conta ela.

Na volta ao Brasil, Kelly vislumbrou peças maximalistas e estampadas com lenços que garimpou na viagem, mas o processo de produção, artesanal e demorado, encarecia a roupa. Então a Calma São Paulo passou a fazer jaquetas. Uma peça única caiu nas mãos da cantora Anitta, por meio de uma produtora de moda e isso fez a marca crescer, eles contam. Por fim, abriu o leque de peças: shortinhos, camisas e os quimonos e conjuntos que, em 2018, entraram como uma tendência de moda.

Existe slow fashion em SP

A empresa segue ainda a proposta slow fashion, vertente que leva em conta valores como sustentabilidade, aproveitamento das peças e fabricação em pequena escala. "Produzimos em pouca quantidade. Se estamos felizes com uma estampa, fazemos produção limitada para também não cansar as pessoas. Quem acorda tarde demais para comprar vai perdendo", brinca o jornalista.

No início da pandemia, o casal estava na França. Ao retornarem, veio a decisão: "Não queríamos vender roupa naquele momento", ele resume.

Kelly explica que, depois que as regras de distanciamento social e de proteção contra o coronavírus ficaram mais claras, eles apostaram nas vendas online e contaram com a divulgação de redes de pequenos produtores para manter o negócio. Agora, seguindo o Plano São Paulo, mantêm a loja física fechada. Mas isso não quer dizer que expansão da marca não esteja nos planos, "porque todo mundo quer usar roupa confortável".

Os "calmores", na versão oficial da marca, deram status de peça-desejo ao quimono. Com ele, o casal também reforça a defesa da bandeira por um look sem gênero.

"Ele pode ser usado na praia, para trabalhar, quando precisa aparecer em uma reunião. E é uma peça não tão comum, que trouxemos para o fashion", diz Adrien, que também já apareceu no Instagram da Calma São Paulo usando um modelo oversized sem short por baixo, como um vestido.

"Para uns vai ser ridículo, para outros, natural. A Calma abre essa possibilidade de se desconstruir." Bem, às vezes um clique sem roupa também tem esse efeito.

É bastante comum, aliás, que eles façam as vezes de modelos na rede social da marca. "No começo, a gente queria mostrar como as peças vestiam, e o fato de sermos nós deu visibilidade, então, continuamos. Mas não foi algo pensado ou estratégia, foi porque não conseguíamos pagar fotógrafo, modelos", diz a dona.

As roupas, no entanto, não se limitam a corpos magros como os deles. "A visão que eu tinha antes da moda era de tamanho menor. Em uma época, eu fazia PP que não cabia nem em mim, que peso 40 kg. Como não tinha modelo, fazia as peças um pouquinho maior, até que tive contato com clientes em feirinhas de roupa, e as ouvi. Aí, fizemos roupas grandes", diz Kelly.

Segundo os proprietários, as peças são de fabricação própria, com equipe reduzida e oficina contratada. "Não terceirizamos nada", diz Kelly. As peças vão de R$ 89 a R$ 200, e são feitas, em sua maioria, de viscose.

Além da identidade nas estampas, a marca traz nomes divertidos para os produtos. "Uma cliente falou que só comprou a peça 'comigo ninguém pode' pelo nome", comenta Kelly. É essa "comunidade de calmores" que faz com que os empreendedores apostem em se manifestar politicamente. "Nos posicionamos politicamente. Aí as pessoas podem gostar ou não gostar", diz ele.