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Coach do sexo, ela dá aulas sobre orgasmo feminino para homens

Aline Castelo Branco é jornalista e educadora sexual - Arquivo pessoal
Aline Castelo Branco é jornalista e educadora sexual Imagem: Arquivo pessoal

Ana Bardella

De Universa

04/02/2021 04h00

Aline Castelo Branco tem 40 anos, é educadora sexual e tem uma missão muito clara: ensinar os homens a dar prazer às mulheres.

O interesse pelo universo masculino começou em 2015, quando reuniu 100 homens em uma sala a fim de ensiná-los a fazer sexo oral em suas parceiras. A atividade era parte da sua pesquisa de mestrado e foi noticiada por diversos sites. Na época, Aline começou a receber e-mails de pessoas interessadas em palestras e convites para programas de TV. De lá para cá, organizou cursos e livros digitais e hoje tem 40 mil seguidores no Instagram. A seguir, ela fala sobre seu trabalho:

Por que os homens procuram suas orientações?

Geralmente, eles vêm até mim com o intuito de melhorar a performance na cama e de entender as mulheres. Muitos deles, quando não conseguem levar suas parceiras ao orgasmo, se sentem impotentes — não no sentido de brocharem, mas de se acharem incapazes, frustrados. A maioria chega de um jeito tímido, mas querendo entender a parte prática da coisa.

Para aprimorar o desempenho é preciso dominar antes técnicas de inteligência emocional, liberar alguns bloqueios. Uma parte enorme do sexo está na nossa cabeça.

O sexo oral é, realmente, a principal dúvida dos homens?

Sim, é a maior das dificuldades. O segredo está em combinar constância, movimento e pressão. Por isso, para ensiná-los, acho mais fácil ir por partes.

Mas é possível dar um passo a passo para quem está começando?

Claro! A primeira etapa é a do beijo: em vez de ir diretamente para o clitóris, o segredo é deixar os lábios entreabertos e molhados e começar pela lateral, dos grandes e pequenos lábios da vulva, mas sem tocar diretamente no clitóris. Isso deixa a região muito mais sensível.

Depois, o homem deve deixar a língua rígida e fazer com ela um movimento do número oito em cima do clitóris. A próxima etapa é o que eu chamo de manobra da ponte: ele deve sugar muito levemente o clitóris e, simultaneamente, penetrar a mulher com os dedos, fazendo movimentos de vai e vem no ponto G. Aí vem a constância: precisa continuar fazendo por um tempo. Vai cansar? Vai, mas também vai valer a pena.

Existem mulheres que não gostam de receber sexo oral. Por quê?

Enxergo o sexo oral como a cereja do bolo. Se o homem começar por ali, ele já garante o primeiro orgasmo da parceira e depois, com a penetração do pênis, ela pode ter o segundo, o terceiro... Mas, de fato, não são todas as mulheres que gostam. Os motivos precisam ser avaliados caso a caso: muitas vezes, a mulher só teve experiências ruins, de homens que não sabiam o que estavam fazendo.

E os tabus sobre o assunto, também atrapalham?

Sem dúvida. É possível que a mulher tenha, por exemplo, bloqueios e traumas do passado. Abusos sexuais podem gerar barreiras nesse sentido. Outra possibilidade é que a mulher tenha sido reprimida pela família durante a infância, com regras de comportamento muito rígidas, ou que sinta vergonha do próprio corpo. Ouvi de uma, certa vez, que tinha candidíase frequentemente e que isso deixava um mau cheiro na região, por isso ela não deixava o parceiro fazer. Os motivos são variados.

Aline ministra palestras em Portugal, onde vive há cinco anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aline ministra palestras em Portugal, onde vive há cinco anos
Imagem: Arquivo pessoal

Como você chegou até esse método?

Sou jornalista e fiz uma transição de carreira. Trabalhei como repórter em grandes emissoras, como Globo e Record, mas em um determinado ponto da vida decidi estudar sobre sexualidade. Fiz um mestrado em educação sexual e levava uma vida dupla, de pesquisadora e jornalista. Tive que abandonar a redação, no entanto, quando recebi um convite para o Programa do Jô, em 2015.

A emissora na qual eu trabalhava não autorizou a minha participação e, para não perder a oportunidade, pedi demissão. De lá para cá, fui me aprimorando com outros cursos na área de sexualidade e de coach. Hoje faço doutorado em psicologia em Portugal, onde eu moro. Com a ajuda de um amigo, juntei esses conhecimentos e mais as minhas experiências profissionais para criar os produtos online.

Por que decidiu falar diretamente com os homens?

Tive um relacionamento de aproximadamente quatro anos em que eu achava que sentia prazer, que tinha orgasmos, mas na verdade não tinha. Eu era uma mulher anorgásmica. Só fui gozar pela primeira vez anos depois, quando conheci meu marido.

Estudando, percebi que antes não gozava porque me relacionava com homens que se vangloriavam demais do desempenho na cama, mas não me davam atenção, não se preocupavam com o meu prazer.

Por isso decidi entender o comportamento masculino. No primeiro experimento que fiz, juntei 100 deles em uma sala e chamei uma ginecologista para demonstrar como uma mulher chega ao orgasmo. Eles acompanharam a explicação enquanto acariciavam uma fruta com os dedos, simulando uma vagina.

Quais foram as principais dúvidas que surgiram nesse experimento?

Coletei alguns dados: naquela ocasião, 45% dos homens presentes não dominavam as carícias que antecedem a penetração. Com relação ao sexo oral, muitos tinham nojo ou não sabiam por onde começar. Outra crença muito comum que foi apresentada é de que a fórmula para levar a mulher ao orgasmo é o vai e vem rápido, quando na verdade o segredo é manipular o clitóris, que tem 9 mil terminações nervosas. Com os toques certos, é muito mais fácil.

Com quantos anos você gozou pela primeira vez?

Sempre tive sensações boas durante o sexo, mas gozar de verdade, só aos 31 anos. Ali eu entendi o que significa o ápice do prazer e vi que é algo totalmente diferente do que eu já havia experimentado.

Existem mulheres que não sabem identificar se têm ou não orgasmos. Você pode descrever a sensação?

Já fui questionada sobre isso outras vezes, mas acho difícil colocar em palavras. É como se você entrasse em comunhão com seu próprio corpo e, se está acompanhada, também com o corpo do parceiro ou da parceira. É uma liberação de energia vital. Se pudesse usar uma analogia, diria que é como um foguete em direção a lua, que quando atinge o espaço, explode.