Gkay, Flay, Lucy: paraibanas como Juliette, elas relatam deboche e descaso
A influenciadora Gkay e as cantoras Lucy Alves e Flay têm algo em comum: todas nasceram no estado da Paraíba. Graças aos seus trabalhos e aparições na TV e nas redes sociais, elas ganharam fãs e se tornaram conhecidas em todo o Brasil. No entanto, as três passaram - e ainda passam - por situações de bullying e preconceito por causa do sotaque e maneira de se expressar, desde que resolveram viver entre Rio e São Paulo.
Ao assistir o BBB, Gkay, Lucy e Flay se sensibilizaram com a situação da participante Juliette. Alvo preferencial dos demais concorrentes do programa, a advogada de Campina Grande tem sido alvo de deboche, descaso e comentários xenofóbicos.
A seguir, Gkay, Flay e Lucy relatam suas vivências de discriminação e dão sua opinião sobre o que vem acontecendo no BBB.
"Se estivesse no BBB, sei que viveria algo parecido"
"De todos os momentos dessa edição do BBB, o que mais me irritou foi quando começaram a imitar a forma de Juliette se expressar, criticando que ela 'fala pegando' e com o tom de voz elevado. Simplesmente essas são características de um povo que eu amo e ao qual eu pertenço: o nordestino.
Então, não. Ela não está se enrolando na hora de falar, minha gente. Os outros é que não sabem ouvir.
Já reclamaram do meu tom de voz, de como articulo com as mãos. Disseram que eu sou escandalosa e forçada. 'Forçada', inclusive, foi a palavra que eu mais devo ter escutado na vida.
Já recebi esse rótulo em todos os tipos de situação possíveis: nos momentos de tristeza, de alegria e até de reflexão. Mas, para um determinado público, tudo que eu faço é tachado assim porque sou expansiva e os outros não admitem isso.
Ouço que não posso ser atriz por causa do meu sotaque. Ou então, que sou 'muito regional', como se, para uma pessoa ser famosa no Brasil inteiro, ela tivesse que seguir o padrão de um Estado. Outros dizem que meu trabalho como humorista só é válido por causa do meu sotaque. Se eu mudar meu jeito de falar, vou perder a graça e a fama.
São muitos os tipos de xenofobia mas, quando você aponta para uma pessoa que ela está sendo preconceituosa, a resposta é sempre: 'Não, jamais. Eu não sou assim'.
Juliette só está sendo do jeito dela e quem assiste percebe até uma inocência, vê o quanto ela é até perdida. Não está fazendo nada por maldade ou para prejudicar alguém. Tenho certeza de que, se eu estivesse naquela casa, estaria passando exatamente pela mesma coisa" GKay humorista e influencer, nasceu na cidade de Solânea (PB)
"Como Juliette, já me senti deslocada"
"Nunca vivi situações muito explícitas de xenofobia, mas o preconceito velado sempre esteve presente na minha carreiraEle se manifestava principalmente quando alguém soltava um comentário do tipo: 'Ah, que sotaque engraçadinho, que bonitinha', como se eu fosse um ser 'exótico' por vir do Nordeste.
Fiquei chocada com as coisas que vi no BBB. Na Paraíba, costumamos ser carinhosos e o toque é algo que valorizamos muito. Minha família toda só fala se tocando, em tom de voz alto e eu adoro isso. Pena que algumas pessoas não sabem receber esse tipo de abordagem e se afastam ou olham de banda.
Mas esse jeitinho de ser é que nos torna especiais. Como Juliette, também já cheguei meio sem jeito e deslocada em determinadas rodas de conversa, evitando falar minhas gírias. Mas isso foi só até entender que eu deveria permanecer forte e ser como eu sou.
Meu jeito de falar é minha identidade, então hoje uso minhas expressões normalmente e, se alguém não entender e tiver interesse em saber, não precisa se aperrear que eu explico." Lucy Alves, atriz, cantora e instrumentista, nasceu em João Pessoa (PB)
"Na escola, preferia não abrir a boca para não sofrer bullying"
"Só falo em Juliette o dia inteiro. Faço isso porque me coloco demais no seu lugar. No BBB, vivi a exatamente a mesma situação de ser excluída.
Como paraibana, sinto que nosso jeito carismático e muito expressivo no primeiro momento cativa. Mas não demora até você ser acusada de ser forçada. No fundo, não acham normal ser assim.
Quando eu estava no BBB, mal dava conta disso. Só fui entender ao ser eliminada, quando vi o que as pessoas falavam pelas minhas costas e os comentários sobre mim na internet.
Assistindo algumas cenas da minha participação no BBB, percebi que se tratava de uma xenofobia velada: aquela que você implica com a pessoa pelo jeito dela, mas não sabe explicar muito bem por que. Já nessa edição, com a Juliette, aconteceu também a do tipo escancarado, que foi a que vimos a Karol Conká fazendo quando disse que ela 'falava pegando'.
No meu caso, o BBB nem foi a primeira vez que passei por uma situação do tipo. Muito antes, já era tida como mal-educada pelo meu jeito. Estava acostumada a vir para São Paulo para trabalhar: bem novinha, aos 16 anos, passei uma temporada pequena estudando por aqui para participar do programa 'Ídolos'. Mas preferia nem abrir a boca na escola, para não sofrer bullying e nem deboche pela maneira como eu pronuncio o 't' e o 'd' e pelas gírias que eu falava.
Muitas vezes chegava nos lugares e sentia que as pessoas me olhavam com preguiça, sem vontade nenhuma de me escutar. Elas não me levavam a sério. Antes eu ficava sem graça e tentava levar na brincadeira, mas hoje percebo o quanto isso é problemático". Flayslane, cantora, participou do BBB 20 e nasceu em Nova Floresta (PB)
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